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sábado, 27 de setembro de 2008

...


Você está vindo? Quem é você?
Quem te assustou? Baby, quem pôde?
Quem foi que te fez assim tão lindo?
Você trará flores ou sonhos roubados?
Quem é você? De onde você veio?
Teu colo é deleite ou espinho?
Tens suspiros de anjos nos cabelos
Lábios gélidos de lagarto do deserto
Nômade, histórias para contar
Canções da antiga New Orleans
Hão de me acalmar... preciso rimar?
Me aceite, sou tua Rainha da Estrada
Cante para mim, corra comigo, amor
Me ame a noite inteira, case comigo!
Com tuas malas desfeitas, mistérios de verão
Teus confins da noite, na minha alma... clarão!

a única amiga



dia desses me dei conta de que sou a única repórter mulher de jornal impresso da cidade, a única zineira e também a única fazedora de curta-metragens que conheço. estranho. para onde será que foram todas aquelas aspirantes? será que sou a única pessoa que seguiu os princípios dos tempos de ginásio? tive notícias de algumas dessas senhoritas. muitas delas se tornaram mulheres parideiras, estão tratando de bacurizinhos ranhentos e do marido tomador de cerveja nos sofás de domingo à tarde.
se lamento? a minha vida ou a delas? não. porém, fico surpresa como não podia imaginar, no auge dos meus 13 anos, que me tornaria uma pessoa tão solitária com o passar do tempo. quanto mais me apaixonava pelas artes, a literatura principalmente – sim, porque todo jornalista que se preze sonha em ser romancista –, mais longe dos prazeres mundanos me punha.
se a literatura rasga mundos internos, rumando novas paragens, ela também nos aparta do lado externo da vida. não que eu saiba escrever ou que conheça tudo o que acho que deveria. não. só a amo simplesmente. tenho nojo das pessoas. que pena. gostaria de poder amá-las e de viver ao lado delas na paz divina prometida do amor. tenho asco, fúria, ódio e rancor em doces doses hipocondríacas. sou, finalmente, incapaz de conviver com outro ser, pois já me tomo paciência demais.


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Nas terras do capataz



“É direito do jornalista manifestar livremente
o pensamento exercendo a profissão sem
censura política, ideológica ou social.

É dever do jornalista relatar as notícias com
clareza e independência, sem levar em conta
os interesses do grupo econômico que edita
o jornal ou dos anunciantes.”

(Código de Ética do Correio Braziliense que
vigorou até 1º de novembro de 2002.)


Imagine um jornal que admitisse em manchete de primeira página que errou e, em página interna, contasse como e por quê. Um jornal em que os jornalistas fossem proibidos de esconder sua condição de jornalistas, mesmo que isso lhe custasse o acesso a muitas fontes de informação.
Pense num jornal capaz de publicar que seu vice-presidente está sendo investigado pela Receita Federal por suspeita de contrabando. E que a empresa dona do jornal foi multada por invadir área pública para ampliar seu estacionamento.
Onde haveria um jornal que jogasse no lixo a entrevista exclusiva com o presidente da República ao concluir que ele nada dissera de importante? Mas que, ao mesmo tempo, reservasse sua edição de ano-novo para ser escrita – da primeira a última página – unicamente por leitores?
Seria possível um jornal ousado o bastante para fazer uma capa semelhante a uma carta de baralho, com dois cabeçalhos, duas manchetes, sendo uma o inverso da outra, de modo que, girando o exemplar o leitor pudesse escolher qual das duas possibilidades tinha ocorrido durante a madrugada? (a vitória ou derrota do Brasil diante da Inglaterra na Copa do Mundo de 2002).
Como crer na existência de um jornal em que a opinião de secretárias, boys e telefonistas pudesse pesar tanto quanto a opinião de um editor na hora de escolher a fotografia ou o título principal? Ou então o impensável: em que jornalistas, que costumam manter distância dos patrões, invadissem a ante-sala do gabinete do presidente de 80 anos de idade para pedir que ele não renunciasse o cargo?
Existiria um jornal assim? Um jornal assim poderia existir?

