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sábado, 4 de setembro de 2010

canções de brisa ruidosa

tinha me apaixonado pelas linhas. queria ter entrado na tela. queria ser um vírus qualquer, daqueles sem remédio. de minha paixão, o trato banal. como se aquilo, apesar de acontecer todos os dias, em todos os lugares, com todo mundo, não fosse sagrado. era sagrado, ninguém me dirá o contrário. me roubou as madrugadas, te dei meus ouvidos e meus olhos e meus risos. fui ameaça, eu sei. se sentiu como eu, balançado no vento das letras só nossas. sei que não tens esses feitos como cotidianos. querido, tenho que dizer-te: tenho poucos dias de vida. vê, a vida me escorre por meio das pernas. não poderei lembrar de ti na velhice, pois não terei velhice. tuas filosofias, tuas crenças, não guardarei em arquivos. temos pouco tempo. minha memória está no fim; minha vida está no fim. te espero na porta, depois do caminho das bromélias & das papoulas. te aguardo com o céu na palma das mãos, estrelas no peito. quero fazer do teu rosto stencil e psicografa-lo em tatuagens na minha pele gelada. quando eu me for, avise para atearem fogo em mim. meus sonhos, deixe para ela; ela saberá o que fazer. o que deixei por fazer, deixe onde está; o que terminei, passe a diante. avise que tudo o que fiz, fiz com toda a força que guardei. estou partindo. diga que os amo e que sentirei saudades. me faça voar em alguma montanha azulada. não me trancafie, em hipótese alguma, me trancafie. quero voar. me faça imortal em tuas canções de brisa ruidosa. estou chegando ao fim, estou chegando. meu espírito se prepara para o fogo. eu vou, me guarde em ti, mundo. me guarde. te guardarei em mim e lembrarei dos dias de verão nos terrenos baldios da minha imaginação. eu volto, um dia eu volto. adeus. e parto.

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