que lugar é esse? 15/
uma estrada. uma nova estrada. sempre estou indo, indo, indo... mas para onde? mas por que? uma coisa é certa: o preço que se paga é altíssimo. uma mulher e uma estrada. mulher? me vejo ainda criança ouvindo “my girl” na voz da primeira boy band do mundo e sonhando. uma menina e uma estrada. diy, diy, baby. mas eu sai ontem da universidade, literalmente. e das fraldas creio que nem tenha saído ainda. e hoje sou jornalista. jornalista? não. um emaranhado de ideologias dispersas. anos e anos de estudo para me perder toda desse jeito. não sei mais quem eu sou, não sei mais no que acredito. tanto esforço, tanto sacrifício para estar assim, desse jeito. só... a solidão é o efeito colateral de uma ideologia que eu nem sei mais qual é o nome. se é que isso tem nome. arte, arte... deve ser arte. o efeito colateral da arte é a solidão. mas eu nem sei se estou fazendo arte, não sei se conseguirei fazer algo. estou aqui, insone, em um quarto de hotel. dias punks na nova cidade. a chuva lá fora, calma, é contraste da tempestade aqui dentro. não posso dormir porque meus sonhos foram vendidos. sou uma imagem imutável de uma mulher meio que andarilha, nômade. digna de má fama, escolhi a solidão. será que escolhi? em partes. em partes escolheram para mim. assim como escolheram que eu seria a louca que sou, desde que nasci em um berço impróprio para menores.
prazer,
me chamam de ladrão,
de bicha & maconheiro.
quarto ao lado,
se lembra quando eu dizia que estava entre a casa no campo, a rede na varanda e o jardim florido, e entre o hotel barato, a literatura e a solidão? pois eu sempre achei que a segunda opção me caia muito bem. estou no quarto ao lado. estou só, no quarto ao lado. sem blues, sem grana, sem poesia, sem vinho. estou do lado de fora, estou só para todo o sempre. o espelho me machuca; as leis da matéria me machucam. pesos & medidas. o preconceito e a discriminação já não me comovem. o que me comove é ver um lapso de compaixão nesse céu tão cinza. um suspiro de humanidade, isso me comove. vivo para escrever. mas escrever o que? sou escrava das letras, mas ainda que seja das letras. sou escrava desse exército vermelho da visão, sou escrava desse neon que vomita e engole a luz desse quarto ao lado. sou só e não sei escrever. literatura chumbrega. nomenclatura exata para definir a amargura dessas linhas. repepepetititititivavavavasss. deus existe? sei lá, vou pensar no kerouac, com ele tenho mais afinidades. ele, o cara que morreu vendo programas de auditório, enquanto era bajulado por uma velha beijoqueira. ele, com um pé na estrada, outro na universidade. um pé em peixes, outro em mercúrio. mas assim o pé se mancha e se tinge e se sonha e se dorme e... até amanhã.
vou dormir com fome,
clima horroroso de fim de década, de fim de carreira. meu estomago está roncando, vou dormir com fome e não há nada que você possa fazer. estou vivendo as minhas custas. piada do dia. tirada da semana. vou dormir com fome, cede, medo, raiva nojo e dó. trabalho escravo, hotel barato da porra, cobertor felpudo que é uma merda. estou dando uma de sex and the city nesse notebook. pensar que há alguns anos me animava com a mais elétrica das olivettis. estou velha. estou chegando ao fim. eu não jogo. se jogo, jogo limpo. não entendo essas tramas que tu te envolves. minha única estratégia é a verdade; meu único discurso é o automático. e como lidar contigo? me ensina? me explica? é o mal dos capricornianos serem traidores desse jeito? ah, foda-se a astrologia. me sinto emoldurada em uma obra de andy warhol, em uma frase de woody allen. me sinto meio elvis, meio marlon brando. um ser andrógino, parte maysa, parte tim maia. ou quem sabe maria callas com jim morrison. sei lá. eu sou os meus heróis, eu sou anti, eu sou chata e estou na beira desse precipício chamado fase crítica da arte que não é arte. me fodi.
buenas (roncos) notches,
brega & breve alegoria.
ateia-me fuego,
atrasos, fracassos, intentos & inventos. dia de tesões, cansativos unilateralismos, altas tensões e fuego, muito fuego. ateia-me, mas por que me ateia? isso não se faz, atear para depois sumir, atear para depois deixar. por que me miras se no me quieres? e se me quieres, por que não pode ser para sempre? mas o para sempre não existe, e tu é de outra, e eu cairia na boca do povo. ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de baudelaire. estou na poesia dos dias, no hotel nublado da fumaça literária. golpes na autoestima, henry miller no lugar das veias. preto & branco, sexo dos anjos, eu e você, talvez. vontade, delírio, palavras jogadas sem critério, recortes de versos no jornal local. vapor barato de mim mesma. o hotel, o jornalismo, o café, o cigarro, a desordem. minha vida monocromática, disco furado, fita cassete com defeitos épicos. a doença, o reconhecimento falido, a libido corroída de fartos seios. estou no escuro desse quarto que ninguém lê. minha esquizofrenia é plena, é mágico o gozo dos deuses. sem pensar, sem revisão, sem borracha pra apagar. adolescência tardia de sempre, te quero com sorvete e martesméllow. não sei escrever em inglês, papos de rotina no restaurante da esquina. delírios epopéicos. ateia para depois punir. ateia e pune. estereótipo. plágio não pode. saí da mesma forma que você. rock and roll. oi, tudo bem? desculpe, eu sou tímida. travei. confesso que bebi. jaguar e jornal bolorento. acabou a descarga. finito. esqueço.
só que eu, eu não sou robô.
a um mestre de calças ii,
versão impublicável de.
nos conhecemos na biblioteca. tu, barba crescida e jaqueta de couro. eu, óculos de grau e cafonices. pela primeira vez na vida eu tentava pegar um livro de consulta local. eu te via, mas a confusão já vinha de antes. olhei pra ti, a barba, a jaqueta, a alma toda. desci os olhos para a mão, aliança de ouro reluzente, fim do sonho repentino. “não, moça. este você não pode levar para casa”, dizia a atendente da biblioteca. e eu pensava “o que? não posso levá-lo?”. inconformada, olhava para ele e para o livro, para ele e para o livro. “este eu não podia, não podia”. as palavras se duplicavam, assim mesmo. eis que se iniciava a sequencia de sonhos e de insônia, de vontades impraticáveis. dois anos já. dois anos? tudo isso? só isso? quantas vieram antes de mim. quantas existem paralelamente a mim. quantas ainda existirão. timidez e um quase sorriso. negativas de minha parte. fugas, nossas. gato e rato. filme b sem fim previsto. tento esquecer. tento dormir. exagero de minha parte. exagero literário ou oportunismo poético. estou no quarto 11, ou seria o 12? hoje, dia 13, dia místico. a sequencia cabalística dos números. e tu é meu número. azar o meu. por trás da barba, descubro um novo homem, tão ou mais brilhante do que eu pintava. quantas serão as vezes que eu me apaixonarei por ti? quantas já foram... e são? mentalizo meus rituais profanos, meus, só meus. contigo não divido nada muito além do meu silêncio, como saberás quem eu sou? mas tu sabe, como sabe, como pode saber? teus olhos me viram, meus olhos te viram. tua face oculta ultrapassa as paredes do quarto, minha pele. sin(croni)cidade. sin, de pecado, de cronos, de cidade. o que é pecado? (recados divinos, mensagens instantâneas de outros templos). o que será de mim sem teu peito a me acalmar? sem tua atenção, tuas palavras, teu raio x da mente humana? tento me acalmar. escrevi demais. escrevi para mim. versão impublicável de um mini-conto que é teu, ou de syd barrett. escolhe. agora ou em outra vida.
de uma certa garota.
dia de falar mais alto,
queria poder dizer: “ah, não me importo que tenhas outras moças” ou então: “não, não faz diferença se tu vens de outros braços” ou ainda: “vá, te ver partir me é uma dor já passada. vai, pode ir”. mas não. sofro tanto, tanto. sem saber o que quero, me vejo nessa estrada sem fim. te vejo hoje, amanhã nem sei. não sabes como me sinto só, aqui, ouvindo esse jazz. me tornei uma daquelas pessoas que fica depois do horário, porque lá fora tudo ainda é mais frio. e o que pode ser mais frio do que um escritório? um hotel de quinta. quase morri atropelada há menos de dez minutos, depois que voltava da lanchonete que não queria permanecer aberta para mim. mesmo assim, pedi um lanche e uma coca-cola de garrafa de vidro: a melhor de todas. quando saio, dou de cara com a morte. o mais estranho é recuar dela. por que recuamos da morte se a desejamos? digo nós, os loucos, como me chamou o motorista: “ô, sua loca! a faixa de pedestre é pra lá!” má fase na escrita também. escrevo e já nem publico, deixo tudo lá na caderneta, mofando. ou na cabeça, o que é pior. mudo o tempo todo, sou levemente esquizofrênica. lunática. e tu te envolves com a putaria da esquina. putarias de esquina lhe caem bem. e eu me apaixono por ti todo dia. cafajeste, como podes ser tão doce? escrevo sobre ti nesse diário poético impublicável. pobre stereo, ninguém te lerá, pobre coitado, pobre diabo. hoje descobri que tenho um leitor assíduo. creio que ele é um guarda de um prédio qualquer, não sei. sei que ele me lê, lê todas essas produções jornalístico-literárias que faço sem saber se faço. jornalismo cultural, histórico, autoral. chame como quiser. isso que faço e que não vale absolutamente nada. se ainda valesse a minha solidão, se ainda eu passasse de uma louca que quase é atropelada todos os dias por esse trem da morte, que espero ouvindo um robert johnson imaginário. mas hoje é dia de falar mais alto, hoje é dia da saudade, do adeus sem palavras, de você e de mim. patética, escrevo nesse diário que não há de vingar ao invés de adiantar as matérias desse jornal provinciano. não tenho opção. ou trabalho ou cometo suicídio. como pode, em um dia estou nas nuvens, noutro nas garras desse hades do inferno. há ainda os dias mornos, o meio termo, um tédio. não passam nesse lugar de marasmo. espero, espero e espero. nada. meus olhos, que tanto se encantam, às vezes se fecham para os brilhos do mundo. só vêem poeira na estrada e frustração. chamo por ti, mas nem te quero. ou será que quero? tu diz que eu não sei o que quero, mas e o que eu posso querer? ah, se eu fosse uma de suas putas tristes: daria pra ti e dormiria em paz. mas não, sou essa louca poética, delinqüente, visceral e intensa que engana a todos com a promessa de uma poesia constante, quando na verdade não passa de ilusão vulgar.
colinas latejantes,
lateja, cabeça, lateja. clareia e pulsa, pubiana cabeça. eu te amo, porra. meu doce setembro nem começou e eu já te amo. porra. me ame, acabe comigo. o que faço contigo? poemas mofados na cabeça. amor azedando no peito. estampo na cara esse amor barato. me tome. me pinte de vermelho. me faça tua presa da vez.
- o que você quer?
- você.
- em que sentido?
- todos.
- quanto?
- muito.
- quando?
- agora e até quando eu não sei.
durante o verão,
ventilador ligado no quarto de hotel, vendo velhos clipes de doors e black sabbath e fumando camomila na folha do caderno. acabei com o café com leite, está quente, parece verão. seios a mostra, pele branca no vestido negro, cabelo bagunçado caído no pescoço que guarda a tatuagem de borboleta: “the scream of the butterfly”. hoje me pediram se sou louca. acho que a pergunta foi mais para comentar a loucura já pré-diagnosticada. coitados. o que eles sabem da loucura? hoje ele me procurou. cafajeste. que vontade dele. eu disse que tinha medo, eu disse que não podia, eu disse que gostava dele, o adorava. disse que eu não queria nada efêmero e ele disse que também. mas como “também” se ele tem outra? ah, mas a outra sou eu. queria pensar menos, queria ter uma descarga de pensamentos, uma pinça-tiradora-de-ideias. ele fala de morfeu, me faço de boba. ele fala que eu prefiro os sonhos, e eu que o prefiro, incondicionalmente. na quinta nos vimos. ele parecia sem jeito, eu com vontade de pular pro mundo dele. quis que eu fosse até o birô de fotografia, depois até o carro, disse que tinha um presente. era minha formatura. eu disse não. fui embora, ele me liga. eu disse não. era noite e eu morria. morria de vontades. mal dormi. vim para o hotel de manhã bem cedo. dou de cara com a bunda de uma puta no corredor. a puta lavava a boca numa pia. a bunda tinha um hematoma. noitada caliente no hotel. a moça deve ter servido um dos marmanjos solitários que aqui vivem. decadência compreendida, não deduro, não julgo. a boca com um piercing sorri. a bunda no vestido curtíssimo estampado espera o taxi. pra me libertar, mais tarde fui num show de punk rock. decadência de novo. aficionados por nirvana em um show que não era grunge. em roda, lembravam os velhos dias de grunge. eu lá, curtindo pra ver qual era. a lata de cerveja cai de bico. os pequenos kurts caem de boca e lambem a ceva. é minha deixa. entre a roda grunge, a roda punk e a roda hippie do lado de fora, prefiro a saída. não me encaixo. bebem a noite inteira e quando não há mais o que conversar, rola pancadaria. pego a estrada. cabelo vermelho no vento do oeste. é ali que eu moro. fujo da polícia como sempre. estava bêbada, ouvia música alta e não queria conversa. delinqüente. aqui, tenho que aturar todos os metidos a jornalistas. e são tantos. todos escrevem, todos querem ser o que estudei anos e anos para ser, o que paguei caro para ser. mas há técnicas, sentidos, regras, estudos e ética. pelo menos é o que dizem nas universidades. nojo disso tudo. estou no meio do olho do furacão. estou no meio do caos, do vandalismo, da destruição. se eu pudesse ao menos compartilhar a minha confusão contigo, perder-se contigo e em ti...
