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domingo, 29 de agosto de 2010

Sodoma (H.) em chamas


Rodrigo Machado e André Romanoski trouxeram a poesia para a música e vice & versa


Uma menininha olhava atenta a performance de duas figuras singulares. Sentada em um banco alto demais para as suas pernas, num canto do “Caffé e Té Brasiliano”, naquela sexta-feira, 27 de agosto, talvez ela não fizesse ideia do que presenciava, mas estava contagiada pela banda dos dois indivíduos, chamada ao acaso de Sodoma H.

A batida era forte, a voz cavernosa. Surgia daquela garganta desconhecida, que berrava selvagem, uma música da banda da minha vida: “Well, I've been down so Goddamn long / That it looks like up to me / Well, I've been down so very damn long / That it looks like up to me / Yeah, why don't one you people / C'mon and set me free. Uma música do ultimo Long Play da banda da minha vida, um álbum-fim-de-carreira, talvez o melhor de todos.*

Possivelmente, a menina ainda não conheça Jim Morrison, líder do The Doors, ou o escritor maldito colombiano, Efraim Medina Reyes, mas conheceu Rodrigo Adriano Machado, a voz, a guitarra e a poesia do Sodoma H. – ele, uma mistura desses dois poetas e de tantos outros e de tantas artes. Assim que soltou os cabelos espessos e deu inicio ao show, ele se transformou.

Sodoma H. não cabe em um lead, não cabe em definições mínimas. Se é uma banda punk, de rock, se é uma dupla de bluesmen, se é uma banda, se é tudo ou nada disso. Definições são o de menos nessas horas. Tudo o que sei é que a voz cavernosa cantou o que há muito eu gostaria de ter ouvido. Rodrigo Adriano Machado e André Romanoski trouxeram a poesia para a música e vice & versa e tudo isso para o “Caffé e Té Brasiliano”, naquela noite de lua estranhamente sombria, amarelada, escondida por uma camada de nuvem-fumaça indescritível, propícia às andanças dos lobos.


Uma (re)volta pela memória


A primeira vez que ouvi falar de Rodrigo, foi pela boca de um amigo em comum, na “Cafeteria e Cervejaria do Tássio”, no terminal urbano, “Patrãozinho”. A descrição do amigo fez nascer em mim curiosidade e da curiosidade, minha presença tardia no “Caffé e Té Brasiliano”, quando viria o vocalista da Sodoma H. pela primeira vez. Tímido de perto, felizmente Rodrigo tinha André para as horas de aperto o que, no momento, se tratava da entrevista.

A menina do canto, entusiasmada, se apoderou da bateria de André depois do show e o caos foi quase tudo o que eu ouvi na meia hora em que passamos juntos. Deixei estar, não quis interferir no ambiente original, muito menos na diversão da menina. Cedo, já pude constatar que estava diante de duas pessoas complexas, diferentes, espécies de opostos complementares.

“Num sertão distante, a vida era difícil. Nós plantávamos tomates”, brinca André, em uma alusão às histórias das duplas sertanejas do país. A verdade, ou a suposta verdade, é que os dois se conheceram ainda pequenos. “Éramos inimigos mortais na nossa infância. A gente se conheceu aos três anos e, até os quinze, continuamos inimigos. Me mudei para um outro bairro e, por acaso, o Rodrigo se mudou para o mesmo bairro e para a mesma rua.” Depois disso, a inimizade se dissipou.

Mais tarde, Rodrigo foi para o interior. Até então, nem ele, nem André tinham ligação com a música. Num período de isolamento, Rodrigo aprendeu a tocar violão. “Ele então me obrigou a aprender a tocar algum instrumento e eu aprendi a tocar bateria.”

O punk dos Ramones, dos Sex Pistols e as músicas próprias faziam o seu repertório. Aos poucos, foram descobrindo também o punk do Brasil, vivo em bandas como Ratos do Porão, e unindo mais essa influência ao seu som.

Na adolescência, se identificavam com a ideologia anarquista. Filhos de policiais militares, os dois dizem ter crescido com certa repressão. O punk era onde “tiravam o veneno”, como dizem os presidiários. A ideologia da adolescência não permaneceu em Rodrigo. “Não acredito mais em levantes da juventude”, declara. Depois de Kurt Cobain, para ele, o rock morreu.

Em seu blog, Crimes & Ursinhos (http://crimeseursinhos.blogspot.com), Rodrigo conta sobre a Sodoma H. em um texto intimista. “Com quinze anos, depois de muito ouvir rock e outras coisas mais e achar que esse tipo de música era a salvação para um garoto desajeitado, após encontrar uma revista que falava sobre Nirvana, achei que eu também poderia dar a minha contribuição para a música.”

Ele encontrou espaço para a música na sua vida e esse espaço chamou-se Sodoma H. “Deus se revoltou e jogou bolas de fogo e de enxofre na cidade de Sodoma”, conta André, que achou a história tão punk, que elegeu esse o nome da banda. Como já havia uma banda chamada Sodoma e outra chamada Sodomah, optaram por Sodoma H.


E que entre o blues


Há pouco tempo, após uma experiência de Rodrigo na Banda De Sangue & Blues, trouxe o blues para a Sodoma H. Além desse estilo, apostam no folk e no rock clássico. Seu público é seleto, porém bastante interessado. Para esse público, fazem gravações e clipes, amadores, porém criativos. Usam a internet como forma de divulgação da banda.

Pretendem continuar com sua linha poética-musicada, rejeitando os grandes meios e o papel de mera diversão atribuído algumas vezes pelas bandas. “Continuamos sendo a Sodoma H. e continuamos fazendo as pessoas pensarem e sentirem!”, resumiu Rodrigo no final do seu texto.

Depois de tanto caos divertido, resolvo dar por acabada a entrevista, “Mas e a minha frase de efeito? E a frase para a posteridade?”, ri. Citam o nome do CD que nunca chegou a ser lançado, com a capa feita no Paintbrush: “Eles Enganarão Vocês Outra Vez”.


Matéria escrita em homenagem ao baixista Evandro “Pandero”, morto em um acidente de trabalho.


Não

Tenha medo

Papai cuida de vocês

Sejam

Bem vindos

À fabrica

Das fabricas

Somos

Unidos

Uma família feliz

Me darão

Suas vidas

Por dinheiro

Por trocados...


(Sodoma H. – Palhaços Escravos Em Uma Fábrica de Robôs)



* Música “Been Down So Long”, do album L.A. Woman, da banda The Doors.


(Publicado no Voz do Oeste em 30 de agosto de 2010)

2 comentários:

andre romas disse...

Obrigado Fabi, pela homenagem ao meu amigo e eterno baixista da SodomA H.
Evandro pandero.


ahh e meu sobrenome eh Romanoski e não romaroski... hehehehehe


teh mais45982996

fabita . disse...

hahaha
isso que eu passei pro rodrigo corrigir. se ele não se tocou, ninguém mais, além de ti vai se tocar! ninguém manda ter nome complicado.

abraço!