“Ver se a foto tinha ficado boa? Só no laboratório, dentro do quartinho escuro. Chegava a ser poético.” Rachel Kleinubing
Guarda-te-lá é o termo que originou o nome do Canyon Guartelá, um especial pedaço do mundo, localizado na cidade de Tibagi, Paraná. Conta a lenda que havia muitos ataques indígenas naquela região. Os índios eram os habitantes dali e, após a chegada dos colonizadores, houve conflito. Com a proximidade de um ataque indígena, um dos moradores da região mandou um recado para um morador do outro lado do canyon, dizendo: “Guarda-te-lá que aqui bem fico”. Os lugares ficaram conhecidos como Canyon Guartelá e Fazenda Bem Fica.
Guartelá é o sexto maior canyon do planeta em extensão. E foi esse o lugar que inspirou a jornalista Rachel Kleinubing a fazer a sua primeira e mais ousada produção fotográfica. Foram oito meses de imersão em um espaço sagrado, que resultaram no trabalho que, desde 1996, ficou cuidadosamente guardado e agora faz parte da exposição “Guarda-te-lá”.
Um trabalho de conclusão de curso de jornalismo, feito por Rachel na cidade de Ponta Grossa (PR). “Pensei em fazer algo que eu realmente gostasse e acreditasse muito, porque iria passar um ano envolvida. A proposta foi um livro reportagem com fotos de dois olhares paralelos: Mostrar a realidade do local, com fotos coloridas; e estimular o imaginário, fazendo uma brincadeira com as formas que lá existem, com fotos em preto e branco”, lembra Rachel.
“Sei muito bem que muitas coisas me pediram para serem fotografadas e eu as obedeci, sempre.” Jaques Henri Lartigue – fotógrafo
Guartelá é o sexto maior canyon do planeta em extensão. E foi esse o lugar que inspirou a jornalista Rachel Kleinubing a fazer a sua primeira e mais ousada produção fotográfica. Foram oito meses de imersão em um espaço sagrado, que resultaram no trabalho que, desde 1996, ficou cuidadosamente guardado e agora faz parte da exposição “Guarda-te-lá”.
Um trabalho de conclusão de curso de jornalismo, feito por Rachel na cidade de Ponta Grossa (PR). “Pensei em fazer algo que eu realmente gostasse e acreditasse muito, porque iria passar um ano envolvida. A proposta foi um livro reportagem com fotos de dois olhares paralelos: Mostrar a realidade do local, com fotos coloridas; e estimular o imaginário, fazendo uma brincadeira com as formas que lá existem, com fotos em preto e branco”, lembra Rachel.
“Sei muito bem que muitas coisas me pediram para serem fotografadas e eu as obedeci, sempre.” Jaques Henri Lartigue – fotógrafo
Encantada com as formas das rochas, curvas e cores do canyon, ela, apaixonada pela fotografia em preto e branco, fez as fotos com máquina analógica. “Eu tirava as fotos, revelava o negativo e ampliava, manualmente.” Um ritual maravilhoso, como diz a jornalista, porém traiçoeiro, por ser mais fácil de se perder as fotos, como chegou a acontecer na época da elaboração do projeto.
Com a ideia da exposição, Rachel se deu conta de como o processo fotográfico mudou com o passar dos anos. “A fotografia está em um outro momento. O raciocínio que tem que se ter para fotografar, é completamente diferente.” Olhar para a cena e enxergar ela em P&B e imaginar como a luz está se inserindo na cena, eram elementos do ritual. “Imaginava como a luz ia bater, que sombra ela iria dar”, conta.
A modelo da produção, uma amiga de Rachel, acreditou na ideia e encarou o desafio, assim como um colega de faculdade, que também fez parte do trabalho. “Eu, a modelo e ele íamos para o canyon. Ele registrou, em fotos coloridas, a realidade do lugar; eu fiquei com o imaginário, com a arte em P&B. Ele pegava a câmera e sumia dentro do canyon. Eu e ela passávamos o dia fotografando. Levávamos uma mochila com lanche e ficávamos por lá.”
A energia do lugar é algo que a artista guarda na memória. “A região dos Campos Gerais é fantástica.” Pouco visitado na época, o canyon era um tanto inacessível. Apesar de ter transformado em parque estadual, pelo patrimônio que representa, para entrar lá era preciso passar por uma fazenda. “Tínhamos que ir até a fazenda de um senhor, pedir licença para passar por um pequeno portão, para daí entrar no canyon.” Naquele tempo, não existiam registros de Guartelá. “Apenas um ou outro aventureiro que ia acampar, como nós fazíamos, e tirava fotos.”
O canyon foi esculpido pelo rio. Para ser estudado, Rachel precisou conhecer um pouco de geologia, história e geografia, para assim produzir o livro reportagem que nunca chegou a ser publicado.
Mostrar o seu trabalho é um momento emocionante, por ser esse um trabalho ousado e forte. Antes dessa exposição, Rachel fez apenas uma anterior, com fotos de passagens por Paris, fotos de animais do interior de Chapecó, que fizeram parte de uma exposição chamada de “Olhar de Contemplação”, feita em 2006. Se tratava de fotos que surgiram de determinados olhares, registradas em alguns locais. Já a exposição “Guarda-te-lá”, é um trabalho de criação, minuciosamente planejado, em um lugar específico.
