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domingo, 10 de outubro de 2010

Liberdade de expressão é o "piiiiiiiiiii"!!

Sinto muito em desapontar os idealistas, mas liberdade de expressão é só um termo bonitinho e sem efeito nos jornais impressos do país. Já vi casos de demissões no sul do Brasil ocasionadas pela opinião contrária de jornalistas em relação às empresas e agora comprovo que a hipocrisia atinge meios maiores, centros maiores.

Passei por situações como essa: fui demitida por insubordinação, esse ano. Mas, claro, me falaram que era um simples “corte de gastos”. Em seguida, vi novos jornalistas otários serem contratados pela empresa em que eu trabalhava, e sendo demitidos também em seguida, sabe-se lá por qual motivo.

O caso da psicóloga Maria Rita Kehl, colunista há anos do jornal O Estado de São Paulo, trouxe à tona a minha revolta. Meus caros, censura ainda existe. É lamentável. E quantos são os donos de empresas jornalísticas que enchem a boca para falar em novos tempos, em liberdade de expressão, em diabo a quadro. Balela. Bando de vendidos.

Nos querem todos iguais, nos querem escravos. No caso de Maria Rita, disseram a ela que cometeu um “delito de opinião”. Que posição ridícula para um grande jornal que sobrevive ao século 21. Esse pequeno desabafo é uma vaia aos meios que se vendem e aos jornalistas que se vendem feito putas. É, ainda, uma vaia à minha própria condição.

Leia o texto que ocasionou a demissão de Maria Rita Kehl:


DOIS PESOS…

por Maria Rita Kehl, no Estadão, via Vermelho

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

7 comentários:

Andréa Beheregaray disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andréa Beheregaray disse...

Vc é psi também?
Digo também pq sou.
É um absurdo essa situação, e ela é sensacional, escreve bem e pensa muito. Talvez tenha sido demitida por isso.

Bom encontrar gente que pensa,

um beijo!

canbeck disse...

yo fabita, perdão pela demora, fico mais que feliz por você acompanhar o canbeck e digo que será um prazer compartilhar meu singelo mundo com uma condição simples seco suave, poder conhecer o seu! escreva-me canbeck@gmail.com msn, wellitonluiz@msn.com . (saiba que sempre que possível passo pelo seu blog alias café, cigarros e desordem faz bem! abrzzzz Tim

Andréa Beheregaray disse...

Hum, sei lá, projeção, me pareceu com ares psi :)

Beijos.

Denise Portes disse...

Gostei muito daqui e já te sigo. vai conhecer meu blog:
www.odeliriodabruxa.blogspot.com
Abraço
Denise

Thiago Castilho disse...

Finalmente um blog cheio de ódio.
Atirando palavras...
para matar.
Acabou acertando o observador e entrou para a minha lista pessoal. Parabéns.

Josi Puchalski disse...

Oi Fabita. Não conheço não! Encontrei alguns blogs legais através do teu perfil e estou seguindo. :-)

A propósito, parabéns pela qualidade do teu post.

Grande beijo

Josi