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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

desalinho


gosto desse estado entre paixões

tão raro, tão calmo, tão tranqüilo...

a pele amarelada de sois

meu hotel de ilusões particular


gosto de aceitar as estações

as idades das coisas, os tempos, os climas

tempestades, relâmpagos, trovões

manhãs brandas, céu azul, chuva fina


gosto de enfrentar essa guerra

dos meus infernos & paraísos astrais

gosto do verde, do roxo-vivo, púrpura

das rosas-magentas, da ferida que não dói mais


gosto da essência das sementes, de regar botões

acariciar sua prole, prover seu pólen

me agrada a dança das águas

“nesse rio que corre em veias mansas dentro de mim”


gosto da madeira como elemento

das presenças que invadem a alma

do estado infantil do ser humano, não raso

do balanço da rede nas tardes de domingo


das formas barrocas, dos dedos de diva

do hortelã do teu crivo, gudang

fazendas floridas, estampas, desalinho

de todo esse vinho, do teu beijo de mil morfinas


dessa centelha de vida que me invade

desse festival divino à flor-da-pele

dos perfumes, dos risos, dos poemas

das cantigas de ninar, dos infantes


livre do que me dilacera

longe de ti, “minha grande, minha pequena obsessão”

já que da tua lembrança ficou o vapor

ecos & sombras de palavras que se foram


palavras não salvas, antigas

que de ti me faziam refém

mas de mim agora sou dona

pois me sinto minha e não mais tua


da minha boca, fruta vermelha

fica o gosto do que se foi

fruto fora de época, perfil de begônia

que não mais reinará no teu jardim