foi um dia de grandes silêncios, entrecortados por caio fernando, david goodis e sua garota de cassidy, ana carolina vertendo brasas difíceis de engolir, lembranças e mais lembranças, idéias atrofiadas, tédio, marasmo, mesmice. disse não às presenças, aos telefonemas, aos ouvidos e bocas alheias. dia difícil. eu, em descuido, eu, em suspense, em rocks mal elaborados, vertigem, cigarros rachando gargantas, até a noite chegar, lenta, calmamente, meu calmante noturno. minha raiva ainda é grande, raiva viva na injustiça, amor apagado dentro do peito, memórias de uma vida antiga. mesas vazias, vestígios do que havia ali, não existe mais. eu sou toda silêncio. estou te matando em mim. estou me matando em mim. ouço tuas gargalhadas bêbadas daqui, vampiro do espaço sideral, vulgarizando meus verbos sinceros, meus infinitos poemas pensados. eu, pessoa densa, eu, viúva tensa de emoções que não sentimos, eu, saliva e tato e abraços apertados e ouvidos encaixados no teu peito, baladas infindas de jorros de sangue. ninguém mais te ouvirá bater. ninguém mais, como eu fazia. tuas conversas maléficas não abarcarão a tristeza e no vazio da sala de concreto ouvirá meu nome e sentirá meu cheiro nas paredes do quarto e eu estarei aqui, do outro lado da montanha, na casa que não te habita, no canto em que tu não está, lembrando do que não fomos e lamentando cortes, sem suportes suficientes para comprar uma nova alegria e um novo começo. estarei estéril e inata, olhos vagos na janela, no teto em que tu não mora, no porão em que você já não povoa. encherei a cara até ver a dor transformada em violência, beberei do teu cálice a licença de pensar em ti ao menos, nas minhas noites frias e sem sono, messalina dos jardins, amante dos pilares. nossos espíritos incompatíveis, nossos sonhos opostos nas metrópoles aladas, nossos corpos que não se encaixam, nosso ponto de equilíbrio jamais encontrado. amaldiçoarei tua rotina, desejarei ordem na minha, vivendo em confusões ortográficas, a cada linha, uma biografia. te amarei com meus punhos cerrados, meus olhos vazando pedaços de dores que tu não sente. é o fim de uma carreira de golpes trêmulos, seguidos de chãos sem tapetes, vãos de letras, sonetos. eu seguirei só, sem prometer minha boca em nenhum corpo (nojo, ojeriza de humanos). perturbarei tua ordem, entrarei nas gavetas provocando tornados, encharcarei de lama tua branca mobília e farei arte em teus sapatos. anarquias divinas nas madrugadas insones, e véus de ilusões nas tuas razões e conformes, e esculhambarei teus artigos, manchando-os de preto. e, no fim de tudo, antes mesmo de sair da cama, te perdoarei como insana que sou e recordarei só dos bons momentos, pensando tê-los ainda no vão dos dedos.
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