Altas horas da noite, grevistas apelam para radinho, vuvuzela, chimarrão e café. Tudo isso “para não perder a esperança”, como diz um dos grevistas acampados em frente ao Prosegur
Ninguém quer saber de dar nome. Tudo bem. Com ou sem nomes, vários homens fazem vigília noite à dentro. Com radinho ligado na AM, rolando Tonico & Tinoco e Teixeirinha, eles apelam para a vuvuzela – instrumento que sobrou de uma Copa do Mundo frustrada –, quando um pega no sono, tomam um mate amargo ou um cafezinho e fazem o lanche ali mesmo, em frente à Prosegur. De quando em quando, também rola um baralhinho para distrair.
Lá, tem um corneteiro oficial. Com seu cata-ovo, que mais me parece o chapéu de um cantor de blues da madrugada, o corneteiro bota a vuvuzela para funcionar ao menor sinal de sono. Trabalhou durante 12 horas, para depois entrar no território de greve. Como não poderia ser diferente, assim como há o corneteiro, há o “corneteado”. “Nosso colega tá fazendo greve de fome. Estamos impressionados com ele, porque o que ele comeu hoje não chegou a 10 quilos. Ontem passou longe. Tá acontecendo alguma coisa.”
São 24h em greve. “Para não perder a esperança”, como diz um senhor, vale, vale tudo. Conversas na madrugada aliviam os revezamentos. Uma turma de dia; outra à noite. A greve começou na segunda e segue sem previsão de parada. Deixam as famílias de lado para brigar. Brigar pela dignidade, que é mais do que uma palavra estampada em vermelho nas faixas de improviso. “A gente não vê o filho acordando, nem dormindo.”
Um deles ia ter que ficar até a meia-noite. “Podia estar em casa, abraçadinho com a mulher e com os filhos. Mas são ‘ossos do ofício’. ‘Tamo’ aí, numa luta justa e ‘vamo’ até o final. Qualquer coisa, recupero esses dias perdidos.” Outro conta que a esposa entende algum sacrifício, mas que também sente em ter que passar parte da noite ali.
O acampamento foi montado com criatividade, com união, força, luta e dignidade, as mesmas virtudes que mantém a greve. Muitos deles, nunca tinham entrado em uma maratona de greve como essa. É a vez deles, a hora da luta, como as camisetas indicam. “O que nós mais queremos é que acabe a compensação de horas.”
Ninguém está ali por livre e espontânea vontade. “Se não fosse triste, seria cômico.” Outro complementa: “Bom seria se a gente não precisasse chegar a esse ponto. Que os patrões nos reconhecessem, tivessem uma visão não só da empresa crescer. Queremos que a empresa cresça, mas que as pessoas que desenvolvem ela, cresçam junto. Somos nós, os trabalhadores. Estamos brigando por uma coisa que não gostaríamos de estar brigando.”
Mas, agora que tiveram que parar, vão até o fim. Com essa parada, bancos ontem nem abriram. “Fica feio, uma vergonha para nós. Ter que tocar de ficar acampado.” Ainda assim, entendem sabiamente que as vidas valem mais e têm mais peso, do que a vergonha sentida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário