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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

“Uma flor nasceu na rua!”


A rua é seu ateliê e sua galeria. Digo leva vida para lugares mortos através da arte.

“Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.” O trecho do poema “A Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade, é perfeito para falar da arte de Rodrigo Cardoso (Digo C.).

Construções abandonadas, terrenos baldios, são lugares onde Digo leva arte, beleza e cor. Cenários de esquecimento, onde não há nada além de lixo. As pessoas não olham, os lugares não são demolidos, nem têm novos destinos. “Há um contraste entre esses lugares e a arte. Acho bacana essa ideia de levar vida para um lugar morto.” Segue a linha de artistas/grafiteiros nacionais, como Zezão – grafiteiro conhecido por fazer arte nos esgotos. “Ele tem a mesma ideologia: levar vida, levar felicidade, onde não existe.”

O ano de 2001 foi o ponto de partida de Digo, época em que entrou em contato com a Street Art. Morou em Curitiba, dos quatro aos 10 anos, e costumava ir para lá, tempos depois, nas férias, para visitar um amigo. Naquele ano, Digo – nascido em Jacareí (SP), há doze anos em Chapecó – foi para Curitiba e viu que o amigo estava fazendo arte urbana. “Ele criou uma tag (nome, assinatura, marca registrada), fazia a arte dele em papel contact e colava nas placas da cidade. Achei muito massa, aí pedi pra ele criar uma tag pra mim.” Em Chapecó, inseriu suas tags e começou a ir atrás de material de estudo.

Aprendeu sozinho, lendo revistas, vendo fotos e botando o spray para funcionar. Participou também de duas oficinas na cidade e, aos poucos, foi desenvolvendo o seu estilo. Nove anos depois, sua base continua sendo a Street Art, mas hoje não faz mais letras, e sim personagens, e do grafite, tem passado para as artes plásticas. A rua é seu ateliê e sua galeria, mas também usa telas.

A arte autoral de Digo, 23 anos, é caracterizada atualmente pelo pontilhismo. Seus personagens, que se espalham pela cidade, nasceram há mais ou menos um ano. “Foi através desses personagens, desses rostos, que consegui divulgar mais o meu trabalho. As pessoas começaram a gostar mais, justamente por ser diferente. Não sei como vão estar os personagens daqui algum tempo, podem mudar totalmente, mas hoje são eles que me trazem essa valorização.”

Um de seus trabalhos recentes é o nanquim sobre o papel kraft. Dessa técnica, surgiu a sua primeira exposição individual, “Saquinhos de Lanche”, promovida pela Unocultural. “Eu trabalhava no Centro Comercial e ia sempre no Café Brasiliano. Tomava café e comprava lanche. Comecei a guardar os saquinhos e um dia resolvi desenhar.” Isso coincidiu com o início do namoro com Carol, pessoa que tem incentivado o artista a divulgar o seu trabalho. Procurou na época a Casa + Arte, da marchand Miriam Soprana, atitude que alavancou a sua arte em Chapecó.

Arte incomum no oeste catarinense, já que aqui não se tinha, até então, a cultura do grafite. “A arte urbana tem crescido em Chapecó. O cenário está mudando. Tem uma galera que faz os lambs, colando atrás das placas, stickers e cartazes”, comenta.

Ele esclarece que sua arte não é vandalismo, não é feita escondida, pois a pichação e o grafite possuem conceitos diferentes. “Tento não fazer desenhos que agridam as pessoas, apesar de fazer protestos de vez em quando.” Entre os protestos dos quais participou, há um recente, feito em um dos lados da rodoviária. A ideia era falar do que incomodava. Alguns artistas tentaram retratar a corrupção, o domínio e o abuso sexual. Digo fez uma santa com um manto de cifrões, representando o uso da igreja, da religião, para fins de exploração e dinheiro.

Se tem algum reconhecimento hoje, diz que deve isso a muita ajuda. Miriam Soprana e Roberto Panarotto (Estúdio Alice) foram figuras decisivas na sua trajetória, sem contar o apoio da família e amigos.

É adepto da máxima: quanto mais sentimento, melhor a obra. “Independente do que acontecer, eu não quero parar de fazer isso. Se um dia eu for reconhecido ou não, a ponto de poder viver disso ou não, vou continuar. Não é só uma busca por dinheiro: é uma válvula de escape. Se tô estressado, chateado, triste, bravo: vou desenhar. Assim como quando estou feliz: vou desenhar. É como um tratamento psicológico. De repente, muitas pessoas são estressadas porque não desenham. Em profissões mais exatas, falta um pouco de arte.”


Por onde anda?

Digo, como parceiro do Estúdio Alice de Chapecó, participou esse ano da semana acadêmica do Curso de Design da Universidade da Região de Joinville (Univille), o Gamp 2010. Lá, deu um workshop de ilustração e novas bases. Participaram do evento grandes estúdios catarinenses, como o Estúdio Nago, de Balneário Camboriú, e o Firmorama, de Jaraguá do Sul.

Nesses dias, participa em São Paulo do Projeto 54, da loja/marca El Cabriton Y Amigos, feito com apoio da marca Copag – líder no mercado brasileiro de baralhos. Um total de 54 artistas produzirão um baralho, cada um, encarregado de uma carta. Desses 54 artistas, 36 pintarão a fachada da loja. Digo, convidado através do Flickr, é um deles. Também irá pintar no Pixel-Show, a Conferência Internacional e Feira de Arte e Design.

Conheça o trabalho de Digo: http://www.flickr.com/digo_c

Um comentário:

ANGELICA LINS disse...

Achei o trabalho incrível!

Aplausos...