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terça-feira, 29 de junho de 2010

da loucura

“estive doente

doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.

dos olhos que viram mulheres formosas

da boca que disse poemas em brasa

dos nervos manchados de fumo & café.

estive doente

estou em repouso, não posso escrever.

eu quero um punhado de estrelas maduras

eu quero a doçura do verbo viver.”


(de um louco anônimo – transcrito por caco barcellos

na reportagem crime & loucura, folha da manhã.)


Campos de Morangos Para Sempre

(The Beatles)

Deixe-me te levar
Porque eu estou indo aos
Campos de morangos
Nada é real
Não há por que esperar
Eternos campos de morango

Viver é fácil com os olhos fechados
Sem entender o tudo que você vê
Está ficando difícil ser alguém
Mas tudo parece funcionar bem
E isso não é muito importante pra mim

Deixe-me te levar
Porque eu estou indo aos
Campos de morangos
Nada é real
Não há por que esperar
Eternos campos de morango

Acho que não tem ninguém na minha árvore
Quer dizer, deve estar alto ou baixo
Ou seja, você sabe que não pode entoar
Mas tá tudo certo
Assim, penso que não é tão ruim

Deixe-me te levar
Porque eu estou indo aos
Campos de morangos
Nada é real

Não há por que esperar
Eternos campos de morango

Sempre, não, às vezes, acho que sou eu
Mas você sabe que eu sei quando é um sonho
Penso, óbvio, não quero dizer, óbvio, sim
Mas é tudo tão errado
Isso é que eu acho que eu discordo

Deixe-me te levar
Porque eu estou indo aos
Campos de morangos
Nada é real
E nada de ficar pendurado sobre
Eternos campos de morango
Eternos campos de morango
Eternos campos de morango

(Eu Enterrei o Paul)

solstício de inverno


sei que vou repetir incontáveis vezes ainda, olhando para o céu dos teus olhos: não é justo, não é justo e não é justo. e quem foi que disse que o mundo é justo? estou me dissolvendo num sol lilás retrógrado, ouvindo rock progressivo e bebendo whisky nessa terça-feira do velho oeste. o sopro difuso acariciou as montanhas e chegou até mim, décadas engoliu, décadas fermentou etílico. fecho os olhos e estou numa grama verde interminável. o céu é amarelo, minha aura é vermelha. veja. palavras ecoam; poemas bailam no ar com os pirilampos diurnos. eles são viajantes de outros mundos. seus corpos, naves espaciais. teu rosto se apaga lentamente. pouco a pouco, não lembro mais de ti. vê, você sumiu. espero amigos para o chá, que será servido nos campos de morango para sempre. minha constelação combina com a tua; meu nanquim celestial, meu universo em relevo, de veludo rosa, de ruído macio, minha casa na colina, lendas uivantes, tudo paira no labirinto da minha cabeça, árvore crescente no suplício da manhã. não entre, não bata, me deixe onde estou. parada no ar do meu cobertor, miúdos corpos na cama vazia do jardim. silêncio e respiração profunda. absurdos & saudades, vivências passadas, outras moradas. vaga, vaga esqueleto de fendas. vaga impróprio. vaga solo no solstício de inverno. tua estação floresce primaveras. teu cabelo é colorido, tua roupa, transparente. vaga. teu licor violenta gargantas. teu licor, violeta. não teremos fim enquanto sonharmos. não teremos fim com nossos corpos em frangalhos. não viraremos pó, não seremos consumidos pela terra, não nos matarão, não nós, jamais nós, espíritos de luz.


(trecho irracional de uma mente em relaxamento)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

vinda

“que a mudança grande chegou com o fogão e a geladeira e a televisão”. com ela, alguns sonhos empacotados para viagem, que terão que esperar; palavras duras como: vou-estar-aqui, siga-o-seu-caminho, isso-é-uma-despedida, não-houve-nada, que-venha- a-próxima; poucos rostos que valem a lembrança e um pouco mais de música: “quero ter alguém com quem conversar alguém que depois não use o que eu disse contra mim”.

domingo, 27 de junho de 2010

vícios com rancor, meu amor

é um misto de amor impossível & mero exercício literário no vazio dessa noite de domingo. me preparo para a viagem, rio grande amanhã, buscar minha mudança, minha bagunça. queria te ver. não vai acontecer. só gosto do que não posso ter. perdigueira, mulher contraditória. encomendei o livro do carpinejar. não vejo a hora dele chegar. mil matérias para escrever, estréias essa semana, eu em cartaz. rá. sem sono essa noite, só vícios & rancor, meu amor.

(de)componho

músicas de cabaré em espiral na cabeça já pesada de orgias. trocaria todas as noites nos bares por uma noite ao teu lado. uma despedida, um adeus caloroso, um começo sem meio e fim, uma chance de não deixar isso tudo morrer. a consciência de toda uma vida na ponta dos dedos. aqui, eu inteira, esperando o momento de agir, de me deixar entrar. bato na tua porta, toco a campainha. intrusa, desvendo tua solidão & a minha. do décimo primeiro, flutuamos. me deixa tocar no teu rosto, num ritual de almas, de lábios perfeitos um para o outro, que não se encontram há tanto tempo. vaporosos, sentimos a noite & as horas são séculos. vim de trem, vim no vento, segui o resto de amor guardado no peito. sou da cor que me pintar. “sou tua deusa, meu amor”. viajei no tempo, meu espaço é teu quarto, teu corpo, meu esconderijo. faço casa no teu cobertor, anarquias no corredor, rimas pobres com teu falso amor. perdi a decência na última esquina, tento escolher as palavras para não te assustar, fracasso. só sei falar as minhas verdades: te amo. volto ao mundo cruel. consumo mais um cigarro, uma bebida barata, durmo para esquecer. morri. nada mais do que uma flor mofada no canto da sala.


(acesso inexistente de um lapso de amor)

sábado, 26 de junho de 2010

detalhes

ontem, antes de dormir, lembrei de todo aqueles pequenos momentos, pequenos agrados, em todos aqueles dias em que estivemos perto um do outro. daqueles selinhos dados nas esquinas, os braços dados, os bilhetes & cigarros que eu deixava na tua mesa, sem esperar nada em troca. do livro que te dei, da dedicatória mais valiosa, de todas as mensagens trocadas nas noites vazias. é difícil não lembrar e não considerar tudo aquilo. pelo menos para mim. as ruas eram tão nossas quando passávamos. será que tu não lembra de mim quando passa, só, por elas? ainda bem que não fui eu que fiquei, porque eu lembraria de ti em cada lajota da calçada...

notche

hoje, morrison & depois the beetles, de buenos aires, no 14 bis. isso se eu estiver inspirada. mas preciso garantir o meu free na revista, embora tenha conseguido emprego em um jornal da cidade agora. vai ser bom fotografar os shows e escrever sobre essas noites. veremos.

"se tudo passa como se explica"...

e não me arrependo de nada. de ser um andarilho errante, de voltar para a minha charleville milhares de vezes mais, de ter experimentado a inconsciência. sou culpada e não guardo ressentimentos. em circunstâncias semelhantes, faria tudo de novo, para chegar nesse momento e constatar que, apesar de tudo, eu vivi, eu viajei, eu amei e inspirei cada partícula de vida dessa estrada. mas admito: para todo aventureiro, há sempre uma estrada cativa, um personagem que fica. e você ficou; aquela parada ficou na memória, aquele amor ficou. mas vai passar, vai passar.

fatos doces

apesar de ter nascido, como tantos, uma criatura pode passar a vida toda tentando existir. tentando existir quando se esconde, tentando existir quando escolhe, tentando existir quando trava contatos, tentando existir quando desiste, naqueles dias em que a vida permanece, mas que o sopro está tão fraco, que parece apenas esperar a morte de todos os sentidos. mesmo assim, a vida continua. mesmo com toda a energia gasta, consumida por saudades insuperáveis, paixões fulminantes e claro, pelas iras, decepções, violências. sei que estou viva no fim dessa noite, apesar de todo o sentimento oprimindo nesse velho coração. não falo em fatos isolados; falo da soma de todos os fatos desagradáveis desse meu mundo. mas, é claro, ocorreram fatos doces. fatos doces que trazem o novo. mas fatos doces, meu bem, fatos doces não criam poesia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Morrison Bar











Hoje inaugura o Morrison Rock Blues Bar, na Rua Guaporé, antigo Orange. Tocam na noite, Rick Boy Slim e Blue Sensation, de Florianópolis. Lá vou eu cobrir para a revista. Aguardem minha crítica e muitas fotos.

Let it roll, baby, roll!!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

alarde


minha cabeça lateja. parece que meu coração foi transplantado para a nuca. maldição. minhas opções são as piores. vergonha até de mencionar. há de ser só o começo. espero. lembrei de ti. odeio lembrar de ti. o problema da lembrança é a mania de seleção. a lembrança escolhe somente o que foi bom para guardar na memória. vontade de sair para a rua e sentir o vento na cara e o sol no rosto. sorte seria te encontrar. mas tenho matérias do meu free para entregar. queria pegar um filme para me distrair, mas não tenho um tostão. queria um cigarro, mas cigarros não salvam vidas. vou tomar um café e me afundar na desordem, minha desordem típica. te encontro numa dessas noites e vamos voltar ao que ficou, para no outro dia esquecermos de tudo e cairmos nas nossas vidas de sempre.


até mais ver.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Inveje meu pisante


