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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

27

minha mão está seca. sabia que esse dia iria chegar. ela não tece mais, vê? ela rasga espelhos, ela torce imagens, mas ela não tece. quando ouço billie holiday, a diva do jazz, de dentro do carro, e vejo aqueles botecos sobreviventes noturnos, eu já não abro meus olhos com encanto. vê, meus olhos não tecem mais. e quando vejo um ser que me faria bater mais forte o peito, eu logo esqueço, pois, vê, meu peito não tece mais. desde os malditos 27 feitos, desde o maldito livro impresso, eu não teço, apenas tateio a dita nova fase. eu perdi, eu morri, vocês estão certos. vocês, montados nessa arrogância destrutiva, estão certos. cavei minha cova das letras. vê, aqui jaz a sombra pútrida do que fui. sente, o cheiro de coisa velha e morta invade o ar. não, não. não escrevo mais. não, não. não vejo mais. não, não. não me apaixono mais. centaura alada, sagitário minando o mapa, os planetas, o descendente filosófico me trouxe até aqui. mas vê, ele não quer mais imperar. sinto a necessidade de comunicar, mas comunicar o que? os gêmeos ascendem e requerem as palavras, mas eu não as tenho para dar. não sou como vocês, que falam sem saber o motivo. só falo o que a psiquê me diz, o que meu corpo tem de pérolas do espírito, só falo dos mitos manifestos, das musas que carrego e atraio. mas agora, agora tudo é passado. meu eu-divino espera o caminhante que me trará uma nova história para morar no peito, nos dedos e nos olhos. mas vê, ele tarda a chegar. e eu nunca fui tudo aquilo e nunca serei. serei apenas eu, embriagada de eus. para sempre.

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