foi bem ali, no meio daquela kitnet verde-musgo-rosa-antigo, que eu olhei pra ti, quando me ensinava a lidar com a câmera nova. nova também era a cidade e a revista, e tu, era meu guia, dentro e fora dos edifícios, das sessões de cinema, das noites da metrópole. a kitnet tinha apenas um colchão, canecas de café, um cinzeiro de vidro em cima da mesa ao lado do notebook, uma mala, livros empoeirados de jornalismo policial, astrologia e culinária de botequim, uma tv pequena, um dvd barato, quadros rusticamente pintados com cores primárias – que mais pareciam ter sido feitos por uma criança atormentada –, os quais não encontraram lugar nas molduras ou divisórias, e fotografias de trabalho nas paredes. e olhando para as fotos em preto & branco, já tão velhas, tu me dizia sorrindo: “se tu tira fotos desde a infância, não achas que já deveria ter aprendido?” e eu, com cara de “também acho”, lerda em tecnologias, sorri de volta pra tua boca, submersa naquela barba toda e pedi: “pra sempre?” e tu citava vinícius, em soneto de fidelidade: “que não seja imortal, posto que é chama. mas que seja infinito enquanto dure.” preocupado com reações, tu continuava de olho na máquina, desviando de quando em quando pra minha boca que então citava caio fernando: “deixa o vento soprar, let it be”. e tu cantou um trecho da música, me beijou e me desvendou, para o resto dos meus dias. ou até quando vinícius quiser.
Pesquisar este blog
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
até quando vinícius quiser
foi bem ali, no meio daquela kitnet verde-musgo-rosa-antigo, que eu olhei pra ti, quando me ensinava a lidar com a câmera nova. nova também era a cidade e a revista, e tu, era meu guia, dentro e fora dos edifícios, das sessões de cinema, das noites da metrópole. a kitnet tinha apenas um colchão, canecas de café, um cinzeiro de vidro em cima da mesa ao lado do notebook, uma mala, livros empoeirados de jornalismo policial, astrologia e culinária de botequim, uma tv pequena, um dvd barato, quadros rusticamente pintados com cores primárias – que mais pareciam ter sido feitos por uma criança atormentada –, os quais não encontraram lugar nas molduras ou divisórias, e fotografias de trabalho nas paredes. e olhando para as fotos em preto & branco, já tão velhas, tu me dizia sorrindo: “se tu tira fotos desde a infância, não achas que já deveria ter aprendido?” e eu, com cara de “também acho”, lerda em tecnologias, sorri de volta pra tua boca, submersa naquela barba toda e pedi: “pra sempre?” e tu citava vinícius, em soneto de fidelidade: “que não seja imortal, posto que é chama. mas que seja infinito enquanto dure.” preocupado com reações, tu continuava de olho na máquina, desviando de quando em quando pra minha boca que então citava caio fernando: “deixa o vento soprar, let it be”. e tu cantou um trecho da música, me beijou e me desvendou, para o resto dos meus dias. ou até quando vinícius quiser.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
São imagens, mesmo quando são palavras - apenas.
bom... muito bom... Simplicidade e complexidade. Beijos.
simples, suave, tocante, belo.
bj
Eu gosto do jeito como vc descreve os lugares e os acontecimentos. Vi a cena e a kitnet muito nítidas na minha frente enquanto lia.
"D
A propósito, EREH Floripa 2010. Na Páscoa. Vamo?
Besos!
Postar um comentário