Viciei em Plínio Marcos. Acabo de ler “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, depois de ter lido “Uma Reportagem Maldita (Querô)”, “Navalha na Carne”, “Quando as Máquinas Param” e ter começado a biografia “Bendito Maldito”, escrita por Oswaldo Mendes, que não vejo a hora de devorar (o livro, que fique bem claro). Já falei tanto dele, nem sei se me falta algum comentário ou adjetivo, mas é que Plínio me inspira. Gosto dos cenários simples e rústicos que ele apresenta em suas peças. A linguagem direta, as gírias de rua, o temperamento esquentado dos personagens, que ora tentam dialogar, ora caem na pancadaria. “Poff... E o cara caiu que nem um balão apagado”, diz uma das falas de Paco, um dos perdidos na noite suja.
E não é pancadaria por simples pancadaria. É a vida do gueto sendo mostrada para uma elite leitora ou espectadora. Um par de sapatos, como pivô de uma briga. Um par de sapatos, como salvador de vidas. Como se um “pisante” novo pudesse mudar todo um contexto social doente, em que estão submetidos Pacos e Tonhos do Brasil.
Tive a sorte de ver a peça “Dois Perdidos Numa Noite Suja” em ação, com o melhor ator de Chapecó, senão o melhor do oeste catarinense, Jonas Martins, que agora interpreta os malditos em palcos da cidade de Cruz e Souza. E que saudades que me deu.
Foi ele quem me apresentou, indiretamente, Plínio Marcos. Mas é claro que ele não está nem aí. Odeia ser considerado ou elogiado, principalmente em noites perdidas de bebedeira. Tanto Plínio, como Jonas, são caras que vivem na margem de seu tempo, falam o que muitos querem dizer, só que não dizem por medo das reações, medo da censura que não acaba nunca.
Não vejo caras mais dignos de admiração do que esses dois, unidos por paixões em comum: o teatro, a literatura e os quartos de hospedaria de última categoria; desunidos pela geografia, pelos anos, pela morte, pelo acaso ou pelo destino. Jonas, sou cria tua. Plínio, quando crescer quero ser como você.

Título: Dois Perdidos Numa Noite Suja
Autor: Plínio Marcos
Categoria: Teatro
Ano: 1966

A estrada das pulseiras de prata


O caminho das drogas não é dourado. A conseqüência desse rumo, marcado por seqüelas irreversíveis, são as pulseiras de prata, como são chamadas as algemas na prisão. Depois da euforia, o efeito da droga é só um: a marginalidade. E, uma vez nela, as chances de se ter uma vida digna ficam cada vez mais distantes.


No caso de Preta, as drogas a levaram para a cadeia. “Minha família foi a rua. O que eu aprendi, o que eu sou, foi a rua que fez.”


No labirinto escuro

Preta* não quis dizer seu nome real para não passar por X-9 ou cagüeta, como chamam na gíria o fofoqueiro. Ela sabe que a revelação de algumas informações e da própria identidade pode levá-la da cadeia direto para o cemitério. “Como diz o ditado lá da rua: ‘Em boca fechada não entra mosquito.’” Aos 28 anos, há poucos dias no Presídio Regional de Chapecó, ela não quis aparecer, mas aceitou conversar, contando como e por qual motivo acabou em uma sela de prisão. Resolveu falar porque acredita que quanto mais preencher a cabeça, a droga “não chega a entrar na veia”, ou seja, não tem tempo para sentir a falta do vício.
“Minha vó sempre dizia: ‘Ninguém quer entrar nessa vida, mas isso acaba acontecendo.’” Sua infância não foi a ideal. Desprezada pelo pai, Preta foi registrada apenas com o sobrenome da mãe, mas tem apelido em casa e apelido na rua. “Eu tinha mágoa, porque minhas irmãs tinham tudo e eu não tinha nada. Acabei fugindo de casa quando tinha de 12 para 13 anos. Conheci um cara e por causa do ciúme, a gente vivia brigando.”
A droga chegou das mãos de uma colega. Preta começou cheirando cocaína (pó). Depois de quase ter uma overdose, parou. Disso, passou para a maconha, da maconha para o crack (pedra). “A pedra é bem diferente das outras drogas, ela vicia mais rápido e é muito difícil sair dela.” A presidiária fala no crack ainda como parte do seu presente. “Eu controlo. Não chego a vender minhas coisas para comprar pedra. Eu uso, mas posso ficar sem. Não sou obcecada ou obsessiva.”
Depois de começar a usar drogas, ela conheceu pessoas que disseram que poderia ganhar dinheiro vendendo entorpecentes. “Daí eu pegava, cinco, dez gramas, num dia. Tirava minha parte do lucro para manter a minha filha.” Atualmente, ela tem 4 filhos: uma menina com 14, um menino com 11, outro com 6 e mais uma menina com 3 anos – a única que está em casa, com o pai de Preta. Os filhos não são todos do mesmo genitor. Um deles está preso, outro foi morto recentemente por um grupo de amigos, por causa de droga.
Ela nunca “puxou cadeia” por tráfico, a não ser por furto, seguido de tentativa de homicídio, quando tinha 18 anos. “Por droga é a primeira vez que eu caio. Peguei quase três anos de condicional. Fui roubar um cara e ele pulou em cima de mim. Os outros que estavam comigo saltaram e eu fiquei. O cara tentou fazer sexo comigo. Eu finquei a faca nele. Como ele era rico, era minha palavra contra a dele.”
Teve pouco estudo, não chegou a fazer a 3ª série do Ensino Fundamental. “Só sei o suficiente para me defender na rua”. Moradora de área irregular no Bairro São Pedro, sua casa foi toda roubada, “da noite para o dia”. “Levaram minha casa inteira, fiquei com uma mão na frente e outra atrás.”
Já trabalhou como doméstica, mas esse foi o único ofício que conseguiu até hoje. “Tanto currículo que mandei para as empresas, mas as portas sempre se fechavam. Ligavam para mim dizendo: ‘Vem fazer a entrevista que você vai começar a trabalhar.’ Quando chegava o dia seguinte diziam: ‘Não, não vai ser mais preciso.’”

“Buraco sem saída
– que é esse da droga.”


O meio encontrado para viver foi mesmo a droga, e dela, veio a prostituição. “Quando usava drogas, conseguia vender o meu corpo. Depois que passava o efeito, eu chorava. Pensava: não quero essa vida para mim. A finada vó falava: ‘mulher prostituta, nos primeiros tempos, todo mundo quer; depois de um certo tempo, ninguém mais quer, fica mal falada.’”
Sempre mencionada, a avó foi uma mãe para ela, dos 12 anos em diante. “Ela falava que na rua eu iria encontrar muitos pais e muitas mães para dar um tapa; para dar comida, seriam poucos.” Na rua, encontrou tipos diferentes de amigos. “O amigo que não quer te ver na pior e o amigo que quer te botar num buraco sem saída – que é esse da droga. Minha família foi a rua. O que eu aprendi, o que eu sou, foi a rua que fez.”
Aprendeu com os estranhos. Morou no litoral catarinense, em cidades como Florianópolis e Balneário Camboriú. Em São Paulo, foi menina de rua; No Rio de Janeiro, transportava drogas e era olheira. “Eu era o olho. Furtava e vendia.”
Voltando para Chapecó, decidiu mudar. Trouxe muito dinheiro “de tanto bater carteira de argentino”. “Fiquei três anos sem passar necessidade, mesmo que não existe essa de não passar necessidade: ainda que tu tenha muito dinheiro, sempre falta alguma coisa.” Planejou ter uma família. Sonho que veio por água abaixo. “Querem que eu mude, que eu seja alguém, mas ninguém quer que você olhe para o presente. Querem sempre olhar para o teu passado, para a tua sujeira, para o que você fez ou deixou de fazer. Você começa a fazer aquela escadinha do bem e quando vê, chega uma ventania e derruba tudo.”
Nesse mundo nada acolhedor – em que ela crê que o dinheiro compra tudo, menos a felicidade, o caráter e a vida –, Preta caiu principalmente por se sentir suja. Aos 13 anos foi estuprada. “Entrei em pânico. A droga foi quase uma psicóloga para mim. Usava drogas para não lembrar do que tinha me acontecido” Agora, diz que ela mesma é sua psicóloga.
Sem mais a intenção de vender drogas, recentemente a atividade voltou a fazer parte de seu cotidiano por necessidade. Sua mãe se acidentou de moto, lesionou gravemente um dos pés e um dos braços e teve várias escoriações no rosto. “Minha mãe está por ferro na cama. Minha filha precisava das coisas e eu nunca deixei faltar nada a ela.” Foi pega com 117 pedras de crack e, se for condenada, ficará presa por 3 a 6 anos. “Mas na sela, as gurias dizem que vou ficar de 6 a 15 anos. Se for assim, vou apodrecer aqui.”
Fora da cadeia, vai ser ainda mais difícil, mas ela não pensa em voltar para as drogas. “A gente é desprezada por ser pobre – mesmo que ser pobre não é defeito; por ter ficha suja.” Se tiver uma chance, conta que pretende aproveitar. “Quero ser, como o sempre fui, o braço direito do patrão. Sou confiável. Não tiro nada de ninguém, para ninguém tirar de mim.”
Por alguns minutos, Preta, usando as chamadas pulseiras de prata (algemas), deixou a preocupação com a mãe e com os filhos de lado para contar a sua vida, que agora se adapta aos novos dias. Achou amigas e acha que a prisão não é tão ruim como dizem. “Agradeço a Deus por tudo que eu tenho. Dizem que a cadeia é o bicho; que o ‘marrocos’ (o pão) dá pra quebrar a cabeça de um; e que não dá para engolir a ‘areia’ (o açúcar), mas não é bem assim.”
Na cadeia, ainda no castigo, não pode sair nem para ver o sol. Mas ela não se sente a única culpada por estar nessa situação. O tráfico é explicado de maneira simples por Preta, mais uma vez através de uma máxima da avó: “Se não tem o comprador, não tem o ladrão.”

