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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Não há nada que se compare a um coração desocupado...



Não há nada que se compare a um coração desocupado. Nem mesmo um coração ocupado, pelo mais doce amor correspondido, nem este pode ser comparado ao instante de paz, sossego e liberdade que de um coração desocupado emana. Ele é ele e ponto. Ele não é ansiedade, angústia ou paranóia. Ele não espera por absolutamente nada, não sofre, não inventa, não cria constelações de ilusões entre seus vãos ou rios de esperanças nos seus armazéns. Ele goza simplesmente daquele pequeno e raro momento, aquele em que sentimos que podemos partir para onde quer que desejemos, sem nos enrolarmos nos cordões de prata do amor que nos une e nos segue sem querer. Um coração desocupado é aquele que arruma as malas de madrugada e pela manhã está pronto para partir, ainda que saiba que qualquer batida de vento em seu rosto pode trazer o amor dilacerante outra vez. Mas enquanto ele é ele e nada ou ninguém mais, ele pode voar, sonhar sem doer com os dias que virão. Enquanto ele é só ele, o coração desocupado se embriaga de poesia, ainda que de brisa, experimenta o gosto do mundo que o amor jamais poderá oferecer, pelo menos para pessoas como eu. Pessoas como eu têm um daqueles amores desconfiados, meio de canto de olho. Não admitem que podem ser amadas, e encontram as mais loucas provas de que estão sempre certas, que a sua teoria é infalível e altamente palpável. Pessoas como eu, sentem-se felizes com seus corações desocupados, mais do que poderiam ser com quaisquer dos preenchimentos amorosos. Amores platônicos até nos caem bem, pelo menos por um tempo, diferente dos namoricos de portão, amizades coloridas, amores à primeira vista ou de verão. Pessoas como eu, que guardam a sete chaves corações como o meu, morrem de medo de enlaçar-se nesse emaranhado de emoções. Fazem-se de difíceis, bancam as duronas, mas, na verdade, apaixonam-se perdidamente todo dia, porque pessoas como eu, com corações como o meu, procuram sempre um sopro de vento que se compare a um coração desocupado, só que sem nada em comum...


(Texto bobo e antigo - mas que condiz com o momento - encontrado entre os arquivos)

3 comentários:

fabita . disse...

digno da capricho huahuahuahuahua!!

GICA | Gisele dos Santos | disse...

Muito bom e verdadeiro o texto, e digno da capricho mesmo.
Tu trabalha com o quê mesmo.

GICA | Gisele dos Santos | disse...

E amo a Valentina do Crepax!