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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Nas terras do capataz



“É direito do jornalista manifestar livremente
o pensamento exercendo a profissão sem
censura política, ideológica ou social.

É dever do jornalista relatar as notícias com
clareza e independência, sem levar em conta
os interesses do grupo econômico que edita
o jornal ou dos anunciantes.”

(Código de Ética do Correio Braziliense que
vigorou até 1º de novembro de 2002.)


Imagine um jornal que admitisse em manchete de primeira página que errou e, em página interna, contasse como e por quê. Um jornal em que os jornalistas fossem proibidos de esconder sua condição de jornalistas, mesmo que isso lhe custasse o acesso a muitas fontes de informação.
Pense num jornal capaz de publicar que seu vice-presidente está sendo investigado pela Receita Federal por suspeita de contrabando. E que a empresa dona do jornal foi multada por invadir área pública para ampliar seu estacionamento.
Onde haveria um jornal que jogasse no lixo a entrevista exclusiva com o presidente da República ao concluir que ele nada dissera de importante? Mas que, ao mesmo tempo, reservasse sua edição de ano-novo para ser escrita – da primeira a última página – unicamente por leitores?
Seria possível um jornal ousado o bastante para fazer uma capa semelhante a uma carta de baralho, com dois cabeçalhos, duas manchetes, sendo uma o inverso da outra, de modo que, girando o exemplar o leitor pudesse escolher qual das duas possibilidades tinha ocorrido durante a madrugada? (a vitória ou derrota do Brasil diante da Inglaterra na Copa do Mundo de 2002).
Como crer na existência de um jornal em que a opinião de secretárias, boys e telefonistas pudesse pesar tanto quanto a opinião de um editor na hora de escolher a fotografia ou o título principal? Ou então o impensável: em que jornalistas, que costumam manter distância dos patrões, invadissem a ante-sala do gabinete do presidente de 80 anos de idade para pedir que ele não renunciasse o cargo?
Existiria um jornal assim? Um jornal assim poderia existir?

(Trecho do livro “O que é ser jornalista” de Ricardo Noblat)

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