Fechando as grades

O gerente do Presídio Regional de Chapecó, Earle Serrano, diz que de 80 a 90% das prisões ocorridas em Chapecó acontecem por uso ou tráfico de entorpecentes. Para ele, que tem 21 anos de carreira, a questão da droga na cidade está ligada ao aspecto econômico.
“A grande maioria do usuário se torna o pequeno traficante porque compra cinco pedras de crack, por exemplo, fuma três e vende duas para comprar as outras cinco”. O homem, geralmente, vê no tráfico um serviço em que o ganho do dinheiro é mais rápido. “Se trabalhar hoje em algum lugar, ganha em torno de R$ 500 a R$ 600 por mês. Se vender de oito a dez pedras de crack, a R$ 50 ou R$ 70 cada, ganha o dinheiro imediatamente. Como muitos vendem de dez a quinze pedras de crack por dia, ganham mais do que ganhariam com um salário digno.” No caso das mulheres, ao mesmo tempo que se envolvem nas drogas, acabam também caindo na prostituição para sustentar o vício.
A “festa” ou “zoeira”, segundo o gerente, é outro motivo que atrai as pessoas para o tráfico. “Um cara fumando atrai outros fumantes, e aí a festa fica fácil. Quando doido, pratica assalto e se acha dono do poder e pratica outros delitos. Geralmente, o usuário se torna traficante por estar drogado.”
Ele acredita que dentro do Sistema Capitalista tudo é visto pelos bens que uma pessoa possui e não pelo que ela é. “Ter um bem melhor do que o do outro é razão de se vangloriar, de status.” A melhor divisão de renda e educação são possíveis soluções para esse problema, na visão de Serrano, além da implantação de casas de recuperação de qualidade e gratuitas em todo o Brasil ao passo que, de acordo com ele, 99% das casas de recuperação existentes no país são particulares.

“E a droga lícita,
o remédio, faz a euforia”,
lança Serrano


“O Estado não tem condições de dar atendimento a altura que o viciado precisa. A pessoa aprende a usar drogas nas casas de recuperação, se torna um usuário consciente, não chega a ter mais overdoses, só que continua usando; ou para de usar drogas, mas passa a usar medicamentos controlados. E a droga lícita, o remédio, faz a euforia.”
O Presídio Regional de Chapecó não tem dados específicos sobre o número de pessoas que são presas em virtude do uso ou do tráfico de drogas. Serrano alega que no sistema prisional não há funcionários suficientes para fazer o levantamento de dados. “Assim, não há condição de trabalhar na prevenção do uso e tráfico de drogas. Vamos empurrando com a barriga. Nem mesmo a Polícia Militar nem a Polícia Civil têm esses dados.” O presídio não possui também assistente social e psicólogo. Outro problema enfrentado é a superlotação. Com capacidade para 100 detentos, o presídio abriga entre 260, 290 e 300 detentos.
A maioria dos presidiários detidos por tráfico, foram pegos com menos de meia dúzia de pedras de crack. A explicação está em lei, que define como traficante todo aquele que estiver em posse de mais de 100 gramas de droga. “O grande traficante é mais esperto, mais estudado, tem mais poder econômico.”
Um negócio que cresce cada vez mais, pois a droga está em todas as classes sociais. “Toda as classes usam drogas, mas nem todas deixam transparecer. Hoje, se bebe em qualquer classe. Mas há quem beba socialmente, então se torna um bêbado social. Grande parte da população carente fuma maconha socialmente. É um estímulo diário. E aí vem também uma cheirada de crack para estimular o trabalho pesado. Não é legal, mas para ele não é imoral.”

A arte da conscientização


O tema das drogas será representado através da peça de teatro “Labirintu’s” no dia 24 de junho, a partir das 19h30, no Lang Palace Hotel. O ingresso para a peça é um agasalho. O evento é realizado pelo 2º Batalhão da Polícia Militar e pela RBS TV, responsável pela campanha “Crack, Nem Pensar”.


* Apelido fictício.

