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sábado, 25 de dezembro de 2010
Bienvenidos al tren
TESE DE MESTRADO NA USP - "O Homem torna-se tudo ou nada, conforme a educação que recebe."
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
{Encontrei esse texto na internet e fiquei abismada. Não sei se é real, mas se for, segue a linha do gonzo.}
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Viro leão, abandono a carapaça e armo a cabeleira
WikiLeaks & os pontos remotos do oeste selvagem
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
solstício de verão
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
eu chamo amor
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Curta metragem tecnicolor
Escrevi sobre ele há muitos anos, no tempo de faculdade, no Jornal Passe a Folha. Uma conversa por telefone apenas, já que ele ainda morava na cidade de Lindóia do Sul (agora o andarilho mora em Xaxim), que resultou em uma espécie de reportagem da qual me orgulho, ainda que ele não tenha gostado e não tenha feito nenhum esforço para dizer isso.
Nos livros, as viagens de cores e dores desse poeta catarinense que pode ser visto facilmente nos bares do Velho Oeste com uma humildade e um anonimato no mínimo interessantes. O senti como meu Dean Moriarty particular – personagem principal do “On The Road”, do beat Jack Kerouac, já comentado aqui. Pois, talvez seja impossível conhecê-lo sem que sua vida seja transformada de alguma forma.
Aos 29 anos, nascido em 22 de agosto de 1981, Maraschin, por muito tempo, representou um personagem que fazia parte de um universo inacessível para mim. Como se ele fosse um remanescente de um tempo perdido, um guerreiro de terras mágicas e ancestrais, um sobrevivente dos tempos de rebeldia, de subúrbios que eu jamais ousei pisar com os mesmos pés que ele pisava.
Hoje já o vejo mais próximo. Talvez ele tenha se aproximado do meu mundo, talvez eu do dele, ou ambos. O dediquei cartas e poemas e agora dedico a ele uma crítica literária, com a vontade de fazer com que mais pessoas tenham acesso a esse poeta através desse registro, que guarda um pouco dessa estranha existência, de explosões de amor difuso.
“Certas ou não, as explosões continuam polindo os sonhos cadentes. Certo ou não, um curta metragem tecnicolor, exuberante e viçoso, se aproveita da cachuleta débil e destrói a sucata e os remendos deste longa metragem branco e preto.”
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A POBREZA DO RIQUÍSSIMO
de Zaratustra, que ele cantava para si mesmo,
para suportar sua última solidão".)
Dez anos já –
e nenhuma gota me alcançou,
nem úmido vento nem orvalho do amor
- uma terra sem chuva...
Agora peço à minha sabedoria
que não se torne avara nessa aridez:
corra ela própria, goteje orvalho;
seja ela a chuva do ermo amarelado!
Um dia mandei as nuvens
embora de minhas montanhas -
um dia eu disse, "mais luz, obscuras!"
Agora as chamo, que venham:
Fazei escuro o meu redor com vossos ubres!
- quero ordenhar-vos,
vacas das alturas!
Leite quente, sabedoria, doce orvalho do amor
derramo por sobre a terra.
Fora, fora, ó verdades
de olhar sombrio!
Não quero ver em minhas montanhas
Acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos,
de mim se acerca hoje a verdade,
adoçada de sol, bronzeada de amor –
só uma verdade madura eu tiro da árvore.
Hoje estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear o acaso,
como a uma criança.
Hoje quero ser hospitaleiro
com o mal-vindo,
contra o destino mesmo não quero ter
- Zaratustra não é um ouriço.
Minha alma, insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas boas e ruins,
em cada profundeza já mergulhou.
Mas sempre igual à cortiça
Sempre bóia outra vez à tona
Bruxuleia como óleo sobre os mares morenos:
por ter essa alma me chamam o Afortunado.
Quem são meu pai e mãe?
Não é meu pai o príncipe Supérfluo,
e mãe o Riso silencioso?
Não me gerou esse duplo conúbio,
eu animal de enigma,
eu monstro luminoso,
eu esbanjador de toda a sabedoria de Zaratustra?
Hoje doente de delicadeza,
Um vento de orvalho,
Zaratustra está sentado, esperando, esperando, em suas montanhas –
eu seu próprio suco
tornado doce e cozinhado,
embaixo de seu cume,
embaixo de seu gelo,
cansado e venturoso,
um criador em seu sétimo dia.
- Quietos!
Uma verdade passa por sobre mim
Igual a uma nuvem –
com relâmpagos invisíveis ela me atinge.
Por largas lentas escadas
Sobe até mim sua felicidade:
vem, vem, querida verdade!
Quietos!
É minha verdade! –
De olhos esquivos,
De arrepios aveludados
me atinge seu olhar,
amável, mau, um olhar de moça...
Ela adivinha o fundo de minha felicidade,
ela me adivinha – ah! o que ela inventa? –
Purpúreo espreita um dragão
no sem-fundo de um olhar de moça.
Quietos! Minha verdade fala!
Ai de ti, Zaratustra!
Pareces alguém
que engoliu ouro:
ainda hão de te abrir a barriga!...
És rico demais,
Corruptor de muitos!
São muitos os que tornas invejosos,
são muitos os que tornas pobres...
A mim própria tua luz faz sombra –
ela me enregela: vai embora, tu, que és rico,
vai, Zaratustra, sai de teu sol!
Queres presentear, distribuir teu supérfluo,
mas tu próprio és o mais supérfluo!
Sê esperto, tu, que és rico!
Presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!
Dez anos já –
e nenhuma gota te alcançou?
Nem úmido vento? nem orvalho do amor?
Mas quem haveria de te amar,
ó mais que rico?
Tua felicidade faz secar em torno,
Torna pobre de amor
- uma terra sem chuva...
Ninguém mais te agradece,
mas tu agradeces a todo aquele
que toma de ti:
nisso te reconheço,
ó mais que rico,
ó mais pobre de todos os ricos!
Tu te sacrificas, tua riqueza te atormenta –
Tu dás,
não te poupas, não te amas:
o grande tormento te força o tempo todo,
o tormento dos celeiros saturados, do coração saturado –
mas ninguém mais te agradece...
Tens de tornar-te mais pobre,
Sábio insensato!
Queres ser amado.
Ama-se somente aos sofredores,
só se dá amor aos que têm fome:
presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!
- Eu sou tua verdade...
FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900)
{Nunca esqueci desse poema}
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Uninverso em Dallas
Li um pouco das obras, olhei o blog
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Salada Moderna
Seja magro, fique bronzeado, gaste muito no salão de beleza, vire um enfeite para homens grotescos e ignorantes. Compre um carro, uma casa, roupas de marca... viva por dinheiro, afinal, você precisa de uma TV não sei quantas polegadas, coleções de perfumes e afins.
Vá ao carnaval, vá até a avenida, fique por lá sem fazer nada. Seja normal, morra de vergonha de não ser igual às milhares de pessoas que você pensa que conhece, coma pipoca no cinema, ouça axé, funk, tecno, emo ou qualquer coisa que te empurrarem. Ouça muito uma música e não faça ideia de quem é. Ouça Atlântida. Assista novela, mas só as da Rede Globo, imite e venere os atores, assista todos os anos às mesmas matérias na TV sem reclamar (carros alegóricos das escolas de samba feitos de material reciclável, comidas natalinas ou rituais de ano novo)... mostre que você tem “conteúdo”, assim é mais fácil conseguir empregos que rendam dinheiro.
Jogue na Mega Sena, vá ao McDonalds, em shoppings caríssimos. Diga que ama, mesmo que não perca nenhuma oportunidade de ferrar a tal pessoa, beije, abrace, arrume apelidos carinhosos para quem você odeia, faça de conta que não há nada de errado. Fale expressões que “todo mundo está falando”, beije meninas porque está na moda e, falando em moda, vire hippie, punk ou gótico de butique (adote a mais cara de todas), não faça idéia do que foram esses movimentos, mude com o vento.
Faça medicina, direito, administração, qualquer coisa que tenha “mercado”, tenha milhares de amigos de fachada e não se esqueça de cumprimentá-los quando passarem por você dizendo um “oi, tudo bem”, sem estarem com a mínima vontade de saber se você realmente está bem... o que importa é o status, a “simpatia”... e o dinheiro.
Faça do celular um instrumento indispensável, repugne pessoas pobres ou diferentes, humilhe-as, ridicularize-as, minimize-as... mostre como sua vida “opulenta”, cheia de pequenos ou grandes objetos que você poderia viver sem, é a melhor que se pode ter.
Discrimine bem o que é aceitável e o que é inaceitável hoje em dia... e o que geralmente é aceitável, vale um bom dinheiro.
Puxe o saco do chefe, dedure os seus colegas, eles são seus concorrentes. Finja-se de bonzinho. Garanta o seu, os outros que se fodam. Nunca trabalhe com o que você gosta, prenda-se ao relógio, estranhe as pessoas livres. Case “bem”, orgulhe-se disso, mesmo que “apanhe” todos os dias da sua vida e seja tratado como lixo. Tome Coca-Cola. Fofoque com o vizinho, faça a caveira dos seus familiares, fale do que você não sabe, ponha as pessoas umas contra as outras só para ver no que vai dar, aumente ou invente os fatos. Quem sabe você ganhe aliados que te ofereçam “alguma coisa”.
Queira sempre mais e mais e jamais tenha algum papel de relevância no mundo. Morra sem culpa de ter desperdiçado sua vida com futilidades. Faça tudo isso e mais um pouco e se torne um individualista bovino moderno. E não se esqueça de se orgulhar... e de ganhar dinheiro!
(Essa era eu escrevendo há alguns anos. Estou assustada.)
Carta de Plutão
Por incrível que pareça, são justamente os chefes que ganham reconhecimento dos demais e eles andam em engenhocas que custaram muitos papeizinhos, viajam para outros ambientes, entopem suas casas de objetos dos quais não consigo identificar utilidade, enquanto aqueles que cuidam das empresas, costumam caminhar mesmo na chuva e no sol forte ou ainda em grandes engenhocas que não são deles e que os apanham no horário que lhe apraz. Eles se locomovem muitas vezes de pé, bastante apertados e ainda ofertam uma boa quantia de dinheiro para poderem andar naquilo. Ah, sim... Muitos deles não podem ao menos fugir da rota empresa – casa, casa – empresa. Já ia me esquecendo, casas são os lugares que eles se aninham, mais nem todos possuem uma, assim como nem todos podem ir até a empresa, pois vários não são convidados.
Uma coisa que acho muito engraçada, é o fato deles todos se esconderem para fazer coisas que são bem naturais, pois não podem mostrar o que fazem para ninguém, mesmo sabendo que todos fazem. Há uma tênue separação entre um lugar e outro e colocam uma espécie de portal para separar os dois. Ninguém pode fazer nada digno de vergonha do lado de fora daquele portal, pois isso poderá acarretar revoltas, náuseas e constrangimentos. Vergonha é uma palavra que não sei o que é, mas que eu ouço falar por aí quando interajo com os seres. Eles dizem: “Pare com isso! Não me faça passar vergonha!”.
Outra coisa que me deixa no mínimo intrigada é como eles se assemelham a animais que dizem se chamar macacos, porque assim como os tais macacos, eles reproduzem tudo o que enxergam. Eles seguem fielmente o que mostram as criaturinhas que cabem dentro de uma espécie de caixola e também de uns papéis aglomerados multicolores. Não entendo como aquelas criaturinhas tão pequenas podem intervir na vida de seres tão grandes. Elas dizem para usarem vestimentas iguais, terem os mesmos corpos, ouvirem os mesmos sons, falarem as mesmas coisas e do mesmo jeito... É tão esquisito vê-los andando por aí. Cada dia que passa, menos consigo diferenciá-los.
Esqueci de dizer, todos os dias vários deles chegam até mim falando sobre como está o tempo. Se estiver frio, querem que esteja calor. Se estiver calor, querem que esteja frio. Se estiver chovendo, querem sol. Se tiver sol, querem chuva. Humanos... Eu particularmente não os suporto mais!
Bem, por enquanto é só. Não vejo a hora de voltar para junto de vocês. Espero que seja em breve. Enquanto isso, vou me divertindo e me indignando com as particularidades desse mundo que é cheio de tabus, injustiças e um desejo de poder descomunal. Mas acho que vocês nem vão reconhecer essas palavras, já que elas foram abolidas no nosso mundo há muitas eras. Ainda bem!
Claves de luz violeta para todos,
Andarilha de Plutão.
Era para ter pena
É, estou cansada. Muito cansada. Vocês deverão reconhecer o mundo que pretendo lançar em pequenas porções aos seus já abatidos olhos. Vocês talvez me entenderão. E se não entenderem... paciência.
Sabe quando a sua capacidade de compreensão e adaptação simplesmente parece ter desaparecido? Sabe quando você está cansada de conviver e tentar aceitar as pessoas como elas são, independente de como sejam? Quando não há mais “saco” para você tentar viver ao lado de pessoas tão diferentes de você que até o teu estômago se embrulha? Pois é, é assim que eu estou me sentindo.
Eu estou enojada desse mundinho inútil, materialista e individualista em que eu me obrigo a viver. Sim, já não dava para agüentar, tinha que vomitar. Estou estupefata dessa gente egoísta, que vende até a mãe em nome dos seus interesses ridículos, que faz “cagadas” faraônicas e jamais demonstra humildade para pedir ao menos desculpas. Que tem a “cara-de-pau” de distorcer tudo para facilitar seu lado, que não tem argumentos para se defender já que é ignorante, burro mesmo.
Cansada de ver essa gente fazer o que quer com todos, esperando ainda que o aplaudam e jamais se defendam ou se opunham. E o pior, dessa gente que nunca se coloca no lugar de ninguém e que quando alguém faz com ela o que esta pessoa já está acostumada a fazer, se revolta, bate o pé, acha tudo uma injustiça descabida.
Bando de coitados, de gados desse rebanho imundo que chamam de sociedade! Que lugar é esse em que é admirável ser fútil, exageradamente ambicioso, alienado? Estou cansada dessas criaturas que vivem pensando em dinheiro, que tudo o que fazem é pensando nisso e que mudam de idéia o tempo todo desde que a referida merda garanta-lhe lucro.
Que bosta de lugar é esse, meu Deus?! Alguém, por favor, me diga por que precisamos aturar esses coitados dançando funk, axé, pagode (ou qualquer outra porcaria que aderirem) a todo volume na avenida? Por que cargas d’água temos que ficar agüentando aquele carnaval em todo lugar? Na TV, nas ruas, nas bocas dessa gente que não tem nada melhor para fazer além de ficar se esfregando por aí? A vida inteira, o tempo todo. Por favor, alguém me diga, por que?! E ainda querem respeito, querem que admitamos a sua falta de bom senso.
O que são essas meninas estúpidas que só sabem se agarrar com qualquer outro idiota que aparece, que a única coisa que pensam em fazer é festa, em dar pra qualquer um e se orgulhar da sua lista quilométrica de gados que já pegaram e exibi-la como troféu para suas amiguinhas não menos bovinas. Essas marias-gasolinas repugnantes, vivem pensando em roupas de marca caríssimas, mesmo que passem fome em casa. Querem respeito? Ah, mas de mim não vão ter.
Mas é claro, não tem porque se preocupar. Muitas dessas coitadas acabam arranjando um trouxa que vem de fora e não conhece a sua fama de puta. Conseguem segurar o babaca e se fazem de santas. Mandam nele, pisam, humilham, e esse que teoricamente era um cara legal (não sei, já que dizem que normalmente as pessoas se merecem), acaba fazendo tudo o que a mulher quer, se submete a uma pessoa burra, fútil, que ninguém mais queria. E ela fica feliz, já que arrumou um babaca para lhe sustentar.
Faz com que ele brigue com todos os amigos, já que eles perceberam ou conhecem seu caráter (ou a falta dele), arruma confusão com a família do indivíduo, pois todos são maus, menos a dita cuja. Era pra ter pena, mas não dá.
Estou farta dessa gente que se deixa levar por qualquer tipo de moda grotesca que surge, que vive assistindo novela, que não se incomoda em ser mais um serzinho comum perdido no mundo, que não se importa em morrer sem ter feito nada de bom ao mundo.
Eu sei, talvez já fosse para eu estar acostumada, mas não consigo. Conviver num mesmo mundo com pessoas tão inescrupulosas é difícil para qualquer um que presa por si próprio. Chamem-me de preconceituosa, mas aposto que existem muitas pessoas que pensam como eu e não têm coragem de admitir, já que hoje em dia é moda ser compreensivo, fazer de conta que não há discriminação em suas almas. Não que eu apóie este sentimento, apenas não o nego.
Fico imaginando a quantidade de pessoas que batem cartão todos os dias e resumem os seus sonhos em ter um carro, uma casa ou qualquer outra coisa que vier depois de conseguirem o que queriam. Nunca tem fim, querem sempre mais. Uma TV não sei quantas polegadas, a roupa escrota mais cara da vitrine, um celular cheio de apetrechos... nunca se chega ao fim.
(Texto não datado, mas que deve ser muito antigo pelo tanto de revolta e pelo fim inesperado.)
Nessas horas tóxicas...
Gélidos lábios de lagarto
Se encostam e contam segredos
Toda manhã parece um parto
A dor conta-me os seus medos
Todo o amor, entreguei em suas pálpebras
Dentro dos seus olhos, atrás do sonho nocivo
Suas peles se esvaíram intrínsecas
Calado, esqueceu-se que estava vivo
Eu, sagrada tortura daqueles que pela terra vagam
Descobri suas vísceras na noite dos índios
Penetrei nas tendas mágicas e vi os dogmas que os escravizam
Como espiã mordaz da loucura dos ímpios.
Viagem ao Centro de Mim
Quando vi as pin-ups cintilantes & luminescentes que desciam uma a uma pelo meu teto verde gritante, pensei ter caído em uma banheira de ácido lisérgico e me afogado tal qual um pássaro louco que não sabe voar e que se lança no ar. Mas logo percebi que era minha desmedida percepção, livre e suando frio nas noites caladas. Era ela e só ela, pura e natural percepção dos seres das cores.
Senti que eu era um ponto luminoso em meio a treva rasa e senti que somente eu poderia me soltar por mim. Olhei em volta daquele banheiro fétido e já bege pela sujeira e vi que meu choro era tão desesperado quanto a minha dor solitária. Olhei para aquele sanitário que exalava fluídos carnais dos mais diversos e me senti tão pequena e tão volúvel e foi então que eu decidi, como junkie que sou, me jogar para dentro da privada e ver no que ia dar.
Meus poros captavam as fibras estimulantes dos fluídos. Eu deslizava como uma fada dos campos esquecidos. Calma e constante fui chegando ao outro lado, cheguei ao outro lado do mundo daquele banheiro dos suicidas.
Não mais vi o sangue e as lâminas jogadas pelo chão; não mais vi minha cara deslavada estampada no espelho. Espelho cruel, tão cruel. Tu me fazes me trancar dentro de mim mesma, com vergonha de me expor aos outros humanos.
Mas naquele mundo nada disso mais existia. Naquele mundo eu era “Alice no País das Maravilhas”. Grande, pequena... Entrava pelas portas minúsculas da minha mente corroída. Ó mente infernal! Tantas celas eu visualizei nela, tantos monstros carnívoros, tantas poesias inacabadas...
Viajei pela minha estrondosa mente a noite toda. Pude salvar as donzelas que tentavam se jogar dos precipícios, salvei as lolitas que se prendiam nos espelhos, desvendei as pistas dos demônios em couro preto que cantavam para as rainhas das estradas, paradas nos acostamentos dos meus sonhos mais antigos.
Eu voei, meus caros, eu voei. Assim como nos velhos tempos, nos tempos de criança. Senti aquela sensação única de ser infantil outra vez, de poder dizer a verdade ao invés das mentiras maldosas.
Flutuei nos devaneios de verão, me aconcheguei nos cantos gélidos do inverno, conheci novas paragens em cima de uma folha seca de outono e dormi aconchegada em margaridas, cravos e jasmins.
Sim, eu pude. Sim e como pude...
James D.
Suas antigas esposas assombravam-lhe a mente. Todas haviam o deixado pois não podiam amar um pobre coitado, alcoólatra, fracassado que não era capaz de satisfazer os menores de seus anseios materiais, nem a mais suave das pressões sociais que declinavam-se sob seus ombros cansados. Mas havia uma em especial, sua primeira esposa, seu primeiro e único amor: Gertrude, A Perversa. Gertrude o deixara depois de tê-lo atormentado por cinco longos anos com suas críticas mordazes & ferrenhas. James D. era um fantoche em suas mãos cheirosas. Fazia tudo o que ela queria. Cortara seus longos cabelos, aparava a barba minunciosamente a cada manhã, deixara a literatura, sua amante mais irresistível, e foi ter com um emprego penoso & massante.
Mesmo assim Gertrude não estava satisfeita. Dizem as más línguas que ela tinha um romance com o Luis, o Açougueiro. Como devem saber os açougueiros são os melhores amantes, assim como as enfermeiras & seus bustos fartos.
(Texto provavelmente sem fim)
revival
um beijo a todos.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
John Lennon: a paixão que sobrevive
Após 30 anos da morte de John Lennon, o líder dos Beatles continua fazendo parte da vida de Paulo e do filho Paulinho, integrante das bandas Mister Magoo e Power Trio
Filho do vendedor de bananas Osvaldo – dono da primeira fruteira da cidade, onde fica hoje a Nostra Casa – Paulo Dorvalino Franzmann odiava ser chamado de “bananeiro”. Chegava a fingir que não era com ele quando ouvia o apelido por aí. Até que depois de um grande sucesso de Jorge Ben, regravado pelos Incríveis, “Vendedor de Bananas” (Olha a banana / Olha o bananeiro / Eu trago bananas prá vender / Bananas de todas qualidades / Quem vai querer), Paulo e seus amigos da banda The Jokers resolveram adotar o nome Os Bananas.
“Bananeiro”, hoje com 59 anos, nascido em 26 de julho de 1951 em Chapecó, era guitarrista e vocalista da banda “rebelde” chapecoense de rock Os Bananas, surgida em 1967. “Aquilo que a gente não gostava quando éramos bem jovens, virou a nossa marca”, conta o roqueiro. A banda durou aproximadamente cinco anos. Costumavam fazer covers de bandas que gostavam, inclusive dos Beatles. Faziam show-bailes, tocando por cinco horas a fio. “Era para curtir e para dançar. Uma banda de baile, com repertório grande”, comenta o ex-integrante de Os Bananas, que chegou a gravar algumas fitas K7 na época.
“Um ser totalmente estranho”, influenciado pela Jovem Guarda, Paulo, um garoto de cabelos compridos e roupas extravagantes, alvo de discriminação, preconceito e até violência na Chapecó dos anos 60 e 70, foi uma das maiores inspirações do filho Paulo Ricardo, o Paulinho, integrante das bandas Mister Magoo e Power Trio, nascido dias antes da morte de John Lennon (Liverpool, 9 de outubro de 1940 — Nova Iorque, 8 de dezembro de 1980) em 18 de novembro de 1980. “A nossa banda acabou bem antes dele nascer. Por um tempo, houve um silêncio. O violão, até ele ter uns 14, 15 anos, ficou guardado. De repente, ele descobriu o violão. Foi até um motivo para eu buscar o instrumento de novo.”
Fãs inveterados dos Beatles, principalmente de John Lennon e Paul MCcArtney, Paulo e a esposa Beatriz, casados há 40 anos – na época, ela com 15, ele com 19 –, embalavam Paulinho e a filha Lilian Paula ao som dos meninos de Liverpool. Os dois não entendem o silêncio com que os filhos são criados pelos pais de hoje. “O vinil ficava rodando o dia inteiro, com eles pequenininhos”, diz Paulo. “O ninar era ao som do Rock and Roll”, complementa Beatriz, recordando do tempo em que estava grávida de Paulinho, quando costumava ouvir Paul MCcArtney. “Paulo até fazia serenata para mim com as músicas do John Lennon!”, prossegue a esposa. Se conheceram na boate do Chapecoense: ele tocando, ela admirando. “Ele tinha uma outra namorada, mas eu olhei, olhei e olhei e ele ficou comigo.”
Beatles, banda formada em 1960, foi uma verdadeira explosão, na definição de Paulo. “Imagine, a gente, longe, aqui no interior, a dificuldade que havia para conseguir um disco. Sorte que tínhamos amigos que traziam de fora. Não havia a facilidade da internet. Essa facilidade que tem agora, de chegar em frente ao computador e de baixar tudo o que quiser. Para tocarmos as músicas na banda, tínhamos muita dificuldade, porque precisávamos ouvi-las várias e várias vezes para tirarmos a letra. Não tinha letra impressa. Mas, como a gente era fã e gostava muito, valia o esforço. Passávamos o vinil para a fita K7. Repetíamos cem vezes para entender a letra direitinho.”
Quando o casal soube da morte de John Lennon, foi um impacto muito grande. “A maneira como ocorreu foi chocante. Ele era novo ainda (40 anos), e saber da forma como ele morreu, justamente por um fã, alguém que dizia adora-lo, foi muito forte.”
Após 30 anos da morte de John Lennon, que teria hoje 70 anos, o líder dos Beatles continua fazendo parte da vida de Paulo. “Lennon era o mais rebelde. As letras dele eram mais fortes, mais políticas. A própria presença dele era forte, com o cabelo longo mantido durante muitos anos. O Paul tinha e tem uma linha mais comportada.”
Para “Bananeiro”, “um garoto do interior”, os Beatles e John Lennon representaram uma espécie de descoberta. “Ninguém me falou deles. O meio de comunicação que tínhamos era o rádio AM. Aquilo bateu no ouvido e marcou. Havia muita dificuldade para conseguir as músicas, que chegavam depois de muito tempo em Chapecó. Hoje, toda essa moçada tem influência, nós não tínhamos essa raiz do rock.”
Os discos de Paulo e Beatriz agora estão com Paulinho – que foi representar a família roqueira no show do Beatle Paul recentemente. Mas nem por isso o pai deixa de ouvir os ídolos (e ídolos dos ídolos: Chuck Berry, Elvis Presley, Little Richard). Ouve no carro e baixa no computador suas músicas favoritas.
Quando morrer, Paulo quer como trilha sonora a música composta por Ben E. King, Jerry Leiber, Mike Stoller, “Stand By Me”, regravada pelo ídolo John Lennon. “É um som que vai ser preservado para sempre. Com 40, 50 anos da morte de Lennon, o som vai permanecer. Daqui 50 anos, ainda vão cantar e tocar Beatles e John Lennon.”
“When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, No I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me”
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Mais longe do que a vista possa alcançar
Reconhecida e feliz. É assim que a nossa querida Palhaça Barrica se sente por participar do II Encontro de Palhaças de Brasília, entre os dias 9 e 19 de dezembro. Será na UnB (Universidade de Brasília) e na sala Matins Pena, do Teatro Nacional Claudio Santoro, na mesma semana em que é comemorado o Dia do Palhaço: 10 de dezembro.
“Para mim, é uma grande alegria saber que a Barrica pode me levar para mais longe do que a minha vista possa alcançar”, comenta a palhaça. “Ir para Brasília apresentar a Barrica para outros públicos, conhecer outras palhaças, trocar estas ideias, é muito enriquecedor”.
Barrica conheceu as organizadoras do encontro no Rio de Janeiro, quando participou do “Esse monte de mulher palhaça” – o terceiro do mundo com foco nas mulheres palhaças. Ela é a única palhaça chapecoense a fazer parte do evento, realizado a cada dois anos, que tem ênfase na palhaçaria feminina. Entretanto, nos chamados Cabarés, espetáculos em que há vários números diferentes, haverá espaço para homens.
O intuito do encontro é descobrir, conhecer, reunir e divulgar a palhaçaria feminina. Nele, irão participar palhaças de todo o Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Santa Catarina) e também uma palhaça da França. Barrica se apresentará em um Cabaré, com um número de Sidney Magal; e no Restaurante da UnB, com o solo “Poráguabaixo”, criado e atuado por ela e co-dirigido pela atriz e diretora chapecoense Inajá Neckel. Haverá oficinas de palhaças, lançamento de livro, saídas de rua e fóruns de discussão sobre a arte da palhaçaria feminina.
“No Rio, no ano passado, se criou A GRUPA – Rede de Palhaçaria Feminina. Essa rede visa levantar questionamentos sobre a atuação da mulher palhaça, já que durante muitos anos, quem dominou a cena, o picadeiro, foi o homem palhaço. Agora, de uns anos para cá, este movimento tem crescido e ganhado espaço. Discutiremos sobre esses assuntos. Não será só palhaçadas”, brinca Michelle Silveira da Silva, quem está por trás da Missiê Barrica.
Recentemente, Michelle criou o blog “Palhaçaria Feminina” <http://mulherespalhacas.blogspot.com>
sábado, 4 de dezembro de 2010
Divagações sobre o fracasso ou a “vida real” dos reality shows
dança do universo
“Mamãe não voltou do supermercado”
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Amar um jornalista é...
