Pesquisar este blog

domingo, 5 de setembro de 2010

a indústria jornalística perde grandes talentos

não, não está nas capas dos jornais, mas a indústria jornalística perde grandes talentos pela pressa. nessas horas penso em joseph mitchell & seus meses & anos para concluir um perfil. e noto que não é a toa que não se vê grandes nomes do jornalismo atual. hoje, ou os jornalistas dão um jeito de criar em moldes, em grande escala e com rapidez, ou estão fora. dia desses tivemos uma reunião na redação e percebi que a grande pauta era a “baixa na produção.” é claro que o raciocínio é inconsciente, mas é capitalista, é materialista, é equivocado, é de ameaça, é de pressão. me senti um produto, me senti uma operária em uma fábrica: quanto maior o número de frangos eu degringolar por dia, melhor para a empresa, melhor para mim. fácil se usar o lead, a pirâmide invertida. difícil para quem se reporta para dentro e para fora, num aproximar-se e num distanciar-se quase sensual, nesse complexo oficio de escrever. se usarmos moldes nessas horas, caímos fatidicamente no lugar comum. e me desculpe, mas não há espaço para isso no jornalismo literário. queridos, dinheiro se ganha também com um pouco de paciência. e qualidade, nem se fala. posso escrever em série rapidamente, mas julgo que um bom texto literário vale mais do que mil em roupagem de lead. está bem, quem está escrevendo é alguém que sempre esteve do lado oposto. fui “dona” de jornais alternativos como “manifesto cultural”, “moloko vellocet” e “o bobo da corte”. de projetos de jornais como “olhodarua” e do site “o escambau”. durante a faculdade, esperneei por um jornalismo que eu nem sabia o nome. depois descobri algumas nomenclaturas, como jornalismo alternativo, cultural, independente, literário e finalmente gonzo. minha monografia escrevi sobre o gonzo; meu projeto experimental, foi “o anti-herói” – uma grande reportagem literária & gonza. estou do lado mais difícil. daquele lado para onde as pessoas que se dizem corretas, jogam os tomates podres. e como eu tenho asco dos que se dizem corretos. eu já me chamo de extravio para não ter que me abalar quando constato os meus aspectos mais vergonhosos diante do espelho. e eu tento os constatar. eu tento os admitir. e eu continuo numa espécie de luta pessoal e social por um outro jornalismo. sei que me perdi um pouco pelo caminho. mas nem tanto. eu continuo. e digo aos que se deixam vender, assim como eu, de quando em quando, que quem perde com essa atitude não somos apenas nós, mas a sociedade. o jornalismo perde sim grandes talentos, assim como grandes talentos se perdem para puxar o saco do chefe. só que chefes mudam. você terá que se suportar por toda a vida. o jornalismo é uma arte. e como tal, é autoral. o autor precisa e está presente no texto, como parte indissolúvel da obra. o artista pode ser odiado, mas sua obra fica. independente de suas gafes, de suas relações sociais, de seus trejeitos que depõem a favor ou contra ele. ninguém pode saber tanto de um fato, se não de distanciar dele; ninguém pode saber tanto de um fato, se não se aproximar dele. o jornalista é o olho do leitor. se o jornalista se cega, o leitor se cega. portanto, adelante. pegue seu leitor pela mão e o conduza. quero ver até onde podemos ir. se não for assim, me perderei. me terão nas artes plásticas ou na filosofia, mas não num jornalismo de indústria.

Um comentário:

Rachel Kleinubing disse...

Fabita, você arrasa! No texto e na reflexão. É isso aí menina! Vou votar em você.