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sábado, 23 de agosto de 2008

uma noite de tango


ligo o rádio. ouço um velho tango. a madrugada é a melhor hora para se ligar estas engenhocas. estações estranhas, idiomas de outros. até agora, o velho pedro juan gutierrez fazia-me companhia. ele & suas trilogias sujas de havana. tomei uma xícara inteira de café em um só gole. assisti aos noticiários. porém, em minha cabeça, em meio a este teatro rubro, só se vê você estrelando louco. inferno. preciso dormir. perdida no caos deste 2 x 2, pensando no maldito emprego no jornal, enfureço-me. preciso mesmo dormir. ganho pouco, canso muito, mas ainda assim faço o que amo: escrevo, ouço histórias & vou a lugares inusitados. os dias jamais são iguais & ainda tenho as manhãs livres. no entanto nem as vejo. passo-as dormindo. às vezes, quando sinto um rastro de esperança na alma já falida, ponho-me a caminhar um pouco antes do sol nascer, desde que tenha cigarros ou algum dinheiro para comprar tal vício. companhia não-literária? quase nula nessa cidade. prefiro assim. trabalho demais, amo demais, morro demais. além do que... quase te amo & tu bem sabes ou ignoras, o que é mais provável. sendo assim, prefiro o silêncio. as bocas cansadas são mais sedutoras. além do mais, passo as tardes & parte das noites fazendo perguntas. nunca inverta os papéis, a não ser que queira ver-me sair pela primeira porta que vier pela frente & nunca mais aparecer. e agora as estações fundem-se. é tango & monólogo castelhano zumbizando no quarto de cores mexidas pelo ventilador de plástico. quem sabe o vento traga-me sonhos pueris que embalarão o meu sono tímido, covarde. ah, mas quando ele chega, é incisivo, imperativo, não quer mais partir. só desperto quando a cabeça, as costas & toda a carcaça já dói de excessos. e só consigo dormir quando permito-me delirar dentro desta veia compassiva que tenho, que faz-me pensar em horas doces ao teu lado, em algum lugar distante. e entre tangos cafonas, amores breves & cores de almodóvar, adormeço. é entre perfumes amadeirados & línguas inquietas que penso em ti, com toda a melancolia de um exilado, resultando inútil. e então sou olhar, faro, gosto, tato & alma de ti. e tu nem sabes ou não quer saber, o que é pior... desligo o rádio.

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