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terça-feira, 14 de setembro de 2010

“Gonzo é o jornalismo mais verdadeiro que há.”


Defensor ferrenho do Jornalismo Gonzo, para ele o estilo é o futuro, não somente do entretenimento, como da informação. Czarnobai “desenterrou” esse estilo de fazer jornalismo em sua monografia, feita 2003, e balançou as estruturas da Fabico!

Fale um pouco da tua formação, especializações, áreas de atuação e de interesse:

Eu sou formado em Comunicação/Jornalismo pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas desde cedo senti que não me enquadraria bem no mercado jornalístico – pelo menos não de uma forma convencional. Trabalhei em redações online de portais, jornais e revistas entre 1999 e 2004, e a partir de 2005 me inclinei mais para o mundo da publicidade, onde desenvolvi um intenso trabalho com branded entertainment. Enquanto isso também comecei a me envolver cada vez mais com os universos da TV e do cinema, tendo roteirizado, dirigido e atuado em diversos comerciais, filmes e programas.


Por que escolheu fazer a tua monografia sobre o Gonzo Journalism?

Em primeiro lugar porque ainda não havia uma monografia que falasse exclusivamente do tema em português; em segundo porque eu via no jornalismo participativo em primeira pessoa – independente de possuir ou não o rótulo "gonzo" – o futuro tanto da informação quanto do entretenimento.


Como e quando teve o primeiro contato com o Gonzo?

Não sei ao certo. Na primeira semana de aula na Fabico, fui à uma festa organizada pelos veteranos para os calouros – que aqui chamamos de BIXOS, assim mesmo, com X. Depois da festa, escrevi um breve relato em primeira pessoa como se fosse uma espécie de "enviado especial" misturando ficção e realidade. Imprimi meia dúzia de cópias e afixei em murais, portas de salas, corredores e elevadores da faculdade. Aquilo teve um impacto TREMENDO na faculdade, e me deu o incentivo que eu precisava para seguir fazendo coisas semelhantes. Muitos anos depois, quando o CardosOnline já era um fanzine relativamente conhecido, Daniel Pellizzari (que era também um dos colunistas) me perguntou se eu conhecia o trabalho do Hunter Thompson, pois havia alguma semelhança entre os nossos estilos. Quando fui procurar, me dei conta de já ter lido algo sobre ele em alguma edição muito antiga da Revista Trip. A partir daí li cada vez mais sobre o assunto e me tornei cada vez mais devoto, admirador e praticante.


Como foi pra você desenvolver a monografia sobre o Gonzo?

Bastante difícil: não havia literatura base e nem professores interessados em abraçar o tema – a maioria porque simplesmente desconhecia o trabalho de HST. Tanto é verdade que tive de ser orientado por um professor do departamento de Letras – Paulo Seben – e botei na banca um especialista em cinema – Carlos Gerbase – e outro em novas mídias – Leo Meira. A internet acabou sendo fundamental no meu trabalho. Se ela não existisse, seria totalmente impossível realizá-lo com a qualidade que acredito ter alcançado.


Qual é a importância social de um estudo com este direcionamento?

Nenhuma, imagino.


Sentiu discriminação pela escolha que fez? Sentiu mudanças no contexto em que você vive após a conclusão da monografia?

Discriminação não é exatamente a palavra, mas desde o começo da faculdade tanto os professores quanto meus colegas sabiam que eu não me enquadrava, não apenas ali, mas em NENHUM lugar. Eu sempre pensei diferente da maioria das pessoas, na maioria dos contextos, então todo mundo já sabia que a escolha do tema da minha monografia seria surpreendente. A grande verdade é que até nisso fui subversivo: enquanto todos esperavam que eu fosse fazer algo sobre fanzines online ou internet, eu fui desencavar um estilo jornalístico-literário praticamente esquecido 40 anos atrás. Mas valeu a pena: não apenas fiz um trabalho de que me orgulho como ainda por cima o fiz seguindo à risca a cartilha gonzo. A monografia foi inteiramente escrita em UMA SEMANA de trabalho praticamente ininterrupto, sem revisões ou correções. Do jeito que escrevi mandei pra gráfica.


Pra você, Gonzo é jornalismo? O defende como tal?

Não só isso: gonzo é o jornalismo mais verdadeiro que há. Enquanto no jornalismo tradicional se trabalha com a idéia da neutralidade – algo que inexiste na prática – no gonzo se admite a parcialidade e se deixa isso muito claro desde o início. Não é apenas uma apresentação dos fatos, mas sim um posicionamento destes fatos dentro de um contexto definido, algo que me parece muito mais honesto e honroso do que qualquer formato jornalístico que se possa conceber.


Gonzo é um estilo, um gênero, uma técnica?

Depende muito da tua definição de gonzo. Há quem diga que gonzo é tudo que se faz em primeira pessoa – premissa que permite rotular um subgênero de filmes adultos onde o diretor filma a si próprio em ação de "gonzo porn". Outros defendem que gonzo é tudo aquilo que tem um caráter, uma PARTICULARIDADE muito forte e só pode ser produzido por uma pessoa específica. Há também quem diga que gonzo é todo jornalismo no qual o repórter é o objeto da própria reportagem, ou seja: VIVE uma situação determinada para depois poder escrever sobre ela, algo que se aproxima muito do que no teatro se chama de "method acting". E há quem diga que gonzo, mesmo, só o Hunter Thompson. Botando tudo em uma escala MATEMÁGICA, acredito que gonzo seja um somatório de todas essas coisas, MENOS a parte de ser algo exclusivo do HST.


Em poucas palavras, como você define o Gonzo Journalism:

Redação em primeira pessoa de cunho informativo que mistura jornalismo e ficção de uma forma divertida, irônica ou absurda, elaborada a partir de uma pesquisa ou captação prévia realizada de forma imersiva pelo autor que é, ao mesmo tempo, personagem e narrador.


(Entrevista feita em 2009 para o meu TCC)


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