Campo Erê – De carona em uma Chevy de apelido carinhoso – Piriguete – de um vereador conhecido pelo chapelão estilo faroeste, Álvaro Luiz Viganó, resolvi seguir um boato até a rodoviária da cidade onde supostamente estaria “o taxista mais velho do Brasil”, Darcy Kastner Pontes.
Com olhar desconfiado, próprio dos nascidos entre 23 de outubro e 21 de novembro, Darcy me recebe não somente como se ele pertencesse ao lugar, mas como se o lugar também pertencesse a ele. Longe de ser por presunção, mas por familiaridade e experiência. Entre um gole e outro de café preto e uma e outra mordida do melhor pastel da cidade, na bancada da lanchonete da rodoviária, “o taxista mais velho do Brasil” me contou a sua história.
Nossa platéia era composta pelo dono do estabelecimento, a clientela, alguns taxistas e outros curiosos, o que não inibiu o senhor que me lembrou, sem explicação óbvia, o jornalista e escritor colombiano de “Cem Anos de Solidão”, Gabriel García Márquez (ele ou um de seus personagens). A inibida era mesmo eu. Porém, o esforço valeu a pena, pois, antes de Darcy se aposentar definitivamente, pôde deixar registrada nessas linhas um pouco de sua longa vida no volante.
Bandeira 1
O trono do homem do taxi, o banco do Astra cinza metálico, guarda uma arma. Precaução de quem conhece a estrada e as pessoas. A conversa com a repórter também iniciou precavida, mas, de pergunta a pergunta, foi aliviando...
E os olhos, que se enchem de vida, e a voz, com a rica entonação, própria dos descendentes de alemães, contam histórias. Oitenta e sete anos – 88 em 9 de novembro –, mais de quarenta anos de profissão, o taxista já conhecia a região aos 14 anos, quando viajava de cargueiro para comprar couro de caça, lã e cera. Material vendido depois para uma firma de Ponta Grossa (PR). O trajeto que fazia, de Clevelândia (PR) à Dionísio Cerqueira (SC), levava quatro dias para ir e quatro dias para voltar. Café pequeno para quem teve um pai, de origem portuguesa, que saiu de São Paulo aos nove anos de idade e foi morar em Clevelândia, numa viagem que durou mais de trinta dias.
Nascido então em Clevelândia, Darcy é casado há 60 anos com uma mulher que ele diz ser caprichosa, no bom sentido. Uma prima de terceiro grau cujo nome de solteira era Neli Pontes da Rocha Lores e de casada ficou Neli da Rocha Lores Pontes. “Ela trocou as pontas”, brinca o taxista. Os dois tiveram quatro filhos, treze netos e dez bisnetos.
Darcy trabalha até hoje como taxista porque se vê em perfeitas condições de desempenhar a sua função. “Achei que fosse um serviço mais leviano, que me permitiria ficar mais em casa”, conta o homem do taxi, que faz desde a leitura do jornal até as longas viagens sem a necessidade de óculos.
Antes disso, trabalhou puxando trigo, com um Chevrolet 1937, de Vila Nova (PR) à Joaçaba (SC), ao lado de seu companheiro de viagem, Paulino Esteves, que tinha um Ford 1940 – falecido em um desastre de avião em Coronel Vivida (PR) quando tentava pilotar o aeroplano. Também trabalhou com engorda solta de porcos e foi proprietário de gado. Em Campo Erê, lugar em que mora há 58 anos, foi chefe de departamento da prefeitura e delegado de policia, por duas vezes: Nos anos de 1959 e 1960. “Ainda tenho minha carteira de delegado. Fui nomeado pelo pai do Jorge Bornhausen, Irineu Bornhausen, e pelo Heriberto Hilsen. Eu não ganhava nada, não ganhei nenhum centavo, era só amor à camisa. Perder eu perdi: 49 Cruzeiros na época. Da segunda vez, eu não quis assumir, mas uns soldados foram na minha casa e me fizeram assumir a delegacia meio na marra, porque ia assumir um outro cara e eles não queriam que esse cara assumisse. Me levaram na marra na delegacia, aí eu assumi”. Mesmo na marra, procurou fazer o seu trabalho honestamente. “Se eu peguei um Cruzeiro mal havido na delegacia, não quero mais enxergar daqui até o meu carro; e se eu vendi um revólver, ou fiz alguma trapaça, quero morrer hoje ou amanhã”.
Como taxista, esteve em muitos lugares e conheceu muitas pessoas. Em mais de quarenta anos de profissão, foi multado apenas uma vez, em Maravilha (SC). “Eu levava três enfermos no carro. Estava a 49 km por hora quando me multaram. Muito devagar. Disse, em texto escrito de próprio punho, que ia dar um prêmio para eles, porque aquela era a primeira vez que eu era multado em quarenta e poucos anos de profissão. E ainda eu falei que tinha que voltar nos tempos do Ford 29 que só andava até no máximo 60 km por hora”.
De todos os carros que teve, nunca bateu nenhum. Aos 16 anos, teve uma Limousine Crider, que custou ao seu pai 1.400 mil Réis. Na época, ele já se aventurou na atividade que desempenharia no futuro. “Um casal do Rio Grande chegou em Clevelândia, estavam em lua de mel. Eles me deram uma lata de gasolina pra levar eles por aí e chegando perto de Vila Nova, Mariópolis (PR), queriam voltar e eu não sabia fazer a ré. (Era o tempo da Ditadura Militar do Getúlio Vargas, a Carteira de Habilitação era conseguida através da prefeitura. Até foi feita a minha carteira tempos mais tarde...) Sei que naquela hora eles começaram a empurrar o carro pra lá e pra cá, até que viraram pro lado de Clevelândia e eu fui embora”.
Fora a Limousine, entre os carros de Darcy estiveram três Del Reys, quatro Gols, duas Toyotas, um Ford Brasil, quatro Fuscas e outros. Das viagens que mais ficaram na lembrança foi uma até a capital gaúcha. Ele tinha uma Rural e foi levar três membros da família Furtado até o Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre. “Parei em um dos hotéis dos irmãos de Conto na Farrapos. Fui sozinho à Porto Alegre, nunca tinha ido até lá. Fui bem. Mas as pessoas ficavam admiradas de ver uma Rural de taxi, vinham, olhavam, porque lá já tinha carros bem mais modernos”.
Bandeira 2
Outra viagem que marcou o taxista foi uma que fez à Marmeleiro (PR). Era noite, Darcy dirigia um Chevrolet 1974. Enquanto tentava fazer uma curva numa estrada de chão, voltando de Marmeleiro, viu ao longe um carro parado, com uma pessoa em cada lado.
“Quando eu estava passando, eles puxaram dois revólveres. Mas eu também tinha o meu revólver debaixo do banco, tenho ele até hoje. Meu revólver tem 160 anos. Um revólver ‘doblevê’, não tem dinheiro que pague – nem por um carro novo eu troco meu revólver. E eu pensei: ‘Vão me matar’. Quis meter a mão no revólver e atirar. Tudo aconteceu tão rápido na minha cabeça. A gente, quando se vê meio apertado, pensa muito rápido. Mas aí um deles disse: ‘Não se assuste que não é assalto. Nós queremos socorro. Estamos com as mulheres aí, com as crianças... Estamos indo pro Mato Grosso, batemos em umas quatro ou cinco casas aí e ninguém abriu a porta pra nós, nenhuma janela sequer’. Eles queriam arrumar o pneu que estava furado e eu disse que o lugar mais perto pra arrumar era Marmeleiro. Aí levei um deles até Marmeleiro. Ele arrumou o pneu, fez um lanche e me perguntou quanto era a corrida, eu disse que era 15 cruzeiros. ‘Não, vou lhe pagar 30 cruzeiros’ e me deu o endereço deles em Mato Grosso, para eu visitar o dia que fosse pra lá.”
Mas a estrada é imprevisível e nem sempre há pessoas com boas intenções. Certa vez, há mais de vinte anos, Darcy fez uma corrida para uma pessoa desconhecida. “Peguei ele no Pinho Hotel e fui levando até uma comunidade perto de Marmeleiro. Quando chegamos numa certa altura, ele estava meio tragueado e pediu: ‘O senhor não tem medo de sair com gente desconhecida à noite? E pegou o revólver dele e trouxe pra frente. Eu disse: ‘Não, não tenho medo porque eu também tô com o meu revólver aqui! Eu sou muito católico, tenho fé em Nossa Senhora Aparecida e tenho coragem, não tenho muito medo de morrer, não!’ Ele falou: ‘Ah, então o senhor não tem mesmo medo?’ Digo: ‘Não, não tenho mesmo. Tu tá com o teu revólver enfiado aí e eu to com o meu preto aqui!”
