Não vou falar apenas de um livro nessa semana, mas de um autor. Curitibano, Dalton Trevisan é o meu escolhido. De escrita particular, é autor de livros como “O Vampiro de Curitiba”, “Novelas Nada Exemplares”, “O Grande Deflorador” e “A Gorda do Tiki Bar”. O primeiro eu apenas li; os três últimos, tenho na minha cabeceira.
A Editora L&PM Pocket se dedicou com afinco a publicar as obras do escritor arredio, nascido em 14 de junho de 1925, que escolheu o anonimato – tanto, que fotos suas são somente aquelas que algum fotógrafo intruso tirou sem o seu consentimento.
Admirado por vultos da literatura brasileira, como o intimista Caio Fernando Abreu (que o citou em sua famosa “Carta ao Zézim”), Dalton Trevisan, por vezes, se rende à escrita erótica em seus contos célebres, como é o caso de “Capitu Sou Eu”, do livro “A Gorda do Tiki Bar”, o conto da professorinha que se apaixona por um de seus alunos. “Caminha descalça pelo inferno de brasas vivas. Uma série vergonhosa de casos: fotógrafo homo, pintor futurista, professor impotente, sei lá, poeta bêbado.”
Sua linha é bastante poética e também bem humorada. Fala de casos cotidianos, fáceis do leitor identificar, a exemplo do conto “Tudo bem, querido”, da obra “O Grande Deflorador”, sobre um fora não bem digerido. “Já não me quer? Tudo bem. Basta que eu te olhe, nem chego perto, do outro lado da mesa. Cafetina de corações solitários. Ó estripadora de alminhas líricas.”
Trevisan usa diminutivos em excesso, dando graça ao texto, e parece engolir palavras do enredo em várias ocasiões. É de propósito, se trata de seu estilo. Pode-se perceber essa característica em praticamente toda a sua obra. Um exemplo disso está em “Idílio”, texto de “Novelas Nada Exemplares”: “Banho de chuveiro, jantava, corria ao seu encontro. Às vezes trescalava a toalha úmida. Paulo a beijava com tanta aflição, por pouco engoliu o brinco de pérola falsa. Na rua até às dez horas, fechado o portão.”
Um dos melhores textos, na minha opinião, de “Novelas Nada Exemplares”, é “Quarto de Hotel”, que começa: “Os pardais o acordam de manhã. ‘Malditos!’ gemendo, enterra a cabeça no travesseiro. Malditos pardais – o dia: mais um dia. Quietinho, morde o lençol, abafa os gritos: ‘Não acordei, estou dormindo. Não são os pardais, mas os grilos...’ Quem dera esganar todos os pardais da cidade.”
Seus personagens são comuns, carregados de detalhes íntimos, com histórias que muitas vezes são ocultadas entre os limites das paredes, espiadas por Dalton, como diria Nelson Rodrigues, tal “um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário