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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

BR-153: Na rota do Contestado


1ª PARTE

É como se não acreditasse que assim, tão perto, uma guerra tivesse acontecido. Mas o cemitério, chamado de a “Vala 21”, comprovaria que sim.

Seguimos a BR-153, sentido Irani, “lugar de grandes fazendeiros e criminosos de aluguel”, disse a minha companheira de viagem. Era feriado de sete de setembro, bom dia para conhecermos o “Cemitério do Contestado”. No caminho, paramos no “Coza Nostra” e experimentamos um pouco da cultura de nossos antepassados italianos, que procurava estar viva na arquitetura, na música, nas comidas e bebidas.
Ser saudada com uma placa indicativa de que ali já era o “Vale do Contestado”, provocou em mim uma sensação engraçada. É como se não acreditasse que assim, tão perto, uma guerra tivesse acontecido. Mas o cemitério, chamado de a “Vala 21”, comprovaria que sim.
Ali, nas sepulturas rudimentares, muitas sem identificação, jazem combatentes de uma guerra movida pela terra. Caboclos foram mortos e mataram, por não aceitarem ter suas terras arrancadas debaixo de seus pés por uma estrada de ferro. Não foram indenizados, tampouco reassentados. Uma luta denominada “Guerra do Contestado” (1912-1916), que teve o seu início em Irani, episódio conhecido como o “Combate do Irani”.
Tateando por um contador de histórias, fomos até a cidade, 4 km distante do cemitério. Depois de surpreender alguns moradores, nós, as estranhas criaturas forasteiras descobriram que havia um senhor com 94 anos, capaz de contar um pouco sobre as histórias da guerra.
A pequena casa verde de concreto guardava um dos mais antigos moradores da cidade. Joaquim José Miotto nasceu em 2 de agosto de 1916, na cidade de Sananduva (RS). Chegou de ônibus em Irani, depois de oito dias de viagem, no ano de em 1939. Veio atrás de uma herança de terra. “Irani era uma tocaiama de mato queimado. Era sertão. Tinha alguns caboclos que vieram de Soledade (RS), enviados por João Maria. Todos possuíam uma fotografia dele, levavam João Maria como um santo.” João Maria era um monge profeta, que foi sucedido mais tarde pelo monge Zé Maria.
“A ‘Guerra do Contestado’ começou porque os caboclos do mato acharam que a terra era deles. O caboclo não aceitava comprar as terras dos colonizadores. Então, os caboclos e os militares se mataram na espada”. Miotto conta que os caboclos viviam da erva-mate, atividade bastante rentável na época.
Ele comenta que em Irani, há um escritor de livros de histórias, que mora perto do “Cemitério do Contestado” e da “Mão de Cimento”, a grande mão que caracteriza a cidade. Assim, nosso rumo estava traçado e dava para a casa do escritor.

(Publicado no Voz do Oeste em 9 de setembro de 2010)

2 comentários:

Ester R. disse...

Porque "Mãos de Cimento" ?

fabita . disse...

o monumento, linda, as mãos de cimento.