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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Viro leão, abandono a carapaça e armo a cabeleira

Pouca gente me entende quando digo que não nascemos em um determinado lugar por acaso. E menos gente me entende ainda quando digo que podemos andar o mundo todo, mas que temos uma espécie de dívida com o lugar de onde viemos e que devemos deixar um pouco do que aprendemos nas andanças pelo mundo nesse lugar. Pouca gente me entende quando digo que todas as áreas desenvolvidas pelos seres humanos são valiosas. Imagino o universo inteiro como uma corrente de conhecimento e de ação, baseada em conhecimentos específicos ricos, que se encaixam dependendo da propensão de cada ser. Pouca gente me entende quando prefiro a calma, a paciência, a tranqüilidade e o silêncio. Eu observo o ritmo da natureza e tendo me respeitar, respeitar o meu ritmo. Pouca gente me entende quando falo em humildade. Pessoas confundem isso com morbidez, falsidade. Eu vejo a humildade como ponto de partida. Já fui do alarde, hoje eu sei que quanto maior o alarde, maior o afastamento, o medo, a repulsa. Pouca gente me entende quando digo que se pode dizer qualquer coisa para uma pessoa, desde que se use as palavras certas e o tom certo. O tom da ofensa pode até mudar os mais teimosos, mas causa revolta, causa nojo, causa guerra. A guerra é útil, mas, através da paz, nos mostramos mais humanos. Pouca gente me entende quando digo que o bem é o que une e o mal é o que desune, apesar de eu detestar maniqueísmos e generalismos. A solidão, o choro, o grito, tudo isso está cheio de mal, de desunião. Pouca gente me entende como penso isso e sou tão reclusa. Meu exílio é medido e sempre que acho necessário me uno aos que amo, deixo minhas sementes e guardo as deles. Sou reclusa porque preciso da solidão para escrever, mas preciso da companhia, do outro, para me inspirar. Alterno exílio e multidão, numa medida que considero perfeita para ser quem eu sou. Infelizmente, pouca gente me entende quando me mostro complexa, quando peço, questiono, interrogo, sabatino. É minha paixão amadora por filosofia e minha tendência ao profundo. Invejo as pessoas simples, pois jamais fui simples. Sondo a simplicidade, sondo a ingenuidade, mas tenho em mim a desconfiança própria de um animal de dura carapaça. Apesar de tudo, sou muito sensível. Posso não mostrar sensibilidade falando, ou talvez nem escrevendo, embora tente, já que a linguagem é limitada, mas sou sensível. Pouca gente me entende, mas tenho arroubos de amor. Tenho vontade de pegar na mão, de abraçar, beijar, dizer que amo. E faço, na maioria das vezes. Não quero morrer, partir dessa existência, sem que cada um que amo saiba exatamente que eu amo. E sinto saudades. Sou do tipo que sente saudades. Saudades imensas. Sou meio saudosista, nostálgica, e tento fazer com que uma estada ao meu lado seja doce. Não quero deixar gosto amargo em boca alheia. Pouca gente me entende, mas aprendi respeito em casa. Não falo nada em tom de berro se puder falar em tom de sinfonia. E quando, normalmente, ouço uma ofensa ou injustiça, pouca gente me entende, mas lanço um sorrisão, um gracejo, uma risada, e desarmo o vingador. Costumo entender opiniões contrárias, costumo entender posicionamentos motivados por conhecimento de massa, que mudam de tempos em tempos, que seguem fases, tendências. Pouca gente me entende, quando não me abalo com ofensas. Mas há coisas que me fervem o sangue, pois sim, não sou barata! Não aceito relacionamentos pelos prazeres da carne, sexo sem amor não existe no meu dicionário, não me deixo enganar por conquistadores profissionais. Não suporto gente que só vê corpo em uma mulher e, acima de tudo, não suporto ver gente xingando amigo meu. Compro briga, não ligo, faço o que gostaria que fizessem comigo. Eu agüento o tranco, mas não agüento ver quem eu amo, de alguma forma, sofrer. Viro leão, abandono a carapaça e armo a cabeleira. Minhas garras ficam afiadas, meus dentes, presas vivas de marfim. Sou fera, sou bicho, meu amor. Pouca gente me entende, mas sou mais macho que muito homem.

Um comentário:

Renata Oliveira disse...

Cada vez mais me apaixono por seu blog. Voce escolhe bem os textos que publica. Mulher de personalidade, mulher interessante. Gostei mesmo beat.

até mais.
abraço, Re