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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fé(zes)

A minha vida inteira tenho notado que as pessoas que se dizem mais religiosas são, na verdade, as mais perversas. Apresentam traços fortes de egoísmo e de preconceito, criam amizades por interesse e possuem forte apego material. Acredito que a religião é usada como um recurso que lhes daria, erroneamente, a possibilidade de serem perversas, como se elas, ao se proclamarem religiosas, tivessem uma espécie de aval para tanto. Frases inacreditáveis são proferidas pelas bocas dos ditos apegados a deus, mostrando desrespeito às diferenças, desrespeito ao ser humano. Afinal, que deus é esse que se agarram? Jamais me disse religiosa. Por um longo tempo, me disse atéia, tamanho era o asco que sentia ao ver religiosos se achando superiores, a ponto de tratarem pessoas como eu como lixo. Superioridade? Quem pode se dizer superior em um mundo tão efêmero, em que todos nós estamos fadados à cova? As melhores pessoas que conheci não eram religiosas. As melhores pessoas que conheci não tinham grandes certezas. As melhores pessoas que conheci não pertenciam aos templos, aos reinos, à alta sociedade. Quantas mortes foram, são e ainda serão justificadas pela religião? Quantos mais serão massacrados por seguidores de uma suposta fé? 

terça-feira, 26 de julho de 2011

para onde foge a vida?




para onde vão as pessoas quando morrem? depois de tanto falarem, as gargantas ficam simplesmente mudas. as mãos, que tocavam baquetas, escreviam à exaustão sobre amor e dor, já não se movem mais. para onde vai a energia, a vibração das gargantas e o calor das mãos? o universo do corpo se decompõe, fibra após fibra, célula após célula. mas para onde vai o desejo, o frio na barriga, as borboletas no estômago, o arrepio? para onde vai o perfume capturado no ar, todas as imagens de todos os anos vividos, os sabores inconfundíveis, das manhãs e bebedeiras, os sons fisgados no vento? para onde vai a vida quando o corpo morre? o coração, quando cansado de morrer de amores busca outras paisagens. mas para onde vai o coração cansado e suas batidas em compasso intermináveis? as vozes metamorfoseadas com o passar dos anos, os anos, a infância? para onde vai a infância quando o corpo morre? para onde vai a infância quando o corpo cresce? quando a palavra de ordem é mate ou morra, para onde foge a vida?

aos companheiros de geração mortos pelo vício.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

8ª Maravilha do Mundo

"...Não se conhece bem um homem que nunca deixou a barba crescer. Digo isto sem preconceitos, porque não mais pertenço a confraria dos barbados. Mas estou convencido de que se conhece mal um homem que nunca deixou irromper na floresta de seu rosto, o outro, o selvagem, o agente adormecido, o hirsuto... Há mulheres que, tendo conhecido a sabedoria erótica da barba nos lençois do dia, nunca mais se contentarão com a banalidade barbeada de outros amores... Indizível prazer é esse de confiar a barba. Inconsciente. Ritualisticamente. Enquanto se lê, enquanto se aguarda o outro dizer uma frase estúrdia, enquanto se toma um vinho ou se afaga o cão junto a lareira, e fechando, bem dizia Walmor Chagas outra noite num jantar quando se discutia a metafísica da barba: a barba é uma mascara como no teatro; é outro em nós, um modo de o personagem se experimentar em cena..."

.Trecho extraído do livro Que presente te dar de Affonso Romano de Sant'ana.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

para quem precisa retomar o gosto pela vida

Os falsos meninos do rock

Nunca imaginei meus amigos do rock cantando e tocando sertanejo universitário. Acredito que meus amigos, que verdadeiramente curtem rock, os roqueiros de verdade, jamais fariam isso, nem se estivessem passando fome.
Do rock ao sertanejo universitário há um longo caminho, um caminho de disparidades ideológicas. Não é possível que alguém que se diga roqueiro mereça esse título se na primeira oportunidade se vende a um modismo comercial. Quem se vende, não ama o rock, não o tem como filosofia de vida, não o conhece, não o respeita. Quem se vende tem apenas o dinheiro como filosofia, o que é lamentável.
A música como mero comércio perde o sentido. É preciso haver amor pela música, não tratá-la como um objeto qualquer. A música é uma entidade que deve ser respeitada e o rock também o é. Se o rock não se revolta contra os que o desrespeitam, que se revoltem os roqueiros! 