Ainda assim, das muitas passagens de Darcy, nenhuma delas acabou em algo grave. O que incomoda um pouco são as pessoas que não pagam as corridas ou que se prevalecem pela idade do taxista, que vê a classe como uma classe desunida em Campo Erê.
Segundo o vereador Viganó, o boato de que Darcy seria o taxista mais velho do Brasil surgiu após a veiculação de uma reportagem de televisão feita com um taxista carioca, de 83 anos, que seria o taxista mais velho em atividade encontrado até então no país. Se seu Darcy é realmente o taxista mais velho do Brasil, ele é um taxista que se sente muito bem, por ter saúde e por poder viajar para onde quiser.
Conhecido por gostar de paletó e gravata, o taxista já esteve muito mal de saúde. “Sai de casa para ir pro médico e pedi pra mulher arrumar terno, gravata e camisa. Sempre gostei de andar caprichado. E ela começou a chorar, achando que era para o meu velório. Eu disse ‘Não, mulher. Eu quero a roupa porque eu vou parar na casa de um médico e tenho que estar bem vestido”.
A função já não rende muito dinheiro e Darcy, autônomo, pretende se aposentar definitivamente do taxi no ano que vem. “Já fiz a minha parte. Ajudei muita gente. E é preferível poder ajudar os outros do que ser ajudado. Eu agradeço à todas as pessoas que fizeram corrida comigo, que me deram valor. Acho que fiz o que pude na minha profissão. Quero que Deus ajude todas as pessoas que andaram comigo. Agora quero viver o resto da minha vida. Se der pra fazer um século, vamos, né? Se não, Deus é que sabe. Pode ser que eu vá viver como aquela Dercy Gonçalves, que morreu aos 101 anos. Já vivi a vida. Agora vou pra onde Deus quiser.”
Com olhar desconfiado, próprio dos nascidos entre 23 de outubro e 21 de novembro, Darcy me recebe não somente como se ele pertencesse ao lugar, mas como se o lugar também pertencesse a ele. Longe de ser por presunção, mas por familiaridade e experiência. Entre um gole e outro de café preto e uma e outra mordida do melhor pastel da cidade, na bancada da lanchonete da rodoviária, “o taxista mais velho do Brasil” me contou a sua história.
Nossa platéia era composta pelo dono do estabelecimento, a clientela, alguns taxistas e outros curiosos, o que não inibiu o senhor que me lembrou, sem explicação óbvia, o jornalista e escritor colombiano de “Cem Anos de Solidão”, Gabriel García Márquez (ele ou um de seus personagens). A inibida era mesmo eu. Porém, o esforço valeu a pena, pois, antes de Darcy se aposentar definitivamente, pôde deixar registrada nessas linhas um pouco de sua longa vida no volante.
Bandeira 1
O trono do homem do taxi, o banco do Astra cinza metálico, guarda uma arma. Precaução de quem conhece a estrada e as pessoas. A conversa com a repórter também iniciou precavida, mas, de pergunta a pergunta, foi aliviando...
E os olhos, que se enchem de vida, e a voz, com a rica entonação, própria dos descendentes de alemães, contam histórias. Oitenta e sete anos – 88 em 9 de novembro –, mais de quarenta anos de profissão, o taxista já conhecia a região aos 14 anos, quando viajava de cargueiro para comprar couro de caça, lã e cera. Material vendido depois para uma firma de Ponta Grossa (PR). O trajeto que fazia, de Clevelândia (PR) à Dionísio Cerqueira (SC), levava quatro dias para ir e quatro dias para voltar. Café pequeno para quem teve um pai, de origem portuguesa, que saiu de São Paulo aos nove anos de idade e foi morar em Clevelândia, numa viagem que durou mais de trinta dias.
