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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A vida entre paredes

Sua vida se restringe a permanecer parado, em silêncio, encostado em uma parede da área de casa, que já guarda as marcas de seu corpo

A caminho da Trilha do Pitoco, a figura de um homem, inerte em uma casa. Barba e unha crescida, olhos inflamados, seminu por opção, independente das estações do ano, Paulo Santolin tem uma história cheia de tabus e limitações. Sua vida se restringe a permanecer parado, em silêncio, encostado em uma parede da área de casa, que já guarda as marcas de seu corpo.
Os moradores da região não querem falar a respeito abertamente, tampouco terem seus nomes divulgados, quando o assunto é Paulo. Apesar da surdez adquirida por conta de uma meningite aos 13 anos, Paulo era muito trabalhador. O que se ouve dizer é que até os seus 25 anos, ele trabalhava na roça. Saía, assistia e jogava futebol, lia jornais e revistas, como a maioria dos jovens de sua idade.
Certo dia, Paulo resolveu não mais sair da cama. Passado do meio-dia, a mãe foi ver o que o filho tinha. Ele dizia ser apenas uma gripe. Assim, recebeu os cuidados e remédios necessários para que se curasse. Os dias foram passando e ele começou a se mostrar agressivo. Queimar roupas se tornou parte de sua rotina. Paulo então foi internado, na capital catarinense. Mas, a medida não resolveu, pois ele fugiu, voltando para Chapecó.
Conversar com Paulo é quase tarefa impossível. Apesar de gentil com a reportagem do Voz do Oeste, o homem não conseguia se fazer entender, parecia falar até mesmo em uma língua desconhecida. Acenou e permitiu ser fotografado, mas pouco se moveu da posição inicial, como se fora dos limites da área da casa – onde vive sozinho, porém próximo de seus familiares –, algo incontrolável pudesse acontecer.
Seus pais já são falecidos. Os vizinhos contam que quando eram vivos, Paulo era mais agressivo. Não raro, quando a mãe levava comida para ele no quarto, ele afirmava que se saísse de lá iam prendê-lo ou levá-lo para a guerra. Saía do quarto apenas para fazer suas necessidades. Por mais de seis meses, se recusou a tomar banho. Morou por muitos anos em uma casa já muito velha e, quando quiseram construir a nova casa que ele vive hoje, se recusou a sair da antiga.
Hoje, com mais de 60 anos, não responde por si. Tomar banho, hábito comum para qualquer pessoa, não é mais praticado por ele. As roupas, rejeita, as joga no mato. Moradores dizem que muitas vezes o flagram nu em frente de casa. Recebe comida e medicação dos familiares.
Uma das hipóteses dos moradores para a situação de Paulo, foi uma pancada na cabeça que sofreu com a queda de uma trave. Eles comentam que médicos dizem que o caso de Paulo é diagnosticado como depressão, que evoluiu a ponto de transformá-lo no homem que é, marcado pelo silêncio e pela inércia.

Um comentário:

Sasha Portrait disse...

Isso acontece com mais frequência do que imaginamos. Mas a condição se manifesta em nossas vontades, desejos, e sonhos.