(Trecho do livro “O que é ser jornalista” de Ricardo Noblat)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

“Leva um sorriso no rosto, brinca com quem brincar”



Apesar dos comentários maldosos de seus vizinhos do Bairro Santa Cruz – de que ela tem cabelo de Bom Bril e usa roupas velhas – a lente do Folha captou a beleza desta menininha que, mesmo estando atrás das cercas do preconceito e da discriminação, vindos principalmente de outros pontos da cidade, mostra que o belo vai além de um novo par de chinelos Raider, podendo andar livremente descalço pelas estradas de chão batido, esquecidas pelo poder público.

(Publicado, em partes, no Clic da Folha em 19 de setembro de 2008)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

carranca



não, não serei eu o anticristo na terra,
mas que espírito ditador o qual adotei!
quando foi será que eu perdi o brilho,
pondo esta carranca no lugar dos olhos?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O Velho Hank já previa



Eu estava sentada em meio a um belíssimo campo verde, que freqüento assiduamente há três anos e meio, vendo o sol ajeitar-se na penumbra de inverno tardio e pensando: “tenho que ir à redação deixar o meu texto 'direitinho'.” Na tarde anterior, eu havia escrito algumas linhas bastante honestas a respeito da minha visão esquerdista, ainda que o texto tenha passado por uma bela camada de censura.
De qualquer maneira, após mudar dezenas de inícios pseudo-triunfantes, havia definido uma versão final, devido ao cansaço... Sim porque matei-me no cansaço, já que foram dois dias de intensa perturbação jornalístico-literário-filosófica, à base de nicotina e cafeína & vice & versa. Após podá-lo como uma boa mãe faz com o filho, encaixá-lo em um molde o menos assustador possível, ir dormir e acordar, lembrei pela manhã que acabara o texto falando em morte, o que certamente incomodaria o professor de Comunicação Comparada II, da minha querida faculdade de Jornalismo.
Precisava refazer o tal texto, ainda que a morte seja realmente o que permeia a minha vida, apesar de todo o meu movimento ser direcionado a ela... precisava mesmo refazer o maldito texto. Afinal, minha fama já não andava boa. Imagino a caricatura que pintam de mim: depressiva, fogo-de-palha, estranha (lembrar que esta parte sofreu censura da metida a escritora – mas que bem poderia mandar artigos para a Marie Claire). Ainda que o tal professor que receberia o texto usasse camisetas com macacos e escritas em inglês que remetem aos Direitos Humanos, ainda que houvesse a possibilidade dele nem ao menos ler o texto, uma coisa era certa: estava tudo errado.
No entanto, ao deparar-me com aquela tela branquinha do computador – instrumento que vejo reluzir desde os meus 12 anos, época em que jamais imaginaria o que aquela caixinha, munida de Word e Paint Brush, poderia causar em minha vida social – começo a escrever mais um texto, deveras esquerdista de novo. Mesmo sentido-me “grande demais em uma casa pequena”, tal como Alice, a minha intuição me puxava para a esquerda, involuntariamente.
Sem textos "direitinhos", peço desculpa a ele caso o que gostaria fosse algo profundamente embasado (desculpe, baby!). E, para ficar menos feio, ou piorar de vez o meu entendimento com o professor, cito um Charles Bukowski, no meio do texto:
O autor Charles Bukowski, grande ícone, mas não associado à chamada Beat Generation, surgida na década de 1950, diz em sei livro “Numa Fria”, que todo o jovem poeta parece pensar que só precisa de uma máquina de escrever e algumas folhas de papel.


“Mas não tem formação, sentimento pelo ofício. Os selvagens tomaram conta do castelo. Não há carpintaria, cuidado, apenas uma exigência de ser aceito. E todos esses novos poetas parecem admirar-se uns aos outros. Isso me preocupa.”