domingo, 20 de junho de 2010

Amores efêmeros

Algo que tenho observado com certo espanto é a banalização das relações, a banalização do contato, do beijo, do sexo. Não quero parecer nostálgica ou saudosista, embora possa o ser, mas havia um tempo (e não faz tanto tempo assim) que certas intimidades eram como pactos sagrados entre duas almas, e não somente troca de fluidos, roçar de bocas & línguas, membros que se encaixam e se distanciam com a facilidade dos impulsos.
Vejo a rapidez com que o contato se firma, com que o pacto, já então efêmero, se dá, com uma roupagem de ritual banal, cotidiano. Etapas são puladas, como se houvesse apenas a necessidade física se consumando e a importância que se dá ao ato é tão rasa, que não sobrevive ao dia seguinte.
Minha percepção é mais ampla. Considero os afagos, os afetos, os contatos. Talvez eu tenha estacionado na época dos amores à moda antiga, quem sabe eu queira fossificar a lembrança e a relevância do primeiro amor, quando não havia apenas a necessidade do corpo, mas também a necessidade de se vivenciar e acreditar no amor, de planejar e conviver, de pensar em um futuro ao lado daquele ser que, gentilmente, cedia fluídos.
Os beijos vinham acompanhados de maquetes imaginativas de casas com grama verde, e eles eram dados debaixo de árvores frondosas, jamais entre fumaças & gritarias de uma noite de rock em um pub da cidade. Não sei, mas acho que prefiro permanecer com o amor à moda antiga, deixa-lo viver, nem que seja na memória corroída pelos anos.
Nessas horas, lembro-me daquela letra de música (daquela banda que nunca gostei muito) – formato mínimo – e entendo perfeitamente essa nova realidade de noites compartilhadas sem o mesmo calor dos sonhos que tínhamos nas antigas. O que para um é uma experiência divina e única, para outro é simplesmente mais uma, entre tantas.
Está cada vez mais difícil encontrar pessoas com parâmetros menos vazios, que tenham o desejo de compartilhar suas vidas e solidões. Dedicamos ao outro apenas uns momentos calculados, milimetrados, cronometrados de nossas existências. Não nos deixamos conhecer, conhecer nossa desordem diária, nossas crises de mau humor, nosso entusiasmo diante daquele ser, como se isso fosse repreensível, feio, ultrapassado.
Somos corpos, com toda essa vida contida, latentes por algo que não chega a acontecer. Nos encontramos e partimos, como formigas, criaturas minúsculas que promovem o desapego o tempo todo em nome de uma liberdade nem sempre doce. Talvez haja medo, talvez haja danos, mas as relações humanas, ainda que antigas, são a parte mais deliciosa dessa vida. E não conhece a vida completamente quem não se dá ou não tem outra vida, habitando concomitantemente com a sua.
Sim, estou cansada daqueles que passam sem deixar vestígios. Estou cansada das bocas nervosas, das mãos que não trazem flores roubadas, das histórias sem rastros de todas as noites. Sim, eu ainda quero o sagrado, a grama verde, nem que ela tenha começo, meio e fim, mas quero vê-la nascer fosforescente debaixo da árvore dos nossos sonhos.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Ex-Colega

É difícil acreditar e mais difícil ainda entender o ser humano... Outro dia (em plena segunda-feira) demitiram uma colega minha. O espanto foi geral por se tratar de uma excelente profissional; dedicada, competente, responsável, inteligente, sabe, todas aquelas qualidades necessárias para ser um bom profissional, então, pois ela possuía todas estas... E mais, talvez fosse uma das pessoas mais verdadeiras que conheci. E aí me pergunto: Por quê?
Como alguém com todas estas qualidades pode ser mandada embora do trabalho?
Será que alguém assim é uma ameaça para a empresa? Pode ser uma espécie de alienígena, monstro ou terrorista?
É impossível compreender, menos ainda aceitar que essas coisas aconteçam, é tão difícil encontrarmos pessoas honestas, sinceras, dedicadas, e estas são as que são impedidas de exercerem a função para a qual estão preparadas. Estas são as mais visadas, as consideradas “exceções”. Talvez exista um pouco ou muita rebeldia em suas atitudes, que são uma forma de demonstrar toda sua indignação diante das injustiças, da falsidade e da falta de caráter.
É muito mais fácil comandar um grupo de baixa-cabeça, de sim-senhora, de pois-não, você-que-manda, do que conviver com alguém de personalidade forte, com caráter e atitude. Elas podem ser uma ameaça para o Reino, e isso dá medo...
Atitude talvez seja a palavra que eu usaria para defini-la. Alguém que não tem medo, que tem raça, garra, vontade... Alguém que serve de exemplo para muitas pessoas acostumadas a só fazerem o que lhes for mandado. Ela é diferente, não por ter os cabelos vermelhos e usar All Star, é diferente pela ousadia, pela força, é diferente porque é ela. E quer ser ela. Não vive à sombra de ninguém, é dona da própria vida. Não fala mal de ninguém, não critica por prazer, não acusa sem ter prova...
Eu tento, mas é impossível aceitar que para algumas pessoas, ela não seja um exemplo a ser seguido. Acredito que dignidade, coragem e determinação são sim qualidades admiráveis. E por isso digo a ela: “Aqui não é mesmo lugar para você! Vá! E espalhe por onde passar, sua força, sua garra e determinação! Não pare! O jornalismo precisa de você, e Carazinho é pequena demais! As pessoas são pequenas demais...”