Nascido então em Clevelândia, Darcy é casado há 60 anos com uma mulher que ele diz ser caprichosa, no bom sentido. Uma prima de terceiro grau cujo nome de solteira era Neli Pontes da Rocha Lores e de casada ficou Neli da Rocha Lores Pontes. “Ela trocou as pontas”, brinca o taxista. Os dois tiveram quatro filhos, treze netos e dez bisnetos.
Darcy trabalha até hoje como taxista porque se vê em perfeitas condições de desempenhar a sua função. “Achei que fosse um serviço mais leviano, que me permitiria ficar mais em casa”, conta o homem do taxi, que faz desde a leitura do jornal até as longas viagens sem a necessidade de óculos.
Antes disso, trabalhou puxando trigo, com um Chevrolet 1937, de Vila Nova (PR) à Joaçaba (SC), ao lado de seu companheiro de viagem, Paulino Esteves, que tinha um Ford 1940 – falecido em um desastre de avião em Coronel Vivida (PR) quando tentava pilotar o aeroplano. Também trabalhou com engorda solta de porcos e foi proprietário de gado. Em Campo Erê, lugar em que mora há 58 anos, foi chefe de departamento da prefeitura e delegado de policia, por duas vezes: Nos anos de 1959 e 1960. “Ainda tenho minha carteira de delegado. Fui nomeado pelo pai do Jorge Bornhausen, Irineu Bornhausen, e pelo Heriberto Hilsen. Eu não ganhava nada, não ganhei nenhum centavo, era só amor à camisa. Perder eu perdi: 49 Cruzeiros na época. Da segunda vez, eu não quis assumir, mas uns soldados foram na minha casa e me fizeram assumir a delegacia meio na marra, porque ia assumir um outro cara e eles não queriam que esse cara assumisse. Me levaram na marra na delegacia, aí eu assumi”. Mesmo na marra, procurou fazer o seu trabalho honestamente. “Se eu peguei um Cruzeiro mal havido na delegacia, não quero mais enxergar daqui até o meu carro; e se eu vendi um revólver, ou fiz alguma trapaça, quero morrer hoje ou amanhã”.
Como taxista, esteve em muitos lugares e conheceu muitas pessoas. Em mais de quarenta anos de profissão, foi multado apenas uma vez, em Maravilha (SC). “Eu levava três enfermos no carro. Estava a 49 km por hora quando me multaram. Muito devagar. Disse, em texto escrito de próprio punho, que ia dar um prêmio para eles, porque aquela era a primeira vez que eu era multado em quarenta e poucos anos de profissão. E ainda eu falei que tinha que voltar nos tempos do Ford 29 que só andava até no máximo 60 km por hora”.
De todos os carros que teve, nunca bateu nenhum. Aos 16 anos, teve uma Limousine Crider, que custou ao seu pai 1.400 mil Réis. Na época, ele já se aventurou na atividade que desempenharia no futuro. “Um casal do Rio Grande chegou em Clevelândia, estavam em lua de mel. Eles me deram uma lata de gasolina pra levar eles por aí e chegando perto de Vila Nova, Mariópolis (PR), queriam voltar e eu não sabia fazer a ré. (Era o tempo da Ditadura Militar do Getúlio Vargas, a Carteira de Habilitação era conseguida através da prefeitura. Até foi feita a minha carteira tempos mais tarde...) Sei que naquela hora eles começaram a empurrar o carro pra lá e pra cá, até que viraram pro lado de Clevelândia e eu fui embora”.
Fora a Limousine, entre os carros de Darcy estiveram três Del Reys, quatro Gols, duas Toyotas, um Ford Brasil, quatro Fuscas e outros. Das viagens que mais ficaram na lembrança foi uma até a capital gaúcha. Ele tinha uma Rural e foi levar três membros da família Furtado até o Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre. “Parei em um dos hotéis dos irmãos de Conto na Farrapos. Fui sozinho à Porto Alegre, nunca tinha ido até lá. Fui bem. Mas as pessoas ficavam admiradas de ver uma Rural de taxi, vinham, olhavam, porque lá já tinha carros bem mais modernos”.
