Prisioneiro das ancas largas de Mildred, Jim Cassidy é um motorista de ônibus com más lembranças, que espera encontrar em Doris a sua salvação. Alcoólatra, ele é um personagem do subúrbio da Filadélfia, de hotéis baratos e bares sórdidos, envolvida por úmidos cais de porto.
“Ele sempre fora atraente para um certo tipo de mulher, o tipo hedonista, e era por seu corpo ser forte, denso, compacto e bastante duro. Aos trinta e seis ele tinha uma rudeza sólida numa estrutura robusta, os ombros largos e musculosos, o estômago liso e firme, as pernas bem grossas e rígidas.”
“A Garota de Cassidy”, obra publicada originalmente no ano de 1951, é um romance noir. Surgido no começo do século XX, o romance noir ou policial, sempre ocupou um lugar menor no meio literário. Considerado pela elite intelectual da época como lixo cultural, literatura barata, desprovida de elementos que levassem à reflexão do indivíduo, criada apenas para o consumo rápido e distração de pessoas “incultas”, esse tipo de ficção, ainda hoje, perambula pelos guetos da história.
Um dos principais livros de David Goodis, “A Garota de Cassidy” trata do amor e da sordidez de vidas sem perspectiva. Violência, desordem, ódio e traição coexistem com atos de amor, afeição e amizade. As relações humanas em um palco de horrores, descrito por Goodis com o tato de grande escritor, reconhecido somente depois da morte. Um verdadeiro templo de perdedores, é o que traz esse mestre do romance noir.
“Talvez café ajudasse. Acendeu o gás sob a cafeteira, sentou-se à mesa e fixou o olhar no assoalho. Virou a cabeça devagar e olhou pela janela da cozinha. A chuva estava amainando e ele podia ouvir sua batida fraca nas paredes e telhados. Se chovesse um mês inteiro, não daria nem para começar a limpar esses prédios miseráveis, ele pensou.”
A Filadélfia foi a cidade em que nasceu o escritor David Goodis, no ano de 1917. Aos 21 anos, publicou o seu primeiro livro. É autor de “Atire no pianista”, “Lua na sarjeta” e “Sexta-feira negra”. Faleceu em 1967.
Barata ou não, a literatura de David Goodis, como a de Dashiell Hammett, Raymond Chandler e James Cain, mostra a podridão de uma terra marcada pelo fracasso, esquecida por tantos escritores de seu tempo.
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