“Permita-me que me apresente. Sou Joseph Ferdinand Gould, formado em Harvard, magna cum difficultate, classe de 1911, e presidente da Sorte & Azar S.A. Em troca de uma bebida, posso recitar um poema, pronunciar uma palestra, discutir um tema ou tirar os sapatos e imitar uma gaivota. Prefiro gim, mas também aceito cerveja.” Era assim que o mendigo Joe Gould, “um homenzinho alegre e macilento, conhecido em todas as tabernas e botecos imundos do Greenwich Village”, se apresentava a algum “freguês” em potencial que pudesse engordar o “Fundo Joe Gould”.
Minha mente ficou tão preenchida após ler “O Segredo de Joe Gould” (“Joe Gould's Secret”), de Joseph Mitchell, finalmente, que parece agora estar vazia. Como o frio, que de tão frio, chega a queimar. Foi por um empréstimo irrecusável que ele veio até minhas mãos. Me rendi à sua fama, depois de sete anos (desde o início da faculdade de Jornalismo, em 2003) ouvindo falar dessa obra e desse autor, expoentes do Jornalismo Literário.
Fui perseguida, ao lado de Mitchell, pelo velho boêmio Joe Gould. Perambulamos, os três, pelas ruas do Village. Daqui, pude sentir os odores dos becos, dos albergues, dos bares e dos hotéis baratos. O lado da vida que encantava o autor, o lado da vida que também me encanta e que encantou o mendigo culto, vindo de família tradicional, que largou tudo para escrever a “História Oral” – seu livro misterioso, que decidiu escrever após ler um trecho de um livro de W.B. Yeats: “A história de uma nação não está nos parlamentos e nos campos de batalha, mas no que as pessoas dizem umas às outras em dias de feira e em dias de festa, e na maneira como trabalham a terra, como discutem, como fazem romaria”.
O escritor, Joseph Mitchell, conviveu com o mendigo intensamente e, a princípio, escreveu um perfil que deu o nome de “Professor Gaivota”, em 1942, publicado na revista The New Yorker. Mais de 20 anos depois, em 1964, lançou o “O Segredo de Joe Gould”, incluindo o perfil feito inicialmente e o que havia ocultado até então. O livro virou filme, em 2000, com uma produção que leva o mesmo nome.
Mitchell teve a sorte de encontrar um personagem singular das ruas de Nova Iorque e a paciência de ouvi-lo, escrever e esperar o momento certo para publicação do livro, difícil de ser explicado para aqueles que nunca o leram. Mostra que um bom repórter e um bom escritor podem ser encontrados em um bom ouvinte, que não faz uso de perguntas pré-definidas, de pautas premeditadas ou de prepotências.
Do segredo, deixo a curiosidade. Cento e poucas páginas desse bom exemplar de Jornalismo Literário serão suficientes para desvenda-lo, reconhecer Gould e perceber que ele pode estar tão perto quanto for a capacidade do leitor observar seus arredores.
Minha mente ficou tão preenchida após ler “O Segredo de Joe Gould” (“Joe Gould's Secret”), de Joseph Mitchell, finalmente, que parece agora estar vazia. Como o frio, que de tão frio, chega a queimar. Foi por um empréstimo irrecusável que ele veio até minhas mãos. Me rendi à sua fama, depois de sete anos (desde o início da faculdade de Jornalismo, em 2003) ouvindo falar dessa obra e desse autor, expoentes do Jornalismo Literário.
Fui perseguida, ao lado de Mitchell, pelo velho boêmio Joe Gould. Perambulamos, os três, pelas ruas do Village. Daqui, pude sentir os odores dos becos, dos albergues, dos bares e dos hotéis baratos. O lado da vida que encantava o autor, o lado da vida que também me encanta e que encantou o mendigo culto, vindo de família tradicional, que largou tudo para escrever a “História Oral” – seu livro misterioso, que decidiu escrever após ler um trecho de um livro de W.B. Yeats: “A história de uma nação não está nos parlamentos e nos campos de batalha, mas no que as pessoas dizem umas às outras em dias de feira e em dias de festa, e na maneira como trabalham a terra, como discutem, como fazem romaria”.
O escritor, Joseph Mitchell, conviveu com o mendigo intensamente e, a princípio, escreveu um perfil que deu o nome de “Professor Gaivota”, em 1942, publicado na revista The New Yorker. Mais de 20 anos depois, em 1964, lançou o “O Segredo de Joe Gould”, incluindo o perfil feito inicialmente e o que havia ocultado até então. O livro virou filme, em 2000, com uma produção que leva o mesmo nome.
Mitchell teve a sorte de encontrar um personagem singular das ruas de Nova Iorque e a paciência de ouvi-lo, escrever e esperar o momento certo para publicação do livro, difícil de ser explicado para aqueles que nunca o leram. Mostra que um bom repórter e um bom escritor podem ser encontrados em um bom ouvinte, que não faz uso de perguntas pré-definidas, de pautas premeditadas ou de prepotências.
Do segredo, deixo a curiosidade. Cento e poucas páginas desse bom exemplar de Jornalismo Literário serão suficientes para desvenda-lo, reconhecer Gould e perceber que ele pode estar tão perto quanto for a capacidade do leitor observar seus arredores.
(Publicado no Caderno Comportamento em 28 de agosto de 2010)
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