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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Atrás dos números, há vidas

Pessoas matam, pessoas morrem, todos os dias. Dados, números, estatísticas. Além disso, há o medo, a revolta, o desespero. Pessoas que tentam encontrar alguma esperança, algum resto de otimismo para seguir a vida. Mais uma tentativa de homicídio? Não, mais do que isso.

As notícias nos jornais não me deixam mentir: homicídios e tentativas de homicídios são fatos cotidianos. Poderíamos tranquilamente trazer dados específicos de quantas pessoas morrem ou quase morrem em Chapecó, quem sabe na região oeste, em Santa Catarina, no Brasil, no mundo. Dados, números, estatísticas.
Semana passada, mais alguém entrou para as estatísticas: Denise Marchesini Aigner, 44 anos. Um grande jornal do estado noticiou que ela mantinha relacionamento com o suspeito do crime, do atentado contra a vida. Uma mulher de 44 anos, que sobreviveu depois de ter tido sua vida quase arrancada por uma bala de revólver, em plena Attílio Fontana, Bairro Colatto. Quarta-feira da semana passada (9). Manhã de fevereiro. Denise saía do consultório dentário do filho, único, Rafael.
Com a arma em mãos, dirigindo um Renault Scenic com placas de Ponte Serrada, Antonio Barbosa parou o carro e atirou contra a cabeça de Denise, parada em um estacionamento. No HRO (Hospital Regional do Oeste) ainda está internada em estado grave, na UTI.
Antonio e Denise moravam desde 2010 em Passos Maia. Ele, agora preso; ela, inconsciente em uma cama de hospital. Antonio tem diversas passagens pela polícia, por ameaças e agressões, mas só foi pego depois de quase acabar com a vida de Denise, embora ela tenha avisado sobre as ameaças que estava sofrendo, inclusive, dias antes da tentativa de homicídio. “Que lei é essa? Não fizeram nada. Nada. Não tinham ordem de prisão.”
É o que conta a mãe Antonia e é a partir daqui que a história começa a fazer sentido. Meu destino: Hospital Regional do Oeste. Quarta-feira, uma semana depois do crime. Pouco antes do meio-dia, chego ao lugar decidida a compreender a tênue linha que separa a vida da morte – que havia sentido tão perto há poucos minutos.
Ao lado de Antonia e de Márcia, próxima de Denise desde a infância, lavei as mãos com sabão líquido, enxuguei no papel-toalha, desinfetei em álcool, coloquei o jaleco e estava pronta para fazer a visita, assim como Antonia e Márcia. Esperei Antonia sair e ali pude sentir os reflexos do que é ter uma filha entre a vida e a morte. Denise em coma; a mãe, em desespero, tentando buscar esperanças para garantir um pouco de otimismo nas mãos geladas, que desaprenderam a rezar de repente, tão grande era o impacto da dor.
Uma dor que não compreende matemática, que fere individualmente aqueles que compõem as estatísticas, aqueles, tão individuais. “Palavras chegam de todos os lugares, telefonemas, novenas. Quero ter esperanças, mas eu nunca vi ela nesse estado”, revela a mãe Antonia. Ela e a família receberam constantes ameaças. No dia seguinte do atentado, quando Antonio Barbosa ainda não estava preso, dois de seus irmãos ameaçaram a família de Denise de morte. “Se alguém fosse dar depoimento contra ele, iam matar” continua a mãe.
Antonia, se sente como a “próxima vítima”, como ela mesma diz. Medo, revolta, desespero. Maior do que qualquer dado, número, estatística, é o sentimento de Antonia, que mal consegue se expressar. “Está todo mundo abalado”, resume. Antonia perdeu um filho de uma maneira estúpida, como ela chama, em um acidente. Tentava levar a vida, ainda que com as crises de depressão. Agora, já não sabe mais o que pensar, nem o que dizer ao ver a filha num estado impronunciável. Antonia foi a voz de Denise naquela manhã. A voz da filha Denise, que se mantém muda e inerte pela banalização da morte, pela banalização da vida. E eu, a voz de Antonia.

6 comentários:

Eutímicas ás Avessas disse...

Que texto maravilhoso!

fabita . disse...

Às 20h30 soube que Denise faleceu no horário em que eu conversava com sua mãe e minutos depois dela deixar o quarto.Denise Marchesini Aigner morreu às 12h45.

Jim Carbonera disse...

Até tem um conto ali no blog "Faroeste é aqui?!" Que eu relato exatamente isso que tu falou no final. A banalização da vida. A galera metralha colegas da escola, atiram na cabeça por ciumes, matam por um par de tenis, por um carro, etc.

A merda tem mais valor q a vida humana hoje em dia. EU fico triste com essas noticias, mas o pior q muitas vezes as pessoas nem se impressionam mais, por já estarem acostumadas. Pelo menos em paises de 3º mundo.

Enquanto isso, nossos governantes desviando e aumentando seus "pequenos salarios" e a segurançpa publica e a justiça tudo uma bosta!

Enfim,

Beijao!

http://www.estilodistinto.com/

Anderson disse...

Ando tão chocado com a maldade do Ser humano ultimamente. Mas apesar de tudo to tentando manter uma esperança de que algo, num futuro próximo, possa mudar. Enquanto isso seguem os fatos lamentáveis nos noticiários...

http://manchete-de-ontem.blogspot.com/2011/02/yes-we-can.html

Anônimo disse...

Conheci pessoalmente a Denise, e digo e repito o Sr Barbosa teve seus motivos, afinal lidar com uma pessoa infernal desperta ódio raiva, a denise apenas atraiu para ela tudo oque desejava, apesar do ódio que ainda sinto por ela espero que vá em paz e que na próxima vida seja uma pessoa de bem tenha atitudes diferentes das que teve nessa vida, quanto a jústiça que tanto falam aqui A PRÓPRIA DENISE MARCHEZINE AIGNER que simplesmente não quis representar Contra seu homem, ou seja sempre foi um apessoa pobre de espírito e de alma onde não sabia respeitar a sí própria, ou seja permitia o modo com que seu companheiro a tratava e também o tratava muito mal, então não falaçomos do Sr Barbosa um mostro e sim uma pessoa com limite de paciencia ou até pavil curto.
sabem de quem eu realmente tenho pena??DO Filho Rafael que finalmente vai poder ter paz na sua vida mas ao mesmo tempo vai sentir muita falta da mãe.
QUE A ALMA DA DENISE POSSA DESCANÇAR E QUE SE TORNE NA PRÓXIMA VIDA UMA PESSOA MELHOR.

Anônimo disse...

mas nada justifica matar uma pessoa.