Auditório lotado de catadores, mesa de honra de autoridades. Começa a reunião com os catadores, ontem, um grande dia para a categoria. Fortes aponta reivindicações, através de um ofício entregue ao prefeito
Ela queria logo entrar no auditório da prefeitura. Acostumada a sentar na carroça, queria aprovar o assento estofado do lugar. Nair Rosário veio acompanhada do nenê da casa, de três anos, Jonathan. Para ela, a situação dos catadores está boa, desde que não os impeçam de trabalhar. “Tavam tentando impedir a gente. Então, estamos aqui por isso, para lutar pelos nossos direitos.”
No Centro, eles não podem entrar, restando os bairros, em pontos determinados. “Queremos continuar trabalhando. Não queremos prejudicar ninguém e também não queremos ser prejudicados. Porque precisamos trabalhar para sobreviver.” Viver em cima da carroça não é coisa simples, mas que se acostuma com o tempo. Aos 30 anos, casada, com quatro filhos para criar, com o dinheiro do lixo reciclado, paga as contas, compra roupas, calçados para os filhos e as dá conta das despesas do colégio.
Dentre outros motivos, a situação está complicada porque há caminhões fazendo o trabalho de pessoas como Nair. “Chega o final do mês, vai pagar as contar e não conseguiu o dinheiro. É o nosso ganha pão. Como a gente vai ficar?”
Família em luta
Na primeira fila do auditório, família em peso para lutar pelos seus direitos. Helena Aparecida Soares, 23, mãe de três crianças (o mais velho com cinco anos), e a irmã Fabiana Aparecida da Rosa, 17, davam de mamar aos pequenos. Ao lado, o padrasto e a mãe. Todos catadores. Helena lamenta a dificuldade encontrada no seu cotidiano de catadora. “É difícil. A gente se suja bastante a roupa. Só que fazer o que? A gente não tem outro ganho. Já digo, o pão da gente é isso. Tem que se obrigar.”
Puxa carrinho nas sofridas subidas. Tem hora que para numa sombra e sente vontade de chorar, pelo nervosismo que aflora. “Tentei emprego nas firmas, mas não consegui. Tenho filhos e não vou deixar eles passarem fome. Jamais. Eles vão chegar, pedir um pedaço de pão e eu vou dizer: ‘não tem, meu filho!’ Que dor que é para uma mãe. Eu disse: ‘eu vou catar papelão.’ Não é feio. Não tô roubando, tô trabalhando. E se alguém quiser fazer farra, que faça.” Para tanto, pediu um carrinho para a mãe.
Helena mora no Tomazelli. “Às vezes faço Jardim do Lago, às vezes Colatto, sozinha, empurrando o carrinho.” Fala que um dos motivos da reunião é a baixa nos preços do material reciclável. “O preço das coisas tá lá embaixo.”
A moça teve os dois filhos sem querer. Tomava comprimido do posto, mas, pelo jeito, não surtiu efeito. Se obrigou a comprar anticoncepcional na farmácia. “Se eu continuar tomando comprimido do posto, capaz de ter mais uma ‘pencada’ de filho. Fazer o que? Agora tem que criar. Já que tá no mundo... Que nada, amanhã ou depois cresce e ajuda a mãe.”
A mãe de Helena entra na conversa. Terezinha da Lurdes Ferreira diz que sente dó da filha. “Ela, com aquele cargão. Empurrando sozinha. Um dia, menina, me deu muito dó. Suada, suada, suada. ‘Vermeia’ que era um peru. Arcadinha empurrando aquele carrinho.”
O padrasto, Antônio, 66 anos, ainda está na lida. Apesar da idade, não aparenta. Descendente de “bugre”, como lança a esposa, tem poucos cabelos brancos debaixo do chapéu charmoso. “É sangue de índio”, fala Terezinha. Na semana passada, Antônio entregou 1,8 mil quilos de ferro. “Puxado a muque”. Entretanto, o que ganhou foi “mixaria”. Se o preço estivesse bom, teria feito R$ 1 mil. Mas, com o preço atual, fez R$ 560. Hoje, o quilo do papelão, por exemplo, está 15 centavos; plástico seco 40; plástico mole 30; misto (jornal) 8. “O preço baixou. Deve fazer um mês e pouco.”
Compondo a mesa de honra
Auditório lotado de catadores, mesa de honra de autoridades. Começa a reunião com os catadores, ontem, um grande dia para a categoria. Sandro Fortes é o representante dos catadores. Prefeito Zé, como é chamado pelo secretário da Agricultura, João Rodrigues, que faz parte da platéia, agradece de início aos catadores por terem atendido ao pedido de não trafegaram mais no Centro da cidade.
