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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quanto vale uma vida?

Mãe teria ido a uma lanchonete do terminal urbano, pedindo para a proprietária ficar com criança de 14 dias. Há quem diga que a mãe teria pedido dinheiro em troca, fato negado pela dona do bar

Drogas e abandono. Confusão, versões diferentes de um mesmo fato. A princípio, o Conselho Tutelar recebeu uma denúncia de que uma senhora no terminal urbano estava com uma criança, deixada pela mãe, dependente química.

Versão do Conselho

Nossa primeira parada é no Conselho Tutelar. A conselheira tutelar, Laurita Becker, informou que, por telefone, a dona da lanchonete disse que a mãe do bebê estaria vendendo a criança. “Mas, no momento que fui até lá, ela colocou uma outra história, de que a criança teria sido abandonada pela mãe.” Conforme Laurita, a criança foi deixada no sábado (19), dia em que a mãe estava bastante entorpecida.
Dependente de drogas, principalmente de crack, ela teria ido a uma lanchonete do Terminal Urbano "Patrãozinho", Prefeito João Destri, pedindo para a proprietária ficar com a criança. A dona da lanchonete então ficou com o menino. “Comprou roupa, leite e cuidou”, continua. Na terça-feira (22), a mãe retornou ao local para buscar a criança. Entretanto, a proprietária da lanchonete não quis devolvê-la. A dona ligou para o seu advogado e ele esclareceu que ela não poderia ficar com a criança. Nisso, ligou então para o Conselho Tutelar. “Ela fez um procedimento legal, embora devesse ter ligado ainda no sábado.”
Laurita acredita que é complicado afirmar que a mãe teria tentado vender a criança. O boato, que se propagou na mídia, é de que ela teria tentado vender o bebê por R$ 100. “Daqui a pouco, a mulher do terminal vai dizer ‘não, eu não falei que estava comprando uma criança.’ Não temos essa certeza. Porque ela também pode ser processada criminalmente.”

Desenrolar da história

Um boletim de ocorrência foi feito. O bebê foi para uma instituição de acolhimento do município. A mãe está em casa. “Agora, a Justiça tomará as medidas cabíveis à situação”, observa a conselheira. Foi encaminhada ao Caps Ad (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas), onde será acompanhada. A instituição de acolhimento fará os procedimentos legais, que inclui visita à família de origem, ver da possibilidade de retorno à família e, se não for possível da criança permanecer com a família biológica, pode ser adotada pela chamada família ampliada, ou seja, por outros parentes próximos, como tios, tias, avôs ou avós. “A ideia é que essa criança retorne à família”, completa Laurita.

Flerte fatal

Em conversa com a mãe da moça, que diz que quer cuidar da criança, o Conselho Tutelar soube que a família era do interior. “Saíram da beira do rio. São agricultores, trabalhadores, vieram para cidade com aquele sonho de melhorar de vida.” A moça entrou no universo das drogas de repente. “Disse: ‘Ah, aquela coisa. A gente nem sabia que existia. Ela começou a se envolver com umas pessoas e quando viu estava dependente.’”

Lanchonete do terminal

O nosso segundo destino é o terminal urbano. Lá, encontramos a dona da lanchonete, que não quer ser identificada, nem identificar seu estabelecimento, muito menos tirar fotos. Segundo ela, a mãe da criança freqüenta o terminal há muito tempo. Proibida de entrar na maioria dos bares, por conta de sua dependência, a moça também tem histórico de mais de 15 roubos. Ela conta que essa é a quarta criança que a moça tenta se livrar, tendo perdido os três anteriores.
Na versão da dona do bar, a criança chegou pelas mãos da mãe, esposa de um moto boy, à lanchonete na segunda-feira, 18h. Muito transtornada, a moça aparentava ter entre 25 e 27 anos. Fala que a mãe não pediu dinheiro em troca do filho, apenas queria doá-lo. “Ela disse que não queria a criança por causa da família, da mãe dela, e não tinha comida nem onde deixar o bebê.” Prometeu que iria voltar, que precisava apenas pegar um documento da criança, que tinha que comprar remédio. Na lanchonete, deixou a bolsa. Nela, havia uma receita.

Como demorou, a proprietária foi comprar leite para o bebê, que não parava de chorar. “Eu não sabia onde ela morava. Só sabia que era no São Pedro.” Esperaram até terça pela manhã. Ficou com medo de acionar a polícia. “Esperei que, a qualquer momento, ela batesse na porta.” Em sua cabeça, diz que nunca passou a ideia de adotar uma criança. Porém, ao ver o pequeno, sua concepção mudou.
“Lindo. Naquele momento, te dá aquela coisa, e tu pensa que nunca, nem um animal faria o que ela estava fazendo. Ela ficou o tempo inteiro ali, insistindo para que eu ficasse um pouquinho com a criança. Aí eu falei que eu não podia, que estava apurada. Depois eu disse: ‘Tá, parece que ninguém quer ficar com o anjo, então eu fico.’” Mãe de dois filhos, casada, ela acompanhou a gravidez da moça.
A mãe do bebê de 14 dias, que ficou pelo período de 10 dias no hospital longe dela, só teria ido ao hospital buscá-lo depois de um chamado. Quando ela foi dar à luz, o Conselho Tutelar já estava sob aviso, porque no hospital sabiam da condição de dependente da moça e seu histórico familiar.
A dona do bar revela que, com vontade de adotar o bebê depois de ter ficado por esse período com ele, foi aconselhada a pensar por um ou dois dias para que tivesse certeza se queria ou não assumir a criança. Uma vida nova, que surgiria a partir daí. De acordo com ela, a mãe da criança não tem condições de cuidar de um filho.
Apesar do bebê ter nascido de um corpo dependente de drogas, em um contexto complicado, é perfeito, conforme a proprietária da lanchonete. “Você acha que ele tem um mês, porque já queria se erguer. Quando eu dei leite para ele, chupava com tanta fome... É chocante a maneira e a frieza da mãe dele. Não dá para ela ficar andando com aquele bebê, como se fosse uma bola de pingue-pongue.” Para ela, a mãe estaria pensando em liberdade ao deixar o filho na lanchonete. “Ela sabe que a liberdade dela na rua acabou. Achou que podia deixar o bebê numa caixinha, quietinho, depois podia vir buscar.”

Burburinho

No terminal, algumas pessoas, que também não querem ser identificadas, que fazem parte do cotidiano do lugar e conhecem a mãe da criança há 10 anos, dizem que acham mesmo possível ela ter pedido dinheiro em troca da criança, para que continuasse sustentando o seu vício no crack. Eles confirmam o histórico de roubo da garota. Vista na noite do terminal, ela também faria programa por poucos trocados.

Um comentário:

Jim Carbonera disse...

Bah essa história me lembrou uma q aconteceu recentemente com uma pessoa MUITO proxima.

A mina, viciada em crack, deu o bebe como garantia ate conseguir o dinheiro da droga. Ni final o ex marido foi la pagou e pegou a criança de volta.

Isso ninguem me disse, eu vi. E até me inspirou pra escrever um conto :P

É foda, uma realidade dura, nua e crua! Só vamos dar valor normalemnte qndo vemos e vivenciamos a cena.

Bjao

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