Ainda estou pensando em como falar de “Proibidão”, de Marcelo Mirisola, sem assustar ninguém. Primeiro vou falar da minha surpresa ao ler “São Miguel do Oeste” entre as linhas do texto “Terapia do Amor”. “Às vezes sinto saudades dos tempos que eu era um chapeirinho sonhador sem dinheiro no bolso e sem parentes importantes, vindo do interior gelado de São Miguel do Oeste, que divisa com a Argentina. Saudades da Alaíde e, vá lá, saudades do Brecão.”
Sim, ele deu uma leve plagiada em Belchior: “Eu sou apenas um rapaz / Latino-Americano / Sem dinheiro no banco / Sem parentes importantes / E vindo do interior...”, mas não estava nem aí. Nunca se sabe quais são os limites entre realidade e ficção de Mirisola. Mistura supostos personagens de sua infância nebulosa com figuras conhecidas nacionalmente, como Padre Marcelo Rossi e Bispo Edir Macedo, em críticas tão rasgadas que imagino estar ele, o autor, e sua editora “Demônio Negro”, imersos em processos.
Nem Paulo César Pereio, ator saído de Alegrete (RS), escapou das garras de Mirisola, apesar dele ser fã de Pereio. O que o autor critica é o apreço do público jovem por caras do passado, como P.C.P. e Cartola, como se tal apreço fizesse apenas parte de um modismo vazio (que redundância), ou coisa que o valha, que não condiz com a realidade desse público.
Esculacha a Revista Piauí – meio considerado como sinônimo de cult hoje em dia – como sendo revista de maurcinho (tive que rir, tem toda razão) e até desdenhou o “baiano profundo”, Jorge Amado.
Não é o tipo de livro e de autor politicamente corretos, ainda bem. Os dois são bastante divertidos, mas também rabugentos. Em quase todos os capítulos, principalmente em “Bangue-Bangue”, Mirisola mostra a sua rabugice. Já em “Um pouco de lirismo” traz crônicas mais amenas, apesar do escracho costumeiro, a exemplo de “Valentina e o Laranja Intenso”.
Se vale a pena? Claro que vale. Não é todo dia que se encontra um autor (ou seria um personagem?) que admite ser adepto do papai-e-mamãe em tempos de atletismos sexuais.
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