Fortes aponta as reivindicações, através de um ofício entregue ao prefeito. São reivindicações que compõem um projeto, cujo prazo de elaboração dado pela prefeitura foi de 60 dias. O representante pede um prazo maior para a construção do projeto, pois acha necessário fazer um estudo aprofundado junto da prefeitura, órgãos públicos e trabalhadores. “Um projeto não é para um mês, nem para um ano; é para uma vida.”
Oito núcleos em oito regiões de Chapecó estão sendo montados, cada um com uma diretoria/coordenação, com um ou dois representantes dentro da Associação dos Trabalhadores de Serviço de Reciclagem. “Nos reunimos mensalmente com esse pessoal para discutir e decidir as situações. Chegamos à pauta de reivindicação com 12 itens, que aumentaram para 15.”
Entre os itens:
• Construção e adequação de no mínimo quatro galpões de alvenaria para poder abrigar todo o serviço de reciclagem, ainda que a necessidade seja atualmente de oito galpões. Lá os catadores terão onde depositar os materiais, ao invés de depositá-los em via pública/ao ar livre;
• Equipamentos de segurança para o trabalho, como luvas, bonés e jalecos;
• Aquisição de prensas e equipamentos de segurança para que os catadores possam enfardar o material, melhorando o preço da comercialização;
• Aumento de prazo para circulação dos veículos com tração animal em via pública, por um período de até 20 de novembro de 2011, em vias pré-estabelecidas entre a associação e o poder público;
• Convênio para manter os trabalhadores em situação de trabalho;
• Fornecimento de veículo para atender os moradores nas residências/comunidades, com visitas periódicas para que sejam reconhecidas as necessidades e transportar os trabalhadores quando necessário;
• Que o caminhão de coleta da prefeitura não entregue o material reciclável aos estabelecimentos e sim direto ao trabalhador, com roteiro pré-fixado ente o Poder Público e associação;
• Acompanhamento social e psicossocial com as famílias dos catadores;
• Contato direto da prefeitura com os núcleos e comunidades.
Nisso, um momento de ápice na reunião. Nair, ao lado do filho Jonathan, Paulo, Inês, Darci, Tereza, Vitacir, Everaldo, Neusa, Valdir, Abraão, Alessandro, Ângelo, Jair e Gilmar. Nomes de pessoas comuns, gente conhecida nas comunidades, chamadas para a mesa de honra, que sobem ao palco acompanhadas de palmas.
Zé Caramori se compromete a ajudar. Para tanto, salienta que é preciso que a voz das pessoas simples seja ouvida. “O município vai ajudar, mas quem sabe dos problemas, das necessidades, são vocês. Conhecem o dia a dia, a dor no pé, a dor no lombo.” Fala que o trabalho cumprido pelos catadores, não é somente meio de sustento deles, como é algo importante para a comunidade chapecoense.
Ele afirma que a construção do galpão na Efapi será feita ainda nesse semestre. O segundo galpão, deverá ter local definido. Promete que dois serão feitos, portanto, ainda em 2011, início de 2012. Os equipamentos de segurança serão conseguidos via convênio. Buscará linhas de crédito para compra de equipamentos, que serão pagos pelos catadores, cujo juros serão arcados pela prefeitura.
Veículos serão conseguidos através da Receita Federal, que apreende automóveis usados para tráfico entre outros, devendo cedê-los aos catadores. Os caminhões de coleta já estão, conforme Caramori, funcionando nos locais definidos pelos catadores, mas, a questão deve ser melhorada. Por meio da FASC (Fundação de Ação Social de Chapecó), o acompanhamento social e psicossocial também já está disponível. “Espero que tenha dado o encaminhamento imediato para todas as ações para que elas todas tenham solução”, conclui o prefeito.
Um comentário:
Bah, carroça é um atraso em qualquer pais do mundo. Os romanos usavam isso a dois mil anos atrás.
Fora os maus tratos com os animais (e poe maus tratos nisso) e as barberagem q cometem. Fora a falta de respeito( não é educação) é respeito que eles tem com qualquer pedestre que ouse reclamar deles.
Quem olha tudo com carinhas de anjos na foto morre de pena.
Sei que pareço um burguesinho falando isso. Um filhinho de papai, e gurizinho de apartamento.
Mas não os culpo, o pior de tudo é isso, eles são os menos culpados. Culpo o governo, q é o grande responsável por isso. Tinha que tirar esses caras d rua e dar um trabalho dentro de fabricas de reciclagem ou algum outro meio que abrigasse os carroceiros e o pessoal que anda com carrinhos de papelao pelas ruas.
Isso é o brasil, esse estupro a sociedade. E ainda tem gente q se orgulha dessa anedota q é nosso pais.
Bjs
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