(BUKOWSKI, Verão de 2006)


Não queria preocupá-lo, mas sim dividir com ele o meu sentimento: - Não se engane, olhe debaixo do verniz. Queria que ele soubesse que eu não queria acreditar, mas muitos daqueles que pensamos contar, fazem parte de um novo modismo, que ganha espaço até mesmo na novela das oito, no personagem de um jornalista tendencioso que mora em meio a uma biblioteca empoeirada. Teoria da conspiração? O mundo está realmente mudando? O que está acontecendo afinal?
A Revista Veja, desde o ano de 2002, é obrigada a falar de um presidente do Brasil esquerdista, ainda que meio moqueado entre as críticas e omissões. O Brasil tem um presidente esquerdista? Lula lá? Aquele da estrela vermelha que 1989 era ridicularizado pelos seus rivais e eleitores hoje mais fiéis? O que foi deixado de lado, já que Fernando Collor de Mello era bonito demais para as moçoilas deixarem de votar nele? Sim, é o mesmo. Nos EUA, Obama tenta o carguinho. Um negro. Neo-burguês, girondino, elitizado... mas ainda assim um negro. Ao lado dele, uma mulher. Loira, olhos claros, que não raro diz que o quer apoiar. O mundo está mudando. Mas por que? Teoria da conspiração II, poderia ter uma disciplina disso, afinal, muitas de nossas paranóias tornaram-se reais em pouquíssimo tempo, a exemplo da Guerra do Iraque ser criada por petróleo, sobre o Bin Laden e o Saddam Hussein – desaparecido da mídia desde o início da Guerra do Golfo em 1990 – serem somente um bode expiatório e sobre a China não ser um país que iria substituir a potência mundial Yankee, mas sim aliar-se a ele.
Acho que meu professor entenderá a minha posição, uma vez que enviou um vídeo no final de semana sobre a despreocupação norte-americana a respeito de seu modo de vida, que logo se extinguirá caso não adote um sistema de sustentabilidade (palavra inexistente do dicionário do Word). Com um estilo de vida precário, os EUA terão de buscar os recursos para mantê-lo em outros países, dizia a moça do vídeo. Mas e se não entender, o que pode fazer? Mandar-me para a diretoria, assinar o livro negro, em um modo beeem girondino de agir, que vai contra a própria instituição na qual trabalha? Acho que não, diria um autor mais sádico, no auge de seu abuso de poder.
Aqui muitos professores obrigam-se a ficar quietos e aceitar os desaforos de criaturas mimadas que, por pagarem uns 800 barões por mês, julgam-se futuros jornalistas, a lutar pelo diploma em praça pública. Oras, fui até convidada a fazer cartazes, mas neguei-me quando vi muitas pessoas lutando pela mesma causa e, por conta de alguma experiência em movimentos sociais, notei que esta não era uma boa causa, que haviam terceiras intenções por trás dela, com certeza dinheiro e poder. Saí caricaturamente da sala de aula, doando o meu cargo de panfleteira à outra pessoa.
Não tinha muito bem certeza da minha decisão, mas eis que chego em casa e como boa nerd ligo o computador e o MSN no offline. Vejo, ao lado do nome de uma colega já formada, uma frase toda estroncha a respeito da obrigatoriedade do diploma, algo como “na luta do diploma de jornalismo” ou coisa assim. Quem luta, luta por/pelo. Se é diploma, é de jornalista, segundo o revisor de um jornal do Velho Oeste que não quer se identificar.
Como eu poderia apoiar a formação de pessoas que mal sabem fazer uso das letras? Não teria tanta cara-de-pau. Se cheguei ao 8º período foi um tanto amarrada, pois ingressei na universidade sem saber ao certo o que estava fazendo. Minha família e o colégio diziam que este era o lugar para onde iríamos e nós seguimos como belas ovelhas que somos. Não era um sonho meu.
Uma estrutura toda está montada, o antigo hospital psiquiátrico, estudado pela historiadora Deise Cristina Fossá em seu TCC e revivido pela então jornalista Ana Paula Eckert, precisava de pacientes. No final da década de 1990, quando o Curso de Jornalismo foi montado, atendia a uma demanda específica: tratava-se de diplomar tiozões e tiazonas que estavam imersos há anos na chamada Imprensa Cor-de-Rosa, ou Jornalismo Policial e Jornalismo Esportivo. Hoje, a demanda é outra e o curso até adapta-se às exigências de “mercado”: um bando de jovenzinhos consumidores de All Stars e viciados lixo de Bob’s, na falta de um McDonald’s, que assistem embasbacados no máximo a filmes como Shrek e Tropa de Elite no Mercocentro, mas se dizem “loucos”, ainda mais depois de verem Laranja Mecânica e O Fabuloso Destino de Amelie Poulain na faculdade.
Diante desde breve recorte dos meus pensamentos, acho que sinto-me capaz de dizer-te que devo sim ser da esquerda, mas da minha. Sinto que estou sozinha, apesar de nadar em um mar de semelhantes. Sinto também que muitos sentem-se como eu no seu íntimo e quem sabe pertençamos a um mesmo mundo individualista, que esqueceu-se de como era bom sonhar que voava na infância. Nos escondemos em salas de computadores, tememos relacionamentos reais e nos dizemos livres. Quem sabe não sejamos nós, direitões convictos, abduzidos por síndromes de pânico e egoístas demais para andar na contra-mão.