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quinta-feira, 14 de julho de 2011

“Meu coração brilha muito porque eu amo as pessoas”

Esta frase é da Valentina, minha sobrinha. A professora pediu para uma coleguinha da Valentina que parasse de brigar, pois o coração dela não iria mais brilhar, já que apenas os corações das pessoas boas são brilhantes, segundo ela. Então Valentina lançou esta: “Meu coração brilha muito porque eu amo as pessoas”. A professora chamou a mãe da Vavá e comentou o quanto a menina é inteligente e madura, detalhista, exigente com o seu desempenho na escola. Não sei se sou uma boa pessoa, mas meu coração brilhou neste momento. Mais do que me sentir uma tia orgulhosa, senti ainda mais forte o amor que tenho por ela. É tão forte que chega a doer. Amo tanto que nunca acho as demonstrações suficientes. O mesmo sinto pela minha mãe e pela minha irmã, mãe da Valentina. Entretanto, nunca falei aqui desses amores. Nunca sujei os seus nomes com a minha escrita desordeira. Jamais ousei manchar os seus nomes com café & cigarros. Nunca escrevi aqui que eu as amo. É um amor tão imenso, que não chega a ganhar as palavras. É como se as palavras jamais fossem suficientes. Mais do que isso: é como se não houvesse necessidade de alardear este amor, pois ele é expressado no cotidiano, na convivência. De qualquer forma, faço minhas as palavras de Valentina: Independente da bondade infantil que agora me falta, embora meu toque já não seja puro como o de uma criança que não precisa de muitas palavras para explicar o que sente, hoje meu coração brilha muito, porque eu amo, demais, as pessoas.

Matéria recente da qual fui fonte, escrita para o Jornalismo na Pauta - Jornalismo Unochapecó

 LINGUAGEM
MUITO ALÉM DO LEAD
       A escrita jornalística envolve elementos
   próprios para repassar a informação

Lydiana Rossetti

Concordância, coesão, sintaxe, acentuação, ponto, parágrafo. Regras do bom Português que regem a maneira de qualquer brasileiro escrever. Para os jornalistas, além dessas, há aquelas criadas exclusivamente para esses profissionais. A linguagem jornalística não é restrita apenas nas respostas de : quem, quando, onde, como e porquê.
O jornalista não escreve apenas, ele conta uma história. Por isso sua linguagem deve ser o mais clara possível, para que o receptor da mensagem entenda a informação que se pretende passar.
Para a jornalista Fabiane de Carli Tedesco, que atua na empresa Nova Comunicação, a linguagem do jornalista não precisa ser tão séria e tão chata. Ela acredita que é possível escrever uma matéria pequena, responder o lead e escrever de forma diferente, sem cometer o famoso nariz de cera. “ Dá para ser objetivo e principalmente intenso”, afirma Fabiane.
Via de regra, o texto jornalístico tem que ser objetivo, imparcial, claro, além de respeitar as normas da Língua Portuguesa. A forma de escrever “jornalismo” aprendido hoje nas universidades é o mesmo que o de ontem. Possui, por exemplo, as mesmas referências bibliográficas, de autores como Nilson Lage e Juarez Bahia.
 A coordenadora e professora do curso de Jornalismo da Unochapecó, Mariângela Torrescasana, acredita que a forma de escrever no jornalismo de anos atrás comparado com o de hoje, não mudou. O que mudou foram as ferramentas utilizadas para escrever, a forma de redigí-lo talvez tenha mudado, com a inserção de novos vocábulos decorrentes da presença da tecnologia nos meios. “A linguagem básica; o valor notícia; relação com fontes; objetividade; clareza; nitidez continuam valendo independente do meio”, observa Mariângela.
A nova maneira de escrever
A partir da década de 1960 nasce na imprensa um estilo de escrever chamado “Novo Jornalismo”. No Brasil este estilo foi muito usado nas revistas Realidade e O Cruzeiro. Trata-se de uma linguagem mais próxima da literatura, em que o texto é passado de uma forma menos “séria”, em que envolve mais o leitor. Mariângela relembra da época de faculdade em que nas noticias diárias os professores não permitiam escrever de forma literária ou contextualizar o fato. Simplesmente falava o que tinha que ser dito e pronto, apenas nas reportagens a linguagem podia ser diferenciada.
Tanto ela quanto a professora da disciplina de Técnicas de Reportagem da Unochapecó, Angélica Lüersen, acreditam que hoje existe uma abertura maior do uso da linguagem literária nos veículos. A jornalista Fabiane pode comprovar isso, quando trabalhou por algum tempo no jornal Voz do Oeste, de Chapecó, onde  teve a oportunidade de colocar o jornalismo literário, que tanto ama, em matérias diárias, corriqueiras.
Para estas jornalistas, o jornalismo e a literatura são parentes próximos. Mariângela afirma que um jornalista que lê, escreve muito melhor. O vocabulário é mais abrangente e consegue “fisgar” o leitor como num livro. Portanto, não é só os meios que começaram a aceitar a escrita diferenciada no jornalismo diário, mas o próprio público. “ Quando leio um texto literário me sinto abraçada. Parece que ele me pega pela mão e me leva junto”, conta Angélica.
Transcrever a informação
Estar rodeados por tecnologias e sem poder perder tempo, virou rotina, não só para os jornalistas. Para o radialista, Edson Florão, hoje em dia “se paga o preço da velocidade”, pelos profissionais se acomodarem na busca pela notícia se tornam meros porta-voz da informação. Também prejudica, segundo ele, a linguagem, que fica menos embasada e mais superficial.
Angélica também acredita que a linguagem jornalística não sofreu alterações no decorrer dos anos, mas a forma de construir o texto, faz com que haja diferentes formas de narrar um mesmo fato. E a construção é a escolha da técnica utilizada para apresentar a informação ao leitor. Isto deriva muitos dos meios. Para a internet é uma técnica, para o impresso, rádio e TV são outras.
De acordo com Mariângela e Edson, só existe uma boa matéria, independente do estilo, técnica ou veículo utilizado, se houver uma boa apuração dos fatos, vivência com as fontes, e um texto que repasse informação de forma clara e objetiva.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SUPER-NORMAL

O Rivotril é a droga com a cara dos dias de hoje, em que temos sempre que estar bem 
Texto por Nina Lemos 
Fotos Nicolas Silberfaden 

O Rivotril é a droga com a cara dos dias de hoje, em que todos temos que estar bem o tempo todo. Segundo remédio mais vendido do Brasil, na frente do Tylenol e do Hypoglós, o ansiolítico tarja preta virou moda e atraiu usuários famosos como Selton Mello, Pedro Bial e Zeca Pagodinho
Sim, você já deve ter ouvido falar do Rivotril. Você já deve até conhecer aquela piada, que de tão batida já perdeu a graça, que diz: “Ri melhor quem Rivotril”. Você já deve ter escutado alguém falar que toma o remédio. E também já deve ter lido em algum site de fofocas o nome da droga associado a alguma celebridade. O Rivotril, um ansiolítico indicado para transtornos de ansiedade, bipolaridade e alguns casos de depressão, é, segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Hospital das Clínicas, o remédio da moda. E é fácil perceber isso. Os números mostram. E o hype em cima do medicamento também. O quê? Você acha que remédio não é tendência? Mas claro que é! O fenômeno Rivotril prova isso.
O medicamento, de tão badalado, já foi parar até nos palcos. Ao receber ano passado um prêmio de melhor artista do ano, o ator Selton Mello declarou, diante de um auditório lotado: “Gostaria de agradecer a todos os presentes, à indústria farmacológica e de psicanálise e ao Pramil e ao Rivotril, que fazem a gente ficar assim, bem”. Mais do que cair no clichê de agradecer aos familiares, Selton agradeceu a uma outra espécie de mãe de muitos brasileiros. Em 2008, foram vendidas nas farmácias do país 14 milhões de caixinhas do ansiolítico, que parece servir para quase tudo, de uma tristezazinha a uma noite sem sono. O mais absurdo: o Rivotril é um remédio tarja preta, vendido com aquela receita azul, controlado. O motivo é simples e assustador. Ele causa dependência química, assim como a cocaína e a heroína.
Se você está chocado, não fique. Tudo bem, pode ser que você nunca tenha tomado um Rivotril para domir, segurar um ataque de ansiedade, pegar um avião ou amortecer um pé na bunda. Mas tenha certeza de uma coisa: o colega que senta do seu lado no trabalho já tomou. Ou a sua namorada. Ou vai dizer que a sua mãe não tem uma caixinha na mesa de cabeceira? O remédio está perto de você simplesmente por uma questão matemática. Ele é o segundo medicamento mais vendido no Brasil, só perde para o anticoncepcional Microvlar. E ganha de comprimidos que a gente encontra ao alcance da mão, nas prateleiras das drogarias, como o Tylenol e a Aspirina.
Além de vender muito, o Rivo é cult. Existe banda chamada Rivotril, programas de rádio, blogs, e o remédio tem mais de 900 fãs no Facebook (a comunidade virtual do momento). No mundo dos famosos, bem, Selton não está sozinho nessas. Pedro Bial é outro que contou em uma entrevista à Playboy fazer uso do Rivo (o apelido carinhoso adotado pelos usuários da droga) antes de fazer seus discursos ao vivo no Big Brother. O cantor Zeca Pagodinho também afirmou, em entrevista concedida à Tpm ano passado, que quando está melancólico toma Rivotril.

