veja bem, eu querendo escrever por compromisso. compromisso eu só tenho com minha dor e meu sono e meu cansaço. não tenho compromisso com vocês. veja bem, eu já mudei. e o pior: me admiti. penso nesse velho corpo sendo comido pelos vermes e só sinto vontade de perambular e refletir, sentada, como buda, sorrindo para estranhos. a loucura me apossou, por tempo de uso. eu sou dela e ela é minha por uso capião. eu, eu só tenho compromisso com a minha dor e com os vermes do meu túmulo. eu, eu não comprei casa, não comprei fusca, não procriei, não fiz homem de refém. veja bem, eu não escolhi ninguém. velut luna não escolheu ninguém. ela vive na música e no latim que não sabe falar. velut luna lê tarot. fabita também. fabita vendeu suas linhas para comprar palavras como pão & circo. fabita foi e não voltou. na viagem que inventou, arrumou casa e trabalho. ela nunca mais voltou. veja bem, como um buda torto fuma o seu cigarro na noite seca. pretos são os bichanos, os vê pardos, da cor dos seus olhos, que leram demais ao anoitecer. ela mudou. não mora mais aqui. ninguém entende ela, ninguém a ama. quem dera fosse rimbaud ou baudelaire. quem dera fosse. mas não era. era um corpo comido por vermes, era um corpo bebido pela terra, embebido de musgo. um corpo no pântano, um homicídio culposo. ela não escreve mais para os jornais. ela desiste toda vez que o berro ecoa. ela não leva desaforos para casa. está velha demais para a filosofia, está velha demais para a academia. escreve listas todos os dias na sua mente insana. coração são, já foi uma vez. ela não vai mais voltar. ela nunca esteve aqui. ela não escreve mais. compromisso, apenas com os vermes. os vermes, que tem para dar de comer; são as únicas crias que dela saem. sempre pegou balas de estranhos para compor seus escritos. algumas delas, letais; algumas delas, alucinógenas, venenosas. disse que o nome da menina seria alice ou sofia. disse, mas não escreveu. aí está: alice ou sofia. bons nomes para vermes-fêmeas. ela não escolheu aquela vida regrada, ela não quis. compôs outra música bem no meio vago da madrugada. botou a vitrola para tocar e soltou os fantasmas do sótão. não pense em entender; não pense em desvendar; apenas deixe o cérebro roto acompanhar. se quiser, o embebede de gim ou rum. seu cérebro bárbaro vai navegar. e em cada porto, irá parar para vomitar uma rima gastro-intestinal. virulento é teu pobre coração. teu dedo é podre para amar. sarcástico é teu discurso que verte símbolos, signos, sinais. os trunfos já emergem do tarot. hora de dar aos vermes o que comer. segue a rima mais frígida para teu sonho embolorar.
velut luna.
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