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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mañana, baby

Do dia em que comprei a obra (09/11/2007, data rabiscada debaixo do meu apelido de faculdade, Fabita), seis dias antes do meu aniversário, até o dia em que a li, há um intervalo de mais de um ano. Me senti, por muito tempo, obrigada a ler a bíblia da geração beat, On The Road (Pé na Estrada), de Jack Kerouac.
Enquanto eu era bombardeada pela crítica da rua, que falava o quanto o livro era bom e indispensável, não conseguia, para variar, chegar perto de On the Road. Foi então em uma daquelas férias de verão, mais precisamente as férias de 2008/2009, longe do barulho alheio, com um amor não correspondido pesado no peito e nenhum centavo no bolso, que me embalei na rede da varanda e o devorei, finalmente.
“(...) e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop – pode-se ver um brilho azul intenso”.
Era como se meu espírito estivesse contribuído para a elaboração daquelas páginas todas, por vezes, um tanto cansativas e repetitivas. Pudera, se trata de uma bíblia. Obra que me influenciou e influenciou pessoas de todo canto a saírem de suas zonas de conforto, a exemplo de Bob Dylan. Não só influenciou, como inspirou obras, inspirou gerações, inclusive a minha, de inícios dos anos 80.
Dizem que o livro foi escrito em quase 37 metros de papel e em três semanas. Como se ele, Jack Kerouac, tivesse aberto uma veia a faca e tivesse a deixado jorrar, até acabar o sangue. Senti as estrelas nos olhos na garupa dos caminhões, o vento da noite na cara, colhi algodão nos vastos campos, vaguei pelos bares, fui caroneira de Dean Moriarty, me apaixonei de novo.
E deixei o tempo passar, como costumo e gosto de fazer, como se já não fizesse mais parte dessa esmagadora prensa mercadológica. “‘Claro, baby, mañana.’ Era sempre mañana. Foi tudo o que eu ouvi durante toda a semana seguinte – mañana, uma palavra adorável que provavelmente quer dizer paraíso."
Sim, recomendo.

(Publicado no Caderno Comportamento em 25 de setembro de 2010)

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