Das 400 fotos tiradas, 24 foram escolhidas para compor a exposição. “Hoje, em qualquer viagenzinha se tira 400 fotos, por causa da tecnologia. Antigamente, se tirava uma ou outra foto. Não se tinha esse conceito de fazer muitas, para depois escolher ‘aquela foto’. Ver se a foto tinha ficado boa? Só no laboratório, dentro do quartinho escuro. Chegava a ser poético.”
A mulher nua, elemento essencial da produção, não tem o rosto mostrado nas fotografias. “O meu desejo era surpreender, mostrar a modelo a partir de uma referência de contraste, entre as formas agudas e ríspidas das rochas e as formas suaves do corpo humano. A ideia não era, necessariamente, explorar a sensualidade. Nunca foi.” Mesmo assim, o ensaio ficou sensual.
O corpo, as rochas, as árvores, o céu, as nuvens. Elementos que parecem fazer parte um do outro. Uma belíssima produção, de um grande canyon, acomodado no espaço da Casa + Arte a partir de hoje, às 19h30. A exposição permanece na galeria até o dia 25, de segunda a sexta das 9h às 12h e das 14h às 18h30. Aos sábados, das 9h às 16h.
Com a ideia da exposição, Rachel se deu conta de como o processo fotográfico mudou com o passar dos anos. “A fotografia está em um outro momento. O raciocínio que tem que se ter para fotografar, é completamente diferente.” Olhar para a cena e enxergar ela em P&B e imaginar como a luz está se inserindo na cena, eram elementos do ritual. “Imaginava como a luz ia bater, que sombra ela iria dar”, conta.
A modelo da produção, uma amiga de Rachel, acreditou na ideia e encarou o desafio, assim como um colega de faculdade, que também fez parte do trabalho. “Eu, a modelo e ele íamos para o canyon. Ele registrou, em fotos coloridas, a realidade do lugar; eu fiquei com o imaginário, com a arte em P&B. Ele pegava a câmera e sumia dentro do canyon. Eu e ela passávamos o dia fotografando. Levávamos uma mochila com lanche e ficávamos por lá.”
A energia do lugar é algo que a artista guarda na memória. “A região dos Campos Gerais é fantástica.” Pouco visitado na época, o canyon era um tanto inacessível. Apesar de ter transformado em parque estadual, pelo patrimônio que representa, para entrar lá era preciso passar por uma fazenda. “Tínhamos que ir até a fazenda de um senhor, pedir licença para passar por um pequeno portão, para daí entrar no canyon.” Naquele tempo, não existiam registros de Guartelá. “Apenas um ou outro aventureiro que ia acampar, como nós fazíamos, e tirava fotos.”
O canyon foi esculpido pelo rio. Para ser estudado, Rachel precisou conhecer um pouco de geologia, história e geografia, para assim produzir o livro reportagem que nunca chegou a ser publicado.
Mostrar o seu trabalho é um momento emocionante, por ser esse um trabalho ousado e forte. Antes dessa exposição, Rachel fez apenas uma anterior, com fotos de passagens por Paris, fotos de animais do interior de Chapecó, que fizeram parte de uma exposição chamada de “Olhar de Contemplação”, feita em 2006. Se tratava de fotos que surgiram de determinados olhares, registradas em alguns locais. Já a exposição “Guarda-te-lá”, é um trabalho de criação, minuciosamente planejado, em um lugar específico.
Das 400 fotos tiradas, 24 foram escolhidas para compor a exposição. “Hoje, em qualquer viagenzinha se tira 400 fotos, por causa da tecnologia. Antigamente, se tirava uma ou outra foto. Não se tinha esse conceito de fazer muitas, para depois escolher ‘aquela foto’. Ver se a foto tinha ficado boa? Só no laboratório, dentro do quartinho escuro. Chegava a ser poético.”
A mulher nua, elemento essencial da produção, não tem o rosto mostrado nas fotografias. “O meu desejo era surpreender, mostrar a modelo a partir de uma referência de contraste, entre as formas agudas e ríspidas das rochas e as formas suaves do corpo humano. A ideia não era, necessariamente, explorar a sensualidade. Nunca foi.” Mesmo assim, o ensaio ficou sensual.
O corpo, as rochas, as árvores, o céu, as nuvens. Elementos que parecem fazer parte um do outro. Uma belíssima produção, de um grande canyon, acomodado no espaço da Casa + Arte a partir de hoje, às 19h30. A exposição permanece na galeria até o dia 25, de segunda a sexta das 9h às 12h e das 14h às 18h30. Aos sábados, das 9h às 16h.
“VENHA COM A ALMA LIVRE E O DESEJO DE RESPIRAR GUARTELÁ”
“Guartelá é especial por ser um daqueles locais para respirar fundo e sentir o tempo passar... Ver as folhas se moverem, os animais silvestres fazerem seus barulhinhos, a água rolar até despencar das tantas cascatas. Um lugar para observar as rochas. A forma como essas protagonistas delineiam a paisagem. Analisar os caminhos esculpidos pelas águas, em um lento e ordenado processo natural de milhões de anos. Pensar que se é pequeno, em um universo tão imenso de perfeição.”
Rachel Kleinubing
(Publicado no Voz do Oeste em 18 de agosto de 2010)
Um comentário:
Fabi, fiquei literalmente emocionada com seu texto. Você captou a minha emoção e o sentido do trabalho. Vou guardar como uma preciosidade! Obrigada e parabéns!
Postar um comentário