te amo.
de novo.
eu vi el rey andar de quatro,
nova cidade, novas pessoas, novo hotel, novo jornal. as estradas são outras, os nomes das ruas, dos senhores do poder. sen-ti-nela. repito pausadamente, tentando me acostumar com a ideia. senti nela, na cidade, um quê de cidade mais paranaense do que catarinense. estou perto da fronteira. estou perto da argentina. estou perdida. novidades? algumas. meu chefe lê nelson rodrigues e as entrevistas da playboy. tem boas noções de fotografia, fotografia artística, perfis e memória. ouve ac/dc. medo. medo de não dar conta. mas ele diz nariz de cera, lead, pirâmide invertida. eu digo literatura. alivia, alivia, cabeça. na lanchonete do hotel, viola e cantoria. boemia típica. na tv, bollywood. as avenidas são longas e ornadas de palmeiras. a noite é dos bailes e dos bares. eu, sozinha. e como não? sem sinais no céu, vivendo a cobrar. saudades. sau-da-des. te amo.
encaro?
encaro.
quarto de pensão,
da morada do sol, para o quarto de pensão da família brum – dona do primeiro hotel da cidade. de uma noite para outra, tudo mudou. motivo? a falta de grana. estou aqui de passagem. devo procurar outras opções em breve. alojamento para moças, uma kitnet qualquer, a estrada outra vez. verei. como me sairei no novo jornal, qual é a tua comigo, qual será o próximo destino. destino... dizem que ele existe, mas que o livre arbítrio também existe. ah, filosofias. quais delas eu adoto? enquanto isso, encho a barriga de comida caseira alemã, durmo como neta dos brum e espero achar o caminho. levo minha casa na mala, levo sonhos no peito e te levo comigo. preciso de um visto para ir para argentina, preciso passar livremente pela aduana. vacinas em dia, documentos e o caralho.
óculos embaçados de lãs vesgas,
é sempre o mesmo: pesos & medidas; formas & valores. ter. comparações infantis. tédio. teu jogo é claro e infame. me liberte de tua voz essa noite, de teus comentários e de tuas perguntas doentes. de tua risada, de teu grunhido, de teu miocárdio. deixe eu masturbar minhas palavras em paz. se vá, o quanto antes. mas me pague o que deves, sua vaca. picaretas do inferno, vadias do sexo sangrento. podres. estou com febre. quero um habitáculo em lãs vesgas. quero o cassino do outro lado da fronteira, quero ser uma criança ou cachorro da rua, quero ser um andarilho. quero ser uma foto do bresson, um produto vencido na prateleira, um bl fosco, um copo suado. quero meu canto pra te levar. sou a ninfa das pedras, teu jogo eu sei jogar. rima barata, o cigarro acabou, tomo banho de chuva, ódio e horror. eu tenho pena de vocês e de mim. eu tenho pena de ter que viver. eu tenho duas mãos e um braço fodido de tanto escrever. vou pegar tua lambreta emprestada, vamos passear. seu burguês selvagem, seja você. com born to be wild, maryjane & on the road.
escarro.
palma suela, 1º de outubro de 2009
las palmas são suelas, como são suelas las chicas da fronteira. desordem. catatônica alma violentada. tenho nojo de pensar nos corpos que envolvem o teu. tenho nojo imaginário do que tu faz. acho que estou com tédio também. sem rumo, sempre. sem deus. sempre perdida, confusa, sem planos. tudo vira escrita, tudo vira crônica. a ira, o desejo e a solidão. a ausência. que tal montar uma kitnet pra reunir você e essa gente que não presta? que tal criar mais um fanzine inútil, um sonho barato sem recheio? que tal eu esquecer você e toda essa gente e me mandar daqui imediatamente? que tal provar um pouco de morte? e você diz que quer provar-me a vida. louco. ganhei o dia, a semana e o ano, até que me dei conta de que tu estavas com outra, com outras, com todas. como sou ingênua. te odeio.
me esqueça,
me deixe,
me mate,
mary.
planos desfeitos,
nem sei o que dizer. desconfio da minha sanidade. estou comendo demais, trabalhando demais, viajando demais. desconfio dele. mas quem não desconfiaria de um homem casado e sem vergonha? é claro que ele está com outra(s). meus amigos são inúteis. cai de moto, quase morro. poderia morrer agora. quem ligaria? minha imagem no espelho me assusta. tento ficar em paz. olho o jardim, colho morangos e ameixas. medito. olho para o céu. tento esvaziar a cabeça cansada de pensar. quero estar bela e leve e revigorada pra te encontrar. tua expressão não muda. indiferença. maldito hábito alemão. mas agora, com o passar dos dias, a tua ausência nem me causa mais dor. deixo de te amar aos poucos, deixo de te ver passar, deixo os meus delírios de lado e dou vazão ao meu amor próprio. te deixo ir. me deixo ir. à tarde vou passar pela fronteira. irei de ônibus. aproveitarei o dia para ver a cidade que existe do outro lado. volto amanhã. vou ficar em um hotel. minha mochila e eu. sem companhia, com um pouco de medo, esqueço os planos de ir até o cassino. fica pra próxima. hasta, stereo.
la negra, 4/
deixe que venha o quiser escorrer dessa rosa negra, la negra rosa da fronteira. já estou do outro lado, mercedes sosa, morta, canta pra mim. rapazes fronteiriços, hospedaje 24h, sir phillip morris no cinzeiro improvisado. compro meu ópio em pesos. cortinas floridas que dão para o asfalto feito de lunas falsas. todos os países têm seus ídolos pré-fabricados. todo o amor é feito solitário. aventuras perpétuas em castelhano falado em altas velocidades. lembro de meu pai. nossa última viagem foi para bernardo de irigoyen. gasosas, framboesas, garapas & tomates. longas esperas no chevette marrom metálico. meu pai, selvagem do asfalto, cachimbos, mavericks & noviças. ouvia perla e pegava a estrada, ao lado da loura fatal que era mi madre. fronteiriços como eu. amantes, como nós. ironia. destino. porra nenhuma. cachorros sem dono, cão e cadela. lençóis surrados, poeira, suor e cerveja. eles se encontravam sem pronunciar palavra alguma em orelhões movediços. se achavam pelo cheiro, pela exuberância das formas disformes, das couraças de aura escandalosa. (cante mais, sosa, cante). o cio inevitável, a morte prematura, um novo caminho, praia ou paraguay, abortos humanos, nós. experiências que não deram certo. por que eu nasci? por que de ti? as velhas banheiras passam velozes & capengas. interrompem meu sono tardio. quero morrer como tu, sosa. em guerra com os pulmões, nas malvinas argentinas.
pelo menos até às
adios, “la negra” sosa.
a amargura é um câncer, 14/15 de outubro de 2009
“mulher?”. ele sempre me chamava de “mulher”. “é você, mulher?, ele perguntava ao telefone. “você pode, mulher?”, “mulher, você vai?”, “você quer, mulher?”. de modo que eu quisesse imaginar, como uma idiota, minuto a minuto, que só havia uma “mulher” no mundo, e que era eu. “mulher”... “mulher” para não cair no erro de trocar os nomes das amantes, para não se dar o trabalho de guardar a individualidade de cada uma, procurando enquadrá-las todas em um substantivo simples de gênero que conotasse à feminilidade própria da presa, feita simplesmente para amar.
inspirado em um trecho de “fim de caso”, de graham greene.
2 comentários:
Me de-li-ci-o lendo seus textos, Fabita. Estou literalmente impressionada. Eu quero vê-los em um livro! Você é muito boa, garota. Você me inspira a voltar a escrever.
querida rachel!
hahahaha nem sei o que dizer.
quem sabe um dia eu possa escrever um livro.
espero que escreva e escreva e escreva.
até seus dedos doerem, até o braço reclamar :D
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