Gotinhas o dia todo

Mas por que tomamos tanto Rivotril? A editora de moda Erika Palomino, que anda com um frasco do remédio em gotas na bolsa, arrisca alguns palpites. “A vida é muito difícil. Eu sou muito guerreira, trabalho muito e sou perfeccionista. E tem horas em que realmente não dá. É tanta pressão que você sofre que precisa de um cobertorzinho, como se fosse aquela fraldinha a que o bebê dorme agarrado, às vezes você precisa de um conforto.” Erika se esforça para tomar o remédio o mínimo possível. “Sei que vicia e que eu sou compulsiva. Então, meu principal cuidado é esse, não cair nessa de tomar todo dia.” Mas, quando toma, a editora não se culpa. “Sou a favor das drogas lícitas, as que a gente compra na farmácia. E quando tomo é porque sei que preciso. Tem vezes que você não consegue dormir de jeito nenhum de tanta ansiedade, mas no dia seguinte tem que acordar para uma reunião em que terá de estar linda e inteligente. A vida às vezes é dura”, diz a editora, que se trata com um psiquiatra.
A escritora Adriana Falcão é outra que anda sempre com o seu Rivotril por perto. E que também sofre de ansiedade. Ao contrário de Erika, ela prefere os comprimidos. “Não acredito em gotas, acabo achando que é tipo um floral e vou tomando várias gotinhas o dia inteiro achando que não tá fazendo efeito”, diz a escritora, famosa, entre outras coisas, por saber rir de si mesma o tempo inteiro.
“Na primeira vez que tomei Rivotril fiquei até assustada. Eu estava com um início de depressão pós-parto, completamente fóbica, não conseguia sair de casa nem para tirar os pontos da cirurgia. Meu médico me mandou tomar metade de um Rivotril. Eu ainda fiquei desconfiando dele, pensando, “ah, tá, imagina se isso vai fazer efeito”. Mas aconteceu um milagre: eu morava em Salvador. O táxi foi passando pela orla e eu fui vendo tudo ficar lindo, maravilhoso.
Hoje, depressão curada. Adriana recorre ao Rivotril para se sentir “adequada ao mundo”. “Não tem gente que de vez em quando precisa encher a cara? Então, é a mesma coisa.” A escritora é ansiosa diagnosticada e acha que o mundo anda, mesmo, muito complicado. “A gente tem medo de muita coisa, de ser julgada, de ter acontecido alguma coisa com a filha que não chegou da balada, de não ser aceita, de ter que estar sempre bem.”
A mãe da escritora, também ansiosa, morreu por tomar medicamentos demais. “Entendo muito de calmante porque a minha mãe tomava todos. Antes era uma coisa meio chique tomar um Valium. Agora, nunca vi um tão popular quanto o Rivotril. A minha empregada toma, de vez em quando pergunta: “Adriana, você tem um Rivotril para me arrumar?”.
O remédio é mesmo popular. Um dos motivos é o preço. Um frasco ou uma caixa com 20 comprimidos custa cerca de R$ 10, enquanto antidepressivos de ponta podem custar até R$ 300. O Rivotril é vendido em gotas e em comprimidos, que variam de 0,50 mg a 2 mg. Existe também uma versão sublingual, de 0,25 mg, indicada para ataques de pânico ou ansiedade.
“O Rivotril é barato porque é um medicamento antigo. Começou sendo usado como antiepilético e depois as outras funções foram sendo descobertas. Quanto mais tempo um medicamento está no mercado, mais barato ele fica”, diz Saadeh, que acha que a popularidade do Rivotril tem os dias contados. “O Lexotan já esteve muito na moda. E daqui a pouco a indústria lança outro medicamento que desbanca o Rivotril”, diz o médico, que acredita que o consumo exagerado do medicamento acontece por causa da tal obrigação de ser feliz, tão comum aos nossos tempos. “As pessoas acham que precisam ter tudo. O novo iPad, a nova roupa de grife, precisam ser descoladas, conhecer o novo DJ e também precisam ser felizes. A felicidade entra nesse pacote de obrigações.”