(Crônica que ganhei de presente de um eterno colega. Não sabia que eu podia despertar afeto e admiração, mas pelo jeito despertei. E era só o meu começo. Obrigada para quem fica e que tem caráter.)

deslocado

"decididamente sou mesmo um deslocado. vejo meus amigos tão perdidos quanto eu. vejo o entra e sai dos bares. penso "o que é que eles tão buscando?" eu já quis tanta coisa e não deu certo. penso nos últimos quatro anos. tudo o que eu quis nesses quatro anos. e não consegui. os anos do furacão. ele continua batendo na minha porta com insistência. ele tá querendo derrubar minha porta. me escondo em minha trincheira. tenho uma garrafa de vinho e um canivete de escoteiro. não tenho muito o que fazer com eles. pelo menos posso abrir a garrafa de vinho com o canivete."



(mário bortolotto)

domingo, 13 de junho de 2010

eu, pessoa densa

foi um dia de grandes silêncios, entrecortados por caio fernando, david goodis e sua garota de cassidy, ana carolina vertendo brasas difíceis de engolir, lembranças e mais lembranças, idéias atrofiadas, tédio, marasmo, mesmice. disse não às presenças, aos telefonemas, aos ouvidos e bocas alheias. dia difícil. eu, em descuido, eu, em suspense, em rocks mal elaborados, vertigem, cigarros rachando gargantas, até a noite chegar, lenta, calmamente, meu calmante noturno. minha raiva ainda é grande, raiva viva na injustiça, amor apagado dentro do peito, memórias de uma vida antiga. mesas vazias, vestígios do que havia ali, não existe mais. eu sou toda silêncio. estou te matando em mim. estou me matando em mim. ouço tuas gargalhadas bêbadas daqui, vampiro do espaço sideral, vulgarizando meus verbos sinceros, meus infinitos poemas pensados. eu, pessoa densa, eu, viúva tensa de emoções que não sentimos, eu, saliva e tato e abraços apertados e ouvidos encaixados no teu peito, baladas infindas de jorros de sangue. ninguém mais te ouvirá bater. ninguém mais, como eu fazia. tuas conversas maléficas não abarcarão a tristeza e no vazio da sala de concreto ouvirá meu nome e sentirá meu cheiro nas paredes do quarto e eu estarei aqui, do outro lado da montanha, na casa que não te habita, no canto em que tu não está, lembrando do que não fomos e lamentando cortes, sem suportes suficientes para comprar uma nova alegria e um novo começo. estarei estéril e inata, olhos vagos na janela, no teto em que tu não mora, no porão em que você já não povoa. encherei a cara até ver a dor transformada em violência, beberei do teu cálice a licença de pensar em ti ao menos, nas minhas noites frias e sem sono, messalina dos jardins, amante dos pilares. nossos espíritos incompatíveis, nossos sonhos opostos nas metrópoles aladas, nossos corpos que não se encaixam, nosso ponto de equilíbrio jamais encontrado. amaldiçoarei tua rotina, desejarei ordem na minha, vivendo em confusões ortográficas, a cada linha, uma biografia. te amarei com meus punhos cerrados, meus olhos vazando pedaços de dores que tu não sente. é o fim de uma carreira de golpes trêmulos, seguidos de chãos sem tapetes, vãos de letras, sonetos. eu seguirei só, sem prometer minha boca em nenhum corpo (nojo, ojeriza de humanos). perturbarei tua ordem, entrarei nas gavetas provocando tornados, encharcarei de lama tua branca mobília e farei arte em teus sapatos. anarquias divinas nas madrugadas insones, e véus de ilusões nas tuas razões e conformes, e esculhambarei teus artigos, manchando-os de preto. e, no fim de tudo, antes mesmo de sair da cama, te perdoarei como insana que sou e recordarei só dos bons momentos, pensando tê-los ainda no vão dos dedos.

sábado, 12 de junho de 2010

te guardo sim, amor

aprendi grandes lições de amor hoje. amor complacente, amor paciente, que nada espera e tudo dá. aprendi, mas não sei se um dia conseguirei praticar. meu orgulho e minha ira são tão grandes, às vezes tão maiores do que o meu amor... minha precipitação, meu corte inesperado, minha desistência, meu cansaço, meu tédio, meu ódio e indiferença. queria ter e dar paz, queria amenizar, plantar e ver florescer, poder conviver sem vaidades, sem acessos de fúria, sem picos de humor estranho, excessos. tenho tendência à repulsa, ao enjôo, ao entojo, à solidão. minha experiência é tão solitária e desalmada, desarmada de condescendência. nessa noite, sinto saudade e amor menos possesso e vontade de dizer que perdôo todas as bizarrices do mundo, mas não volto atrás. sou humana e admito minhas fraquezas. nem sempre sou capaz de voltar. as pessoas mais simples me têm, as menos orgulhosas e incansáveis. as outras, se afastam, deixam de tentar. sou uma ilha, mas diz um amigo meu que humano nenhum pode ser uma ilha. sustento mágoas aterradoras, traumas, feridas, talhadas fundas e incicatrizáveis. e deixo mágoas e deixo feridas, mas também deixo amor. hoje, desconfio, vi o grande amor da minha vida passar. tão mudado, tão outro, tão dela... não o reconheci. nós, ligados por outras vidas, eu, tua mãe de ferro em outra encarnação – te amo ainda e vou amar para sempre, de um jeito ou de outro. e sei que vai me amar, como jamais amará outra pessoa. fato que não explica nossa distância e nosso desvio de olhares. poderia ser tão simples, poderíamos completar 50 anos juntos e morrermos em paz, só que tu sabes que não é assim. eu escolhi o mundo em detrimento do amor de um homem; eu escolhi a estrada, escolhi a aventura, a novidade, a outra estação. mas nunca amei homem algum como te amei e descobri isso há pouco tempo. o amor não é apenas homem-e-mulher, amor é mais que isso. reservo o outro amor por ti. reservo o amor universal, palavra casta e compreensível em qualquer lugar do globo, te guardo sim, amor. assim.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Aqui vai um título de efeito

