“Esticando as Canelas” foi escolhido pelo projeto “Baú de Histórias” do Sesc. Pela primeira vez, um espetáculo chapecoense é selecionado para fazer parte do projeto. O espetáculo passará por 28 cidades de Santa Catarina, num total de 48 apresentações, duas em cada cidade
Céu e inferno; Deus e o diabo. O anti-herói Zé Malandro, apreciador de baralho e cachaça, procurado pela própria Morte. Fugiu tanto, que ganhou a imortalidade. Mas encarar a “temida famigerada”, não é para qualquer um. Que o diga o público do espetáculo “Esticando as Canelas”, contação de histórias representada pela atriz chapecoense Josiane Geroldi, ontem. A apresentação aconteceu no Cine Teatro do Sesc Chapecó, através do Projeto Enter, que reúne todas as linguagens da arte, iniciado no dia 5, com “O vendedor de palavras”, seguindo até o próximo sábado.
A peça é baseada no livro “Contos de enganar a morte”, do folclorista Ricardo Azevedo. Ele faz um resgate dos contos populares da tradição oral brasileira, a exemplo de Luis da Câmara Cascudo, que também fez registros escritos de história oral. “Gosto muito das versões do Ricardo Azevedo, porque ele tem um quê de humor, uma linguagem que toca, que dá vontade de contar”, fala Josiane.
A Morte é apenas um dos personagens interpretados por Josiane, que também encarna diversos outros, como um velhinho bondoso (seria Deus?), um casal de diabos, Zé Malandro e faz ainda a narrativa da peça. “Eu tento caracterizar o personagem pela voz, para que quem estiver ouvindo, consiga imaginar aquele personagem. Mesmo que eu dê pistas de como esse personagem é para mim, a pessoa, pela voz, consegue criar o seu”.
O espetáculo foi escolhido pelo projeto “Baú de Histórias” do Sesc. Pela primeira vez, um espetáculo chapecoense é selecionado para fazer parte do projeto. “Esticando as Canelas” passará por 28 cidades de Santa Catarina, num total de 48 apresentações, duas em cada cidade. A data de estréia ainda não foi definida, mas a expectativa é de que o cronograma saia em abril. “No final do ano passado, resolvemos fazer uma filmagem do espetáculo, preparar um material e mandar para a seleção”, lembra a atriz. Eram 14 grupos que concorriam. Desses, apenas cinco foram escolhidos. “É um reconhecimento legal, mas também dá medo, porque é uma grande responsabilidade. Estou bem ansiosa para que saia. Às vezes eu penso: ‘será que é verdade?’”
Josiane começou a fazer “Esticando as Canelas” em 2007. Na manhã de quarta-feira, foi a primeira apresentação em anos. Apresentou o espetáculo no ano de 2007 em algumas escolas e participou com ele de alguns circuitos do Sesc. Recentemente, a convite da técnica de cultura do Sesc, Camila Miotto, Josiane retomou o espetáculo, que veio incrementado em 2011.
A atriz fez parte de um grupo de contação de histórias chamado “Contarolar”. “Misturamos teatro com contação de histórias. Quando a gente dava voz para um personagem, queria que essa voz mudasse e que o corpo também mudasse, para o personagem ficar mais nítido para quem assistisse”, diz Camila Miotto, que também fez parte do grupo. “A partir da narrativa, imaginamos que voz o personagem tem, como ele é”, complementa Josiane.
Um espetáculo próprio para qualquer público, por se tratar de um conto popular, “Esticando as Canelas”, como revela Josiane, “está na boca de todo mundo”. Camila conta que pessoas de mais idade identificam as histórias. “Toda a história tem um quê de valores”, lança Josiane. Para Camila, o papel do contador de histórias é contar a história, sem pregar a moral, o que faz com que o público crie a sua própria leitura.
Embora seja a morte tão temida, a história deixa a ideia de que para existir vida, é preciso existir morte. “É isso que o Ricardo diz: não precisamos nos preocupar com a morte, porque ela é garantida; temos que nos preocupar com a vida e em como vivemos ela”, conclui a atriz.
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