domingo, 14 de setembro de 2008

Torto & Direito



Tal como Alice, sinto-me grande demais em uma casa pequena, a demolir estruturas e a apavorar vizinhos. Não vejo o mundo, pelo menos o meu, dividido em dois pólos tão distintos (esquerda e direita) a ponto de posicionar-me inteira. Em mim, há de haver um girondino e um jacobino, além de milhares de outros personagens opostos a brigar. Sou girondina de família e jacobina de estrada, pois, cansada de carregar a árvore genealógica droite nas costas, decidi livrar-me dela, mudar de cidade e adotar pseudônimos.
Ainda que temporariamente, fui gauche na vida e aliei-me sem contratos a outros supostos gauches como eu. Mas mesmo sentados na mesma mesa, tomando do mesmo cálice e discutindo a mesma literatura, vi que haviam diferenças cruéis entre nós e por vezes preferia o silêncio a disputar um canto no falatório intermitente de arroubos intelectuais, movidos por mera vaidade.
Depois de algum tempo, voltei à casa abandonada onde estou até hoje, dormindo burguesa, confortada em meio a lençóis girondinos e bebendo do vinho inimigo, a observar as bandeiras enumeradas a balançarem no ar e a gravar com os olhos placas de 1,99, tentando compreender os comentários dos moços e moças do tempo de cada esquina.
Meu olhar é distorcido, vejo através de óculos de grau comprados na melhor ótica da cidade, porque me disseram que eu precisava deles; assisto O Pica-Pau na TV de plasma, tela LCD; trabalho no jornal de direita, da cidade de direita, de ruas de mão direita; estudo na mais cara universidade do Velho Oeste e entro todos os dias na pequena nave espacial mais jeitosinha do sul do mundo, onde costumo ouvir conversas inteligentíssimas e empolgantes a respeito de calças jeans de R$ 500, número 36 ou 38.
Porém, tento manter-me em minha bolha, apesar da levé en masse endoidecida, tentando caçar-me desde os meus 13 anos. Como poderiam eles compreender o porquê daquela menina trilhar teimosa as paragens mais impossíveis, jamais trilhadas, ou vistas por eles de longe, do alto de sua pressa atrás de dinheiro? Não sou mais a mesma, eu bem sei, hoje ouço Replicantes no meu computador de grandes memórias e faço fanzines de CorelDRAW, mas ainda assim sou um alienígena verde que vive no porão de casa e é mantido pelos pais. Liberté, Egalité, Fraternité! Aos 6 anos conheci Beatles; aos 7, Elvis Presley; aos 13 lia Nietzsche, sentindo o cheiro das canetas sabor morango das coleguinhas a assinalar a opção correta dos testes da Capricho. Não quero parecer arrogante, mas queria realmente alguém para conversar. Hoje, aos 24, hoje tudo o que sou é até moda, mas continuo sem ter com quer conversar. Desisti das pessoas e denominações, já sei o que é “certo” e “errado”, “torto” e “direito”, “branco” e “negro” e “bom” ou “ruim”. Com o peso de décadas não-lineares nos ombros, carregados de Jazz, Blues e Rock n’Roll, Beats Generations e Flowers Powers, Brigittes Bardots e Godards, Tropicálias, Secos & Molhados e Pornôs Chanchadas, Punk, Glam Rock e Pós Punk, Baladinhas dos Scopions e Giseles Bündchens, sinto-me com 60 anos e pronta para morrer.

domingo, 7 de setembro de 2008

esta velha angústia



esta velha angústia,
esta angústia que trago há séculos em mim,
transbordou da vasilha,
em lágrimas, em grandes imaginações,
em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
transbordou.
mal sei como conduzir-me na vida
com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
se ao menos endoidecesse deveras!
mas não: é este estar entre,
este quase,
este poder ser que...,
isto.

um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
estou doido a frio,
estou lúcido & louco,
estou alheio a tudo & igual a todos:
estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
porque não são sonhos.
estou assim...

pobre velha casa da minha infância perdida!
quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
que é do teu menino? está maluco.
que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
está maluco.
quem de quem fui? está maluco. hoje é quem eu sou.

se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
por exemplo, por aquele manipanso
que havia em casa, lá nessa, trazido de áfrica.
era feiíssimo, era grotesco,
mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
júpiter, jeová, a humanidade —
qualquer serviria,
pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

estala, coração de vidro pintado!

fernando pessoa



quinta-feira, 4 de setembro de 2008

a quem possa interessar...



quanto já foi dito & quanto já foi feito, mas o que realmente vale a pena ser dito & feito? diria o pessoa que tudo vale, mas então teria eu uma alma muito pequena. sim, de fato ela é medíocre. tornou-se uma alma adulta, esqueceu-se de sua mais tenra idade (mas alma nem tem idade!), época em que pouco diluía-se em pensamentos, preferindo o puro deleite que o momento oferecia. sim, já é uma alma adulta &, com o passar do tempo, mais silenciosa ficou & o tédio conheceu. quem diria?! medíocre, adulta, silenciosa &... tediosa. dura verdade. a verdade de alguém que foi lançado no mundo, como tantos, sem ter a mínima noção do certo & errado, que vive debatendo-se nos cantos escuros de sua consciência, consciência essa que alguns dizem seguir um padrão universal. oras, teria a consciência humana um padrão, límpido, reluzente & não suscetível ao meio que o cerca? bilhões de bocas com trilhões de filosofias, cada qual defendendo veementemente a sua. medíocre, adulta, silenciosa, tediosa... perdida. alô, poetas, o que vale a pena ser dito? expliquem melhor a alguém que está longe de ser “pessoa” algum(a)... alô, filósofos, o que vale a pena ser pensado? penso, penso, penso & receio não saber de absolutamente nada & não me chamo sócrates. alô humanos, o que vale a pena ser feito? digam a esse animal que ainda segue seus instintos mais primitivos. então, enquanto eu não souber, limito-me a não tagarelar mais & bancar o vegetal. medíocre, adulta, silenciosa, tediosa, perdida... vegetando, por tempo indeterminado. alô, senhor deus, mande-me minha missão por escrito, avaliada, assinada, carimbada, registrada, rotulada, selada, etc & tal, que esse seu filho aqui não entende mais da linguagem dos anjos. em uma fase de intensa contemplação, fabita ex-vênus nas peles (o meu amor morreu, mas era tão miserável que não teve onde cair...).

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

recorte



...do lado de fora da janela, a fumaça das fábricas, frigoríficos, abraçavam as begônias do jardim do vizinho. pobres begônias, fediam a titica de galinha. de rosa, passaram a ser levemente acinzentadas, mas quem liga? as begônias eram ignoradas por quase todo mundo, ainda que raras por aquelas bandas. a não ser pela sua dona, dona lurdes. mas quem disse que begônias possuem donas? begônias são livres, assim como os operários das fábricas, só que nenhum, nem outro eram percebidos. porém as begônias ainda levavam vantagem: pelo menos a “dona” delas se preocupava com questões pequenas como vida & morte das begônias...