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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Olhar demorado para um cenário de abandono



O relógio marcava pouco mais de 11h. Uma manhã de fevereiro, uma nebulosa manhã de terça-feira. Foram 52 minutos de imersão solitária na abordagem de um fenômeno social: o celibato no campo

Pouco a pouco, as luzes ganharam a escuridão e logo as imagens familiares invadiram a tela. O silêncio do Cine Teatro do Sesc Chapecó (Serviço Social do Comércio) foi quebrado pelo violão de Márcio Pazin e pela voz de Carol Pereyr. O relógio marcava pouco mais de 11h. Uma manhã de fevereiro, uma nebulosa manhã de terça-feira, dia 8. Dia escolhido para a exibição do documentário “Celibato no Campo”, projeto premiado pelo edital de cinema da Fundação Catarinense de Cultura em 2008, finalizado em agosto de 2010.
Na tela, nomes conhecidos. Direção de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, através da Margot Produções; Imagens, Dayan Schütz; Som, Rafaela Menin. Os cenários interioranos, ainda mais conhecidos: Formosa do Sul, Saudades e Seara. Foram 52 minutos de imersão solitária na abordagem de um fenômeno social: o celibato masculino no campo. Moças que trocam o trabalho duro e o aconchego do campo para encarar a competição acirrada na cidade, onde um derruba o outro sem cerimônias, como expressa uma das filhas pródigas do campo, Rafaela Ternus. Lugares que ameaçam se tornar cenários-fantasmas, que ameaçam desaparecer, assim como os casamentos, cada vez mais raros nesse meio.
Foram mais de 25 horas de gravações em formato FULL HD. “Celibato no Campo”, segundo os diretores, não tem a proposta de ser sensacionalista e sim de ocupar um papel social importante, despertando o interesse da sociedade para o novo cenário rural, de abandono, ocupado em sua maioria por casais de idosos e homens solteiros. Ao final, sem querer estragar a surpresa de quem ainda não viu, a sensação de que o campo que conhecemos, filhos e/ou netos de homens e mulheres do campo, está com os dias contados, num ritmo de transição que causa grande desconsolo.
De um lado, pessoas que viveram a vida toda em uma mesma rotina de trabalho, sol a sol, e que agora estão sós, sem o apoio dos filhos; de outro, jovens que anseiam pelo novo, que muitas vezes têm vergonha de se dizerem colonos, que querem garantir o próprio dinheiro, já que os lucros das propriedades rurais não raro ficam centralizados nas mãos dos mais velhos. Situações que demandam um olhar mais demorado da população, do Poder Público, que precisará se empenhar ao máximo se quiser garantir a permanência do jovem no campo, a continuidade de toda uma cultura e até mesmo o futuro das cidades, já que se não há quem produz, também não há alimento para fazer a roda urbana girar.
“Celibato no Campo” ganhou espaço no Jornal Folha de São Paulo em 25 de dezembro do ano passado. O filme foi lançado oficialmente em 11 de novembro de 2010, no Sesc, sendo também exibido nas comunidades rurais em que o documentário foi rodado.

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