Cine Sesc apresenta: “Edifício Master"
Don´t Smoke In Bed
admita a sua ignorância enquanto há tempo
não tenho mais idade para bancar deus
existe uma diferença básica entre eu e outros do meu tempo: o egocentrismo. me disseram semana passada, que o que me sobra em percepção, me falta em egocentrismo. me falta estima por mim. não saio por aí vomitando minhas verdades, esfregando elas nas caras que encontro. não as escancaro como se elas fossem as únicas. me falta a propensão para o embate. me falta a arrogância e a prepotência de outros do meu tempo. não olho para o outro, antes de olhar para mim, em uma espécie de egocentrismo invertido. minha seta está apontada para dentro. me falta a predisposição ao discurso. claro, nem sempre fui assim. costumava encher a boca de verdades e proliferá-las aos sete ventos. mas, sabe, nessas noites quentes e embebidas de chuva, no meu quarto com adoniran barbosa, cigarros e o ventilador agitando ideias, só o que vem de mim me interessa, no sentido de me conhecer, me descobrir, me desvendar. se precisar machucar, machuco a mim. coisa de escorpiana, quem sabe. sei que vejo meus feitos tortos contrapondo os retos e noto que quem deve ser alvo das setas, sou eu. percebo que é tão fácil apontar a seta sangrenta no alvo vizinho, tão fácil. rir com escárnio da cara alheia. por isso, faço o caminho contrário. me chamem de tola, mas vejo que todos nós, que nos colocamos nessa grande obra de arte da vida, tentamos fazer o melhor. não acho digno julgar o outro, como se eu fosse divindade encarnada. é claro que penso, falo sozinha ou desabafo os horrores que vejo, mas tento impedir que os horrores cheguem aos ouvidos de quem tenta, como eu, passar pelo mundo e deixar algo. não me digam que não há intento ao escrever, ao pintar, ao cantar. sempre há intento. estamos longe da reta ação. estamos todos incluídos em cidades doentes. até podemos tentar brincar de divindade, mas somos primitivos e buscamos, sim, algum reconhecimento. não tenho mais idade para bancar deus e quando cavalgo no vento de mim, olho para dentro o tempo todo. enquanto cavalgo e penso e escrevo sem pensar, meu destino é in. estou cravada no meu ritmo, tento acompanha-lo, faze-lo chegar ao ápice de tudo. quanto aos outros, dou a eles o que querem. se querem a minha morte, minha morte aparente eu dou. mas eu renasço, baby, renasço em mim a cada nova manhã. e só estou começando. ainda vou incomodar e muito, apenas por existir e respirar e cavalgar para dentro. não li mil livros, não sou historiadora, filósofa, psicóloga ou jornalista. sou um ser humano como qualquer outro, numa viagem louca sem roteiro. se incomodo, é uma pena. sou melhor como amante do que como combatente. dou a minha indiferença (sem) querer. tento encontrar uma compreensão que se eleva ao meio termo. não andar mais nos extremos, do amor e do ódio. o extremo é burro. ouço o chamado da vida, que é maior do que todos os métodos, do que todos os conceitos. um chamado que ouço e sigo só, para santo não entediar ou provocar ira. viajo sozinha porque a paisagem me enche os olhos e me cala. a vida é maior do que as palavras, do que a linguagem. desde pequena, duvidam que sou eu mesma quem escreve tais linhas. nunca tentei provar, apenas continuei escrevendo. mais do que as minhas palavras, é o meu silêncio. e o silêncio é sempre maior. e quanto mais escrevo e calo, mais machuco sem querer. por que? pergunte aos atiradores de seta o motivo do ódio e da desconfiança. estou vivendo a minha viagem há 27 anos, só dela eu sei. pergunte aos letrados, historiadores, filósofos, psicólogos, psicanalistas, jornalistas, escritores e poetas do meu tempo, o motivo de eu incomodar apenas por ser eu. uma criatura ignorante tateando o mundo com dedos em ferida viva, vestida de pele, tecido encarnado. pergunte a eles o motivo. aos sábios magoados, aos intelectuais, aos budas e cristos. por que alguém, que nem coragem tem para publicar um livro, pode ser tão temido e odiado? sem falar, já alvoroço as mentes. falando, então, deverei ser morta no primeiro verso. então, que seja. um brinde à minha perdição e morte. um brinde à mim, que fiz jazigo nas telas brancas da modernidade. o mundo todo pode pisotear o que sou, mas ainda assim serei eu. de mim, ninguém me tira.