Bandeira 2
Outra viagem que marcou o taxista foi uma que fez à Marmeleiro (PR). Era noite, Darcy dirigia um Chevrolet 1974. Enquanto tentava fazer uma curva numa estrada de chão, voltando de Marmeleiro, viu ao longe um carro parado, com uma pessoa em cada lado.
“Quando eu estava passando, eles puxaram dois revólveres. Mas eu também tinha o meu revólver debaixo do banco, tenho ele até hoje. Meu revólver tem 160 anos. Um revólver ‘doblevê’, não tem dinheiro que pague – nem por um carro novo eu troco meu revólver. E eu pensei: ‘Vão me matar’. Quis meter a mão no revólver e atirar. Tudo aconteceu tão rápido na minha cabeça. A gente, quando se vê meio apertado, pensa muito rápido. Mas aí um deles disse: ‘Não se assuste que não é assalto. Nós queremos socorro. Estamos com as mulheres aí, com as crianças... Estamos indo pro Mato Grosso, batemos em umas quatro ou cinco casas aí e ninguém abriu a porta pra nós, nenhuma janela sequer’. Eles queriam arrumar o pneu que estava furado e eu disse que o lugar mais perto pra arrumar era Marmeleiro. Aí levei um deles até Marmeleiro. Ele arrumou o pneu, fez um lanche e me perguntou quanto era a corrida, eu disse que era 15 cruzeiros. ‘Não, vou lhe pagar 30 cruzeiros’ e me deu o endereço deles em Mato Grosso, para eu visitar o dia que fosse pra lá.”
Mas a estrada é imprevisível e nem sempre há pessoas com boas intenções. Certa vez, há mais de vinte anos, Darcy fez uma corrida para uma pessoa desconhecida. “Peguei ele no Pinho Hotel e fui levando até uma comunidade perto de Marmeleiro. Quando chegamos numa certa altura, ele estava meio tragueado e pediu: ‘O senhor não tem medo de sair com gente desconhecida à noite? E pegou o revólver dele e trouxe pra frente. Eu disse: ‘Não, não tenho medo porque eu também tô com o meu revólver aqui! Eu sou muito católico, tenho fé em Nossa Senhora Aparecida e tenho coragem, não tenho muito medo de morrer, não!’ Ele falou: ‘Ah, então o senhor não tem mesmo medo?’ Digo: ‘Não, não tenho mesmo. Tu tá com o teu revólver enfiado aí e eu to com o meu preto aqui!”
Ainda assim, das muitas passagens de Darcy, nenhuma delas acabou em algo grave. O que incomoda um pouco são as pessoas que não pagam as corridas ou que se prevalecem pela idade do taxista, que vê a classe como uma classe desunida em Campo Erê.
Segundo o vereador Viganó, o boato de que Darcy seria o taxista mais velho do Brasil surgiu após a veiculação de uma reportagem de televisão feita com um taxista carioca, de 83 anos, que seria o taxista mais velho em atividade encontrado até então no país. Se seu Darcy é realmente o taxista mais velho do Brasil, ele é um taxista que se sente muito bem, por ter saúde e por poder viajar para onde quiser.
Conhecido por gostar de paletó e gravata, o taxista já esteve muito mal de saúde. “Sai de casa para ir pro médico e pedi pra mulher arrumar terno, gravata e camisa. Sempre gostei de andar caprichado. E ela começou a chorar, achando que era para o meu velório. Eu disse ‘Não, mulher. Eu quero a roupa porque eu vou parar na casa de um médico e tenho que estar bem vestido”.
A função já não rende muito dinheiro e Darcy, autônomo, pretende se aposentar definitivamente do taxi no ano que vem. “Já fiz a minha parte. Ajudei muita gente. E é preferível poder ajudar os outros do que ser ajudado. Eu agradeço à todas as pessoas que fizeram corrida comigo, que me deram valor. Acho que fiz o que pude na minha profissão. Quero que Deus ajude todas as pessoas que andaram comigo. Agora quero viver o resto da minha vida. Se der pra fazer um século, vamos, né? Se não, Deus é que sabe. Pode ser que eu vá viver como aquela Dercy Gonçalves, que morreu aos 101 anos. Já vivi a vida. Agora vou pra onde Deus quiser.”
(Publicado, em partes, no Sentinela do Oeste outubro de 2009)
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