Ainda hoje – e não raramente – encontramos resquícios de como foram as relações inter-étnicas no Velho Oeste. Uma relação conturbada, equivocada, que era baseada de um lado pela crença no trabalho penoso, no acúmulo de bens, no colocar cercas para separar o que é meu do que é teu e no poupar para um futuro que não chega; Do outro lado, não querendo enviá-los para o campo dos anjos, mas talvez já enviando-os, afinal tenho minhas propensões íntimas, estavam aqueles que aproveitavam o hoje e amanhã viam o que fazer, aqueles que gostavam de passar suas horas não medidas por engenhocas e que deleitavam-se em aconchegantes redes improvisadas debaixo de uma sombra preguiçosa.
São vulgarmente conhecidos por vadios, vagabundos, bugres, na forma bem pejorativa da palavra. Já os anteriores, recebem nomes pomposos como colonizadores, desbravadores, empreendedores, cuja bugrada era o alvo fácil para conseguirem fisgar seus sonhos mais... digamos... ambiciosos.
Quem sabe não se possa julgá-los já que foram criados sob uma lógica que enaltece o sofrimento, pois através dele é que a alma se purifica e purificando-se é que se chega mais perto do Reino prometido, o Reino de Deus, o Deus que devemos temor porque castiga ao menor sinal de pecado. Pecado... pecado é não trabalhar, relaxar, ser feliz e descansar. Matar, apossar, roubar, enganar... isso não é pecado. Esse Deus não condena violência, estupro, genocídio... isso são só pequenas coisas, percalços do caminho... caminho torto.
Como iniciei dizendo, nos nossos mais insossos dias podemos encontrar pequenas pistas do que foi essa estranha interação. Ouve-se dizer que os índios e caboclos não merecem terras porque eles não sabem cuidar, ao contrário dos italianos e alemães. Que negrada, que rima com cagada, com bugrada e com caboclada, se não faz na entrada faz na saída, tirando-lhe o mérito até nas mais braçais das tarefas. Bugrada, negrada, caboclada, cagada... adágio mais que vagaroso... ladainha interminável que alguém tem que por um fim. Então declaro: Esse é o fim, meu amigo, o fim... pelo menos para esse inacabado texto.

(Texto antigo de Antropologia)

nem nuvem, bem brisa

o nojo tornou-se físico,

nem nuvem

pairou no estômago,

nem brisa, nem nada.

nojo fundo, veio a furo,

foi expulso das entranhas

com força, em vôos rasantes.

e, pouco a pouco,

a serenidade

foi encontrando espaço,

e eu fui encontrando

o meu espaço

e agradecendo a partida...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"please don't take my sunshine away"

ao som de “you are my sunshine”, com johnny cash e bob dylan


talvez eu esteja insistindo em algo que acabou, que morreu, algo que não significa nada para nenhum de nós. estou confusa. realmente não entendo teus sinais e acho que sei o que isso significa. é o não, vindo lento e incisivo. me sinto debilitada, com as forças chegando ao fim. espero respostas que não chegam; espero o amor que não existe. se é não, diga não, pura e simplesmente. essa negativa mascarada se esconde atrás de um medo que eu não compreendo. é um não parecendo sim, é um sim querendo dizer não. nessas noites frias, lembro de ti e dos teus abraços, teus beijos de fúria e das trilhas sonoras, que parecem ter sido feitas para cada uma das nossas horas. eu, sob teus cuidados, quando você retribuía os carinhos e tudo ainda parecia tão fácil, quando bastava apertar a campainha do 1105 e ver teu sorriso e tua voz dizendo o meu nome. acabaram-se aqueles velhos dias. perderam-se com a minha mudança que não encontrou endereço. se não fosse por ti, eles, os dias, teriam sido apenas de penumbra. agradeço e sigo em frente, até que você me chame ou me ache outra vez.