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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

minha vida, um filme (cover) do almodóvar



eis que um certo dia, um fato curioso tomou, a goles de doses cavalares, o cotidiano da doce prima de uma amiga minha (risos), vamos chamá-la de... virgínia. pois bem, virgínia era aficionada por uma banda de meados da década de 1960, desde os seus nublados treze anos, pseudo-drogados e improstituídos. ela costumava dizer que o vocalista era um poeta e não um mero símbolo sexual, que as suas músicas carregavam em si a própria imortalidade e tudo mais daquilo que fãs de verdade gostam de dizer. anos se passaram e virgínia não via estremecer tal devoção. há pouco tempo havia até mesmo tatuado um símbolo seguido de uma frase da dita cuja banda e conseguira finalmente ir a um show dos integrantes que haviam restado após a devastadora crise de overdose que tomara conta dos seus parceiros de geração. sobreviventes, porém, mortos-vivos, zumbis quase que esverdeados-musgo, mas ainda assim pessoas “heroínas”, amigos das antigas da tia louca mescalina, conhecidos do velho índio peyote, residente corajoso do deserto do méxico, sem contar do envolvimento com o restante da parentada, o primo mestiço, lúcio sacramento dolores, e punhados de meio-irmãos mal cheirosos nascidos em meio à erva-daninha. e é aí que começou a história trágica da nossa anti-heroína, lady virgínia. ela então conseguiu, depois de dez anos de espera e de insights profundos, dar o ar da graça em um show daquela banda ou do que restou dela (da moça ou da banda?) e, como companhia, não poderia deixar de convidar o caminhante terreno que mostrou pela primeira vez o que virgínia sentia ser a união mais-do-que-etérea entre quatro músicos, porém em solos azulados e via lácteos, liderada por um verdadeiro deus-cadente. sim, convidara pedro (o chamaremos assim em alusão ao sr. almodóvar), que apresentou a banda à ela dez anos antes, por meio de uma fita cassete pirata. virgínia fez o seu chamado, louca de vertigens, pois este era o maior acontecimento de sua quase toda provinciana vida, o evento máximo que um filho do velho oeste, embriagado pelas águas podres do rio uruguay, poderia desfrutar. pedro só não foi ao show, ainda que estava na cidade onde acontecia a tal apresentação, como preferiu ir a uma festinha na casa de um fabricante de fadas verdes. ah, nada mais justo, diriam os alcoólatras. mas isso não foi o bastante: agiu como um verdadeiro tirano. só sei que a partir da proeza, que já vou lhes contar, virgínia se pôs a divagar sobre a incapacidade dos seres humanos lidarem com aquilo que é bom, verdadeiro e intenso. seres humanos do gênero masculino, principalmente. buscou explicações em livros de psicanálise, no tarot, do egípcio ao de osho, runas, búzios, sonhos, borras de café, mães, amigos, vizinhos e cunhados. virou as tampas do universo para achar a tal resposta cafajesta que explicasse a peripécia do sacaninha e nada. só uma frase ecoando insana em sua cabeça doída (ou seria doida?): “minha vida é um filme do almodóvar”, lida provavelmente em um daqueles sites de relacionamentos através dos quais mantinha contato com o lado de fora. uma vida deveras pálida para ser obra de almodóvar, mas, ainda assim deveria mesmo ser obra do cara. dele ou de algum novelista qualquer que dedica a vida a tecer linhas melodramáticas que darão vazão televisiva ao lado mais caricato das sensações humanas, em tremedeiras de bocas, “o quês” ditos com alarde e closes bruscos nas faces pintadas de blush e pó-de-arroz. pedro henrique de la vega gutierrez monteferraz júnior, teve a audácia de ir sim a um show da banda, porém a um cover, ao lado de uma loira “made in taiwan”, munida de um par de seios “100% silicone”, olhos azuis-ciano “cuidado, frágil” e lábios vermelhos do tipo “não expôr ao sol”. seu nome era algo que se aproximava libidinosamente daqueles nomes de guerra, usados pelas meninas(os) da luz vermelha – perseguidas pelo velho etílico e zoneiro, charles bukowski –, como natasha patrícia ou shirley cristina, que no máximo conseguia dizer que o vocalista da banda, ao qual não sabia pronunciar o nome, era um gatinho. diante de tal fato, eu, como prima da amiga da amiga virgínia (mais risos), não pude lhe negar meu ombro literário e escrever este “artigo” beirando derradeiro a capricho, traçado em tons de apelo, para dizer à espécie humana máscula que nós, garotas de atitude, que conhecemos um “pouco” além das músicas para pegar menininhas de determinadas bandas, que falamos sem terceiras intenções do que vocês bonzões falam em termos de cinema, literatura, fotografia e outras artes, não somos do tipo que caberia na capa da playboy ou em um desses cartazes de cerveja, já que não apreciamos andar pelo mundo armadas de ferramentas photoshopinianas, na mente e nas mãos, para simplesmente lhes agradar os olhos, mas que nós, meus queridos, nós só mordemos mesmo quando a ocasião pede, de leve e com beijinhos. só que agora, se você não entendeu e prefere se borrar de medo atrás de um par de pernas de plástico, morra de tédio então! e aproveite bem enquanto a dona inércia, carregada de anos, não golpeia a socos e pontapés o corpo que hoje lhe é objeto de tara e esconderijo de auto-afirmações.

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