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terça-feira, 14 de setembro de 2010

canção mordida

acho que desocupei esse coração tolo mordido de balas. como um quarto de hotel de caixeiros viajantes. desocupado, por um tempo mínimo. pois há sempre um forasteiro querendo entrar. comer, dormir & partir. como um hotel de estrelas perturbadas, em fim de carreira. ora beijam as paredes, ora atiram nelas com espingardas psiquiátricas, ora jogam os televisores pelas janelas. kiss, kiss. bang, bang. homicídios diários no meu velho oeste. psicotrópicos a fazem lunática. ela, a fruta-mordida. as balas, uma a uma, a fizeram escultura escarlate e disparatada. furos negros na carne. não cicatriza o fruto. fruto apodrecendo no peito, morango mofo, com largos albergues de dor. a fruta vigia a janela, a fruta se vende às paixões baratas, às drogas (i)lícitas, aos sonhos de cetim rasgado, às migalhas dormidas do teu pão. se queima toda em cada tragada ou madrugada, a cada inventiva frustrada. sou espiã da tua obra destrutiva. te vejo sucumbir noite após noite desse banco podre de metrô. eu giro contigo, eu corro, passo pelos túneis & pelas províncias & por cada estação. fico enjoada. teu movimento constante é de náusea. tum, tum, tum, tum, tum, tum. quando irá parar? quando irá explodir, cor furtada? te quero sangue na minha garganta, a prova de que partiu. quero te sentir sangue, quero te ver sangue. coleciona amores, coração, que hábito plebeu. poderia colecionar corpos e decora-los. mas não, escolheu decorar o peito de amores platônicos. decidiu levar tiros ao invés de receber rosas; guardar caveiras, ao invés de canções. em cada furo, uma caveira indigente. em cada amor, a morte à espreita.

Um comentário:

Celline disse...

Que talento vc tem ! Impressionante.