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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Don´t Smoke In Bed


Por Guido Brasil

Manhã cinzenta num domingo de maio. Entre quatro paredes de um quarto onde tudo deveria ser perfeito, chorei. Com cuidado para não acordar você, sem conseguir entender os motivos daquela solidão, tentei me mexer na sua cama. Despedi-me de sonhos antigos. Suspirei e sufoquei qualquer som vermelho e, pela última vez, senti o sabor de um desejo. Então encolhi meu corpo. Abracei minhas pernas. Estava frio.
O mundo em desalinho e alguém tentando, de alguma forma possível, acertar os passos, sem conhecer os passos. Uma batalha interna. Um abismo. Eternamente na contramão.
Levantei da cama, vesti o seu casaco, sentei na cadeira. Olhei para você e vi o seu sono tranquilo. Pensei em gritar seu nome. Não gritei. Cruzei as pernas, acendi um cigarro, olhei pela janela e encontrei a cidade despertando. Os vultos nas outras janelas. Os carros na rua lá embaixo. Lembrei uma canção antiga, uma canção que eu amava, uma canção antes de você. Procurei pelos versos já esquecidos. Novamente senti dor. Não consegui levantar, catar as minhas coisas e sumir. Pela milésima vez, eu não consegui.
O show, eu sei, pode se transformar no circo dos horrores. Mas, enquanto alguma coisa aqui dentro durar ou eu não encontrar a minha sentença, você sempre terá um café da manhã aos domingos. Bom dia.

(Esse texto foi publicado no plástico bolha nº26)

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