Nessa semana, vou falar do livro “O que é ser jornalista – Memórias profissionais de Ricardo Noblat”, lançado pela Editora Record, em 2004. Faz parte de uma série que me pareceu um tanto bobinha, “O que é ser”, que inclui as profissões de arquiteto, astrônomo, dentista, diretor de cinema, fonoaudiólogo, maestro e médico. O comprei para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), pois achava que ali encontraria respostas mais formais do que aquelas encontradas nos livros malucos que escolhi para fazer a dita monografia, cujo pano de fundo era o Jornalismo Gonzo. Julguei que precisava de uma resposta mais formal para que minha monografia fosse aceita. Tolice.
Bem, para a minha surpresa, o livro não era assim tão formal e bobo. E, Ricardo Noblat, que me parecia ser um daqueles jornalistas tradicionais, até que me impressionou. Cheio dos títulos, até que Noblat foi um sujeito interessante dentro da profissão. Reinventou o lead na redação do JB quando esteve no comando, incentivando os repórteres a contarem histórias, já que acreditava que as pessoas gostavam de ler histórias.
Ouvia até o indivíduo mais esquecido da empresa, em busca de opiniões. Joãozinhos da vida que Noblat fazia questão de prestar atenção, pois, se um Joãozinho entendesse uma reportagem de economia, qualquer leitor lá fora também entenderia. “Os repórteres de economia escreviam em ‘economês’. Joãzinho não entendia ‘economês’. Se lia jornal, tinha o direito de entender o que lia”, comenta em um trecho do capítulo “A síndrome de tia Zezinha”.
O moço era exigente. Queria distância de jornalista sem iniciativa. “Queria grudar no jornalista que tivesse olho para ver notícia onde os outros não viam, talento para escrever fora dos padrões convencionais, gosto para ir fundo numa investigação, vigor para jornadas diárias de 10 a 12 horas e desejo de reformar o mundo.” Exceto pelas jornadas diárias escravistas, ele me pareceu simpático. Hoje, no nosso contexto, Noblat seria um fora da lei.
Ser jornalista, para Noblat, é ser refém das leis universais que regem o Jornalismo. Leis desumanas, admite. Uma delas é que a glória de um repórter dura, no máximo, 24 horas, ao passo que o repórter se obriga a agarrar outro assunto assim que termina uma pauta. “Se não provar com regularidade que é capaz de continuar produzindo bons trabalhos, passará a ser objeto de críticas e se arriscará a perder o emprego.” Aos aspirantes e praticantes da arte das letras impressas, ouvidas e vistas, a pergunta: entre essas e outras leis universais e desumanas, você quer, mesmo, ser jornalista?
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