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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Já vivi a vida. Agora vou pra onde Deus quiser”

Desde que comecei a escrever perfis, tomei consciência do que esse trabalho significava. Os perfis são registros de pessoas incríveis que estiveram por algum tempo entre nós, que poderiam morrer sem ter suas histórias contadas, se não fossem atitudes como essa, de escrever, escrever pensando em um futuro onde elas não mais estariam na Terra, nos agraciando com as suas presenças.
Hoje recebi uma matéria triste. Uma ex-colega minha, Ana Vissotto, do Jornal Sentinela do Oeste, de Palma Sola (SC) – fronteira com a Argentina –, em que trabalhei no ano de 2009, disse que leu a matéria trágica e lembrou de mim. “O homem do táxi”, morreu. Darcy Kastner Pontes, 89, foi dono de um dos perfis mais elaborados e prazerosos da minha vida de repórter. Com tom de despedida, ele falou comigo, com aquele sotaque alemão vindo dele que eu não irei mais ouvir, que ninguém mais irá ouvir, pelo menos por aqui.
Em mais de 40 anos de profissão, nenhum acidente. O único o levou à morte. O que me alenta é o fato dele ter morrido fazendo o que mais amava: dirigir o seu táxi. Conhecia as estradas da região de Campo Erê (SC) mais do que a própria palma. Já devia ter se aposentado no ano passado, mas não o fez. Sua história agora ganha a eternidade e me sinto, apesar de triste, orgulhosa por tê-la registrado.
Vá com Deus, “homem do táxi”, meu personagem de García Márquez. Sei que já viveu a vida e que Deus deve ter desejado a sua presença em um plano maior e melhor. Onde quer que esteja, deve estar fazendo suas corridas com a desenvoltura do grande homem que foi.

Ao som de Taxman, que não tem nada a ver com táxis, mas me lembra você,
Fabiane De Carli Tedesco.


Matéria do acidente publicada no Sentinela:

Morre o “O homem do taxi”

Campoerense de 88 anos era o taxista mais velho em atividade no Brasil. Fatalidade aconteceu durante uma corrida que fez até interior de Anchieta

Uma fatalidade aconteceu na tarde da última quinta-feira, dia 6 de janeiro, na linha 7 de Setembro, zona rural de Anchieta. O taxista mais velho do Brasil, campoerense Darcy Kastner Pontes, foi realizar uma corrida no interior de Anchieta, quando num trágico acidente perdeu a vida.
Darcy era casado com Neli Pontes da Rocha Loures há mais de 60 anos, deixou quatro filhos, 13 netos e 12 bisnetos. O boato de Darcy ser o taxista mais velho do Brasil se deu após uma reportagem de televisão feita com um taxista carioca, de 83 anos, que seria o taxista mais velho em atividade encontrado até então no país.
Mesmo com 88 anos Darcy tinha fôlego para o trabalho, excelente visão, não usava óculos nem para ler jornal. O aposentado trafegava normalmente pelas ruas campoerenses e constantemente estava brincando com as pessoas que passavam pela rodoviária do município, seu ponto do dia a dia.
‘O homem do taxi’ como foi intitulado numa entrevista do Sentinela foi velado na Câmara de Vereadores de Campo Erê, recebeu várias homenagens, reunindo centenas de pessoas. Um homem íntegro e correto que deixa família e amigos enlutados.

(Jornal Sentinela do Oeste)

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