eu era criança quando passava pela reserva indígena, encantada. adorava ver aquelas mulheres nas janelas, devorando laranjas silvestres, as crianças, na beira de estrada, nuas, os homens encharcados de cachaça, pedindo espaço no asfalto. minha mãe dizia: “cuidado”. como se eles fossem nocivos. eu desconfiava. mais tarde soube que preconceito existia e que havia morte na estrada e que as casas de madeira, as coloridas casas de madeira pintadas de cores primárias, não eram os lares mais propícios para aquele povo antigo. beira da estrada só é lar para mochileiros solitários, como eu. povos com famílias numerosas, mães, que carregam filhos como se eles fossem membros de seus próprios corpos, deveriam viver em florestas macias, sem pecado. povo lindo, de velhas bruxas, de sons instrumentais vindos de bambus serpenteais. queria ser dessa tribo. velho xamã, me dê sua erva antepassada, pouso em sua tenda da estrada, uma noite de fogueira, luar & dança, montanhas & segredos, lendas noturnas, contos & sonhos indígenas. quero usar teus amuletos e entender das tuas crenças. tem lugar para um forasteiro?
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