O relações públicas Renato Rossoni é um que está sempre ligado em tudo. “Sou assim desde criança.” Consequência: não consegue dormir e por isso apela (e como) para os remédios. “Nunca fui a um psiquiatra e nunca tomei remédio com prescrição médica.” Mesmo assim, Rossoni consegue todos os tarjas pretas que quer. “Existem umas farmácias que vendem sem receita. Chego e compro Rivotril, Frontal [um outro ansiolítico], Stilnox [hipnótico indicado para insônia e ansiedade severas]... Compro para mim e também para amigos.”
Rossoni começou tomando meio Rivotril para dormir. Mas levou um susto quando percebeu que só conseguia dormir depois de tomar dois de 2 mg (uma dose muito alta, que equivale a oito comprimidos da versão de 0,50 do remédio). O remédio, segundo Saadeh, causa tolerância. “Quanto mais você toma, mais precisa de uma dosagem mais alta para ter o efeito.” Rossoni decidiu resolver o problema sozinho. “Aí eu segui a dica de um amigo e troquei de remédio. Passei a tomar Frontal.” A troca foi feita sem supervisão médica. Hoje, ele alterna entre os dois medicamentos e também toma um Stilnox de vez em quando.
“Acho que o mundo sem drogas não existiria, ou pelo menos a gente não existiria”, ele ri. O relações públicas convive em um meio onde falar que toma um desses remédios não é tabu. “Todo mundo toma. E por quê? Estou sempre pensando no ontem, no hoje e no amanhã, tudo ao mesmo tempo.”
Vale lembrar de novo. O Rivotril é indicado por psiquiatras para, por exemplo, síndrome do pânico, mas, como está escrito na bula, ele deve ser tomado sob prescrição médica (de um doutor de confiança) porque o abuso desse remédio pode gerar dependência.
O publicitário Ricardo (nome fictício) que o diga. “Quando eu tinha 20 e poucos anos, fui diagnosticado com ansiedade e depressão. Um médico me receitou doses altíssimas de Rivotril. Hoje, acho que ele me viciou para que eu voltasse sempre para pegar o remédio e pagar a consulta, que era cara.” Ricardo conta que tomava sempre comprimidos de 2 mg (a dosagem mais forte). “Eu pedia para ele me dar comprimidos de 0,50 e ele se recusava, dizia que não ia adiantar.” Um dia Ricardo cansou e decidiu parar de tomar o remédio. Sozinho. “Fiquei trancado no meu quarto por duas semanas tremendo. Parecia que eu tava tomando um choque elétrico. Fui parar duas vezes no pronto socorro, passando mal. Larguei e curei a dependência química. Mas sobrou a psicológica, que curei com terapia. Hoje Ricardo ainda usa o remédio, esporadicamente. “Tomo muito raramente, mas é só um e pronto. Depois vou fazer ginástica e outras coisas.” E como ele consegue o remédio se não vai mais ao psiquiatra?. “Meus amigos me dão. Sempre tem alguém com um sobrando. E, em último caso, apelo para uma amiga que compra de um traficante que vende no Orkut.”
Sim, nas inúmeras comunidades que existem no Orkut dedicadas ao remédio, há vários usuários oferecendo venda do remédio. É só trocar uns e-mails para combinar o pagamento e a entrega.
Mesmo quem toma vê problemas no abuso. “Tomo de vez em quando, de forma recreativa, em casa de amigos. Se aparece, eu falo “ah, me dá umas gotas”, é como fumar um baseado”, diz o videomaker Felipe Dallanese, que, no entanto, evita tomar o remédio quando está mal. “As pessoas acham que a vida é uma montanha-russa só com subida. Não concordo. Hoje sei que você tem que ficar mal também. E conseguir as coisas pelo esforço, não por milagre.”
A metáfora da montanha-russa combina com a teoria do especialista Alexandre Saadeh. “O ser humano nunca gostou de sofrer, nunca gostou de sentir dor. Agora, parece que gostamos disso menos ainda, principalmente porque temos mais aparatos para evitar a dor.”
Faz sentido. Mas vale lembrar, de novo, tem gente que precisa tomar Rivotril. “Quando bem receitado ele é um remédio ótimo”, diz o psiquiatra. O difícil mesmo é ele ser bem receitado. Ou, pelo jeito, ser comprado com receita de um médico que acompanhe o seu histórico. E não pelo Orkut.

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Tópico: Corpo
Assuntos:Comportamento