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domingo, 5 de setembro de 2010

“demita-se esse vagabundo”

dizem que o homem era sossegado. nove mulheres devem ter suportado o sedentarismo do grande poeta nos ombros. vinicius de moraes parece ter procurado uma mãe entre as amantes, que cuidasse de sua vida, enquanto ele descuidava. veja como são frágeis e sutis as leis sociais. de poeta a vagabundo em um piscar de olhos. acho que todos os poetas são ou deveriam ser abençoados por alminhas que compreendam o seu desdém pelo mundo meramente material, para que eles possam imergir na poesia no exato momento em que o universo gira lá fora, cruel e ambicioso. engraçado, trinta anos depois de sua morte, de vagabundo a embaixador. o ai-5, que só de pensar sinto calafrios, exigia o desligamento de “bêbados, homossexuais e vagabundos”.

“demita-se esse vagabundo”, era a ordem do dia, impressa no telegrama. ora, se vinicius levou um pé como esse e agüentou, por que nós, meros intentos poéticos, não podemos levar e agüentar? poeta, vagabundo, boêmio, embaixador. o último título parece não rimar. mas que seja. vinicius se deu a liberdade de criar, mesmo em um lugar e em um tempo de guerra. na dele, atrás do muro, se fez imortal, enquanto as vaias dos pragmáticos ecoavam soltas. e que morram os pragmáticos! quem se importa? o ser humano, essa coisa louca que somos, precisa mais do que cuidados práticos. vinicius sabia disso e deixou sua arte para o deleite de vagabundos como eu. e que seja eterna enquanto dure.

Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim

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