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sábado, 4 de dezembro de 2010

“Mamãe não voltou do supermercado”

O livro desconfortante de Mário Bortolotto, “Mamãe não voltou do supermercado”, é meu escolhido dessa semana. Publicada pela Editora Alaúde, em 2006, a obra marca a estréia do autor de Londrina, Paraná. Bortolotto, através de seu livro, virou as costas para os clichês acadêmicos e deu um soco no estômago dos leitores. Olhou direto para a alucinação da rua, descrevendo a selvageria que habita nesse ambiente. Personagens que vivem em um meio em pleno contraste com o mundo do consumo vivenciado por outros.
A mãe de Caio sai para comprar açúcar e café no mercado da esquina e não volta mais, levando dois tiros na testa. Disso, surge o estopim do “passeio pelos infernos” de “Mamãe não voltou do supermercado”. Caio então se mune de um 38 e parte para a sua vingança, em uma verdadeira odisséia pelo submundo.
“Eu não gosto de rodoviárias. Não gosto de ônibus. Preferia um opala quatro portas, o banco de trás abarrotado de latinhas de cerveja, uma fitinha de Chuck Berry rolando e tava limpo. Sou um cara sem muitas aspirações, mas não gosto de ônibus. Os passageiros subiram. Percebi que também ia ter que fazer o mesmo. O meu banco era o último, perto do banheiro. Fui andando pelo corredor arrastando minha carcaça renitente e sacando as figuras. Todo mundo com cara de entediado.”
Diferente dos heróis antigos, Caio tem métodos nada louváveis, caracterizando o personagem mais como um anti-herói do que qualquer outra coisa, que deixa seu rastro de sangue por Londrina, Foz do Iguaçu, Ourinhos, Cuiabá e São Paulo. Apesar da semelhança com a realidade, se trata de uma obra ficcional.
O autor nasceu em 1962, em Londrina, mas mora atualmente em São Paulo. Seu estilo se assemelha ao de Charles Bukowski e Jack Kerouac, assim como os ambientes escolhidos, com a diferença de que são lugares familiares aos leitores brasileiros.
Mário Bortolotto é conhecido como ator e dramaturgo, tendo encenado e escrito quase 50 peças, entre elas “Homens, Santos e Desertores” e “Nossa Vida não Vale um Chevrolet”. Escreveu ainda o romance “Bagana na Chuva”, o livro de poemas “Para os Inocentes que Ficam em Casa” e o livro de textos jornalísticos “Gutemberg Blues”. É também vocalista e compositor da banda de jazz-blues “Tempo Instável”.

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