Ela estava lá, no São Pedro, a pé, entregando seus folhetins divinos.
Se sabe que já está no São Pedro quando as retas de asfalto dão lugar à poeira das estradas de chão, ou quando os casarões cedem espaço aos casebres, onde os cachorros já não conseguem mais se manter brancos, limpos, sãos e atrás das grades, mas sim nas ruas, marrons e perebentos, reféns da sorte, do destino dos automóveis que passam capengas pelo lugar. Um lugar de fome, de prostituição, de tráfico. E de muito mais do que isso.
Enquanto os candidatos se dedicam a pagar meninas para andarem pelas ruas dos bairros da cidade entregando santinhos ou ficarem paradas nas avenidas, iludindo sonhadores como eu de que estão fazendo protesto, ela estava lá, no São Pedro, a pé, entregando seus folhetins divinos.
Impossível não vê-la de longe: Roupão roxo, cabelos pretos já grisalhos envolvidos por um manto azul-marinho de pano brilhante, a bolsa bordô imitando fuxico, os pés numa imitação de havaianas e os Dez Mandamentos, abertos nas mãos, escritos em castelhano, “La Ley Real”. “Essa roupa foi trazida do céu. Os mandamentos, dados pelo próprio Deus.”
Quer transmitir às pessoas, que busquem a Deus como buscam o ouro. “Coisas terríveis estão acontecendo. Um mata o outro, filho mata o pai, pai mata o filho. Guerras, temores, enfermidades terríveis que não hay cura.” Essa é Inoir dos Santos, gaúcha que mora no Paraguai e tem a missão de andar pelo mundo, pregando a palavra do seu Deus, o Deus da Congregação Israelita Nuevo Pacto Universal. “Israel era um muchacho, um rapazinho novo, quando recebeu os Dez Mandamentos. Assim é as coisas de Deus.”
Julgo que o peso e o calor, dela, das roupas e do sol, não ajudam na caminhada, tampouco a idade: Fará 60 em janeiro. “Temos que trabalhar para o Senhor, porque estamos nos últimos tempos”, fala a voz segredosa de veludo. “Deus cumpre o que promete: Ele diz que na hora do calor, ele refresca o nosso corpo. E na hora do frio, ele esquenta.”
A vestimenta tem que ser completa, “se vestir de couraça e justiça”. “Se por aí, um se ira comigo – porque tem os que metem a pata –, me quiere meter uma bala, não vai entrar.” Se espelha nos profetas do passado, que morreram por suas causas.
“A Bíblia diz que Deus come e diz como ele come: Cheirando”, lança. “Cheirando as coisas”, continua.
- O que você acha desses bairros, que tem tantas pessoas passando dificuldades, que não têm o que comer?
- Ah, um dia elas terão a recompensa. Por mais que as recompensas não sejam materiais, mas as recompensas espirituais, vão ganhar. Deus se agrada da humildade das pessoas. Ele fala que vem buscar um povo humilde.
Em Ernandária, perto de Ciudad Del Leste, no Paraguai, se recolhe na igreja nos dias de sábado, nos dias de festa e nos dias de Lua Nova. “Porque a Bíblia prega: Lua Nova é dia do Senhor, é um dia santo. Fizemos muito estudo bíblico, muita santa lavança também. Quando o sol se coloca outra vez, nóis se arretira.”
Ela está acostumada com os flashes das máquinas fotográficas nas rodoviárias, a posar em casa alheia, a vida sofrida. “Mas agradeço em demasiado ao nuestro Senhor.”, arrisca um portunhol novamente sem querer. “Isso é o que tenho que fazer: Sair pelo mundo.”
Se sabe que já está no São Pedro quando as retas de asfalto dão lugar à poeira das estradas de chão, ou quando os casarões cedem espaço aos casebres, onde os cachorros já não conseguem mais se manter brancos, limpos, sãos e atrás das grades, mas sim nas ruas, marrons e perebentos, reféns da sorte, do destino dos automóveis que passam capengas pelo lugar. Um lugar de fome, de prostituição, de tráfico. E de muito mais do que isso.
Enquanto os candidatos se dedicam a pagar meninas para andarem pelas ruas dos bairros da cidade entregando santinhos ou ficarem paradas nas avenidas, iludindo sonhadores como eu de que estão fazendo protesto, ela estava lá, no São Pedro, a pé, entregando seus folhetins divinos.
Impossível não vê-la de longe: Roupão roxo, cabelos pretos já grisalhos envolvidos por um manto azul-marinho de pano brilhante, a bolsa bordô imitando fuxico, os pés numa imitação de havaianas e os Dez Mandamentos, abertos nas mãos, escritos em castelhano, “La Ley Real”. “Essa roupa foi trazida do céu. Os mandamentos, dados pelo próprio Deus.”
Quer transmitir às pessoas, que busquem a Deus como buscam o ouro. “Coisas terríveis estão acontecendo. Um mata o outro, filho mata o pai, pai mata o filho. Guerras, temores, enfermidades terríveis que não hay cura.” Essa é Inoir dos Santos, gaúcha que mora no Paraguai e tem a missão de andar pelo mundo, pregando a palavra do seu Deus, o Deus da Congregação Israelita Nuevo Pacto Universal. “Israel era um muchacho, um rapazinho novo, quando recebeu os Dez Mandamentos. Assim é as coisas de Deus.”
Julgo que o peso e o calor, dela, das roupas e do sol, não ajudam na caminhada, tampouco a idade: Fará 60 em janeiro. “Temos que trabalhar para o Senhor, porque estamos nos últimos tempos”, fala a voz segredosa de veludo. “Deus cumpre o que promete: Ele diz que na hora do calor, ele refresca o nosso corpo. E na hora do frio, ele esquenta.”
A vestimenta tem que ser completa, “se vestir de couraça e justiça”. “Se por aí, um se ira comigo – porque tem os que metem a pata –, me quiere meter uma bala, não vai entrar.” Se espelha nos profetas do passado, que morreram por suas causas.
“A Bíblia diz que Deus come e diz como ele come: Cheirando”, lança. “Cheirando as coisas”, continua.
- O que você acha desses bairros, que tem tantas pessoas passando dificuldades, que não têm o que comer?
- Ah, um dia elas terão a recompensa. Por mais que as recompensas não sejam materiais, mas as recompensas espirituais, vão ganhar. Deus se agrada da humildade das pessoas. Ele fala que vem buscar um povo humilde.
Em Ernandária, perto de Ciudad Del Leste, no Paraguai, se recolhe na igreja nos dias de sábado, nos dias de festa e nos dias de Lua Nova. “Porque a Bíblia prega: Lua Nova é dia do Senhor, é um dia santo. Fizemos muito estudo bíblico, muita santa lavança também. Quando o sol se coloca outra vez, nóis se arretira.”
Ela está acostumada com os flashes das máquinas fotográficas nas rodoviárias, a posar em casa alheia, a vida sofrida. “Mas agradeço em demasiado ao nuestro Senhor.”, arrisca um portunhol novamente sem querer. “Isso é o que tenho que fazer: Sair pelo mundo.”
(Publicado no Voz do Oeste em 2 de setembro de 2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário