prepara um chá, fecha a porta do quarto. abriga os pés na meia limpa, da roupa branca, o perfume. os trovões fazem coro para um amor que já vem. a chuva vem fraquinha e ruidosa, o casarão se ascende. sábado à noite. uma menina com seus livros. lá, fora, árvores e folhas se agitam e se banham nas lágrimas do céu. ele virá. nunca se esqueça, ele virá. quando a saudade será só lembrança, ele virá. num mantra divino, ele virá. na planície ou na montanha, quando as nuvens estiverem cinzas e fofas e macias, ele virá. caminhará pelo campo com suas calças largas manchadas de sol, e sua barba manchada de sol, e seus cabelos manchados de sol. os óculos são espelhos do céu, que anuncia a chegada com seu trem de relâmpagos azuis. colhe uma folha seca dá árvore campeira, ele virá. traz na mão a flor astral, que o vento balança e faz constelações. estrelas despencam como orvalho e pintam o chão celeste. espera com a rede na varanda, o vento da madrugada ou do dia na cara. esquece o telefone, virá a pé. não consulte o correio, virá a pé. não busque os oráculos, virá a pé. palavras de osho ou de i ching, a mente aberta para o novo. “aceita um chá, ser solitário?” dá um abraço branco, se transforma em libélula, humana alada, voa. tinge o corpo de tinta mutante, se eleva, ele virá. teu corpo de desenhos de tinta perfurante, ele virá. sonha, infante. virá o sol. recorda a infância, virá. antes que morra a poesia, antes que parta o encantamento. lerá tuas linhas antes que saiam da tua boca e dos teus dedos. permanecerá. dia após dia, como um eterno primeiro dia de férias. dorme agarrada ao peito, dorme. ele virá.
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