Aclamado como o melhor livro de histórias curtas de Charles Bukowski, “Ao sul de lugar nenhum – histórias da vida subterrânea” foi publicado originalmente no ano de 1973. Como de costume, o autor, já comentado nesse espaço, segue sua linha maldita, mostrando que lê-lo sem sentir nenhuma reação é coisa impossível.
Um livro, como outros de Bukowski, de caráter autobiográfico, de 27 contos, de nomes impublicáveis, escritos sem pudor. A janela indiscreta que dá para os tempos de depressão, o encontro com o próprio diabo, a vida cáustica de pessoas invisíveis aos grandes olhos da sociedade, as histórias bizarras e os bastidores da rotina de escritores que encontram sucesso tanto quanto respiram ar puro nos becos dissecados por Buko, através de escrita coloquial e arrebatadora, a exemplo de “Como amam os mortos”:
“Quando não era isso, era eu ficar sentado durante dias, horas de medo incomunicável, o medo se abrindo no meio do peito como um grande botão em flor, não se podia analisar o que estava acontecendo, imaginar o porquê de tudo aquilo, o que tornava as coisas ainda piores.”
E, falando em Bukowski, recentemente soube por um leitor do “Café, Cigarros & Desordem” que um filme de 1987 chamado “Barfly – Condenados Pelo Vicio”, em português “mosca de bar”, seria o melhor baseado nas obras de Charles B., que teria escrito o roteiro e feito uma aparição silenciosa no filme. Fontes ligadas ao escritor dizem que “Barfly” seria o único filme realmente aprovado por ele em relação aos outros baseados em sua obra, estando ele presente o tempo todo durante as gravações.
Aos amantes do velho, aí está: duas dicas em uma com a melhor forma de Bukowski e suas topadas com o fracasso, que fizeram dele um dos escritores do século XX mais amados e influentes. Um anti-herói, avesso aos ideais de bondade, beleza e justiça, nutrido de algum tipo de caos que caracteriza sua obra, seja ela de arte ou não. “– Apenas não gosto de gente – ele disse. – Sabe, Will Rogers disse uma vez: ‘Nunca encontrei um homem de quem não gostasse’. Comigo é o contrário, nunca encontrei um homem de quem gostasse.”
Se sua obra tem uma estratégia de mercado malévola atrás de si (teoria da conspiração?), engolida e reproduzida por seus admiradores, não sei dizer. Mas Buko mostra uma realidade que existe, mesmo que não queiramos ver. Realidade que ele bota mesmo contra o ventilador e ganha o mundo, revelando que produções culturais podem ter esse foco: divulgar o que muitos pensam e vivem, mas não têm coragem ou condições de expor.
Um comentário:
Ótimo post para quem aprecia os brilhates malditos.
Um beijo do observador.
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