Desde pequenos, aprendemos a cultivar o amor à pátria. Mas, ao contrário do que possa pensar, o amor à pátria está além do amor dedicado a fulano ou sicrano, está além dos nomes do poder de qualquer época, está além no nacionalismo fanático e cego. A pátria não está nas mãos dos poderosos. A pátria é do povo e amá-la significa cultivar o apreço pelo lugar em que nascemos. Amar o lugar pelo que ele é; sua natureza, sua cultura, sua riqueza – que não pode ser medida em termos de capital, mas pela sua essência. Ontem, teve início a Semana da Pátria em Chapecó. “Brasil, meu Brasil brasileiro, / meu mulato inzoneiro / vou cantar-te nos meus versos”, diz a música de Ary Barroso, apresentada pela Escola Pedro Maciel na solenidade que despertou com Chapecó na praça central. Porém, pátria não é apenas o Brasil. Pátria é o mundo todo, pátria é sem fronteiras. Somos todos seres humanos nascidos em uma terra maravilhosa, repleta de mazelas, mas ainda assim belíssima. Em tempos de caos, amá-la pode ser realmente difícil, mas jamais será impossível. Como diria Sepé Tiarajú: “Está terra tem dono”. E, os donos, somos nós.
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Ah, o Jornalismo!
Um pequeno espaço de tempo, entre a redação do jornal e a padoca, em uma tarde fria e ensolarada. O espaço de tempo que dura um cigarro. Cinco minutos debaixo do meu chapéu estereotipado de jornaleira foram suficientes para esquentar as ideias, trazendo a certeza: nada como ser jornalista.
Acabo de sair de uma experiência traumática com assessoria de imprensa. Nada mais sem sentido e sufocante do que servir apenas a alguns reis, perdendo a liberdade de escolha, de criação, que o Jornalismo pode dar.
Além do café da padoca, a estrada. Ah, a estrada. Que saudades que eu tinha de pegar a estrada e ir atrás de uma pauta no meio do nada, no meio de um acontecimento único e registrá-lo através da arte da fotografia e da escrita literária.
Assessor de imprensa nenhum pode ter acesso ao sentimento de liberdade que um jornalista experimenta. Ah, o Jornalismo. Cinco horas diárias de uma terapia dignificante, que engrandece não só quem a pratica, mas quem dela se beneficia indiretamente.
Sim, os leitores sentem quando uma reportagem é escrita com o coração. Não há modo de fingir. É como fingir orgasmo. Sempre se percebe. Jornalismo, quando se dá adeus às fontes oficiais e esnobes, é a melhor profissão do mundo. Jornalismo, quando não se coloca rédeas, é uma experiência que vicia, que cansa, mas que fortalece.
Sim, os leitores sentem quando uma reportagem é escrita com o coração. Não há modo de fingir. É como fingir orgasmo. Sempre se percebe. Jornalismo, quando se dá adeus às fontes oficiais e esnobes, é a melhor profissão do mundo. Jornalismo, quando não se coloca rédeas, é uma experiência que vicia, que cansa, mas que fortalece.
Tenho pena de quem jamais encarou o horror de uma redação. Professores e assessores, tenho pena de vocês. Mais pena do que de mim, com suor na testa, calça rasgada no tintilar das pautas e tênis encardido e embarrado da lama que vocês jamais ousaram meter a cara!
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Depois das chamas, o recomeço
Para Gustavo Gonçalves Santana Santos
Ele foi o melhor dos anfitriões. Sorridente, simpático, sem sinais de tristeza ou revolta, estava Gustavo Gonçalves Santana Santos, de improviso na casa de uma tia, Cleonice, irmã de Zoleide Gonçalves, sua mãe. Ele perdeu mais do que Playstation e bicicleta no incêndio supostamente criminoso que aconteceu há poucos dias na Rua Zinéas, Loteamento Alta Floresta, Bairro Efapi. Gustavo, assim como a mãe, perdeu lembranças de uma vida, que agora está sendo, pouco a pouco, reconstruída.
Incêndio consome casa no Bairro Efapi
Há suspeitas de incêndio criminoso, praticado por pai de família
Uma casa de madeira, de aproximadamente 50 metros quadrados , localizada no Bairro Efapi, Rua Zinéas, Loteamento Alta Floresta, foi consumida pelo fogo. Nela, moravam dois adultos e uma criança.
Foram utilizados 8.000 litros de água para a extinção e rescaldo das chamas. O incêndio não causou vítimas e, segundo relatos de testemunhas e da moradora Zoleide Gonçalves, o incêndio pode ter sido criminoso, provocado pelo esposo após discussão.
Conforme o Corpo de Bombeiros, o menino que morava na casa estava inconsolado e pedia por seus brinquedos que estavam em seu quarto. A Guarnição que atuou na ocorrência ficou comovida e prometeu entregar brinquedos novos na terça-feira.
Os brinquedos novos chegaram na sexta-feira, mas os bombeiros não quiseram divulgar a entrega pois entenderam que isso seria auto-promoção. Mesmo assim, comovida com a história de Gustavo, parto para o Alta Floresta no entardecer de sexta-feira.
Gustavo mostra os novos brinquedos, guardados em um Fiat Uno azul metálico, estacionado em frente à casa a tia. Além do precioso bem Gustavo, o carro, entulhado de alguns pertences, é tudo o que Zoleide ainda possui.
“Se vingar? Se vingar para que? Para depois ter que pagar ele por bom?”, indaga Zoleide, falando do então ex-marido, padrasto de Gustavo, depois de ter encaminhado alguns moveis novos que ocuparão a casa alugada onde irão morar em breve, já que da casa anterior da família, também alugada, só sobraram cinzas.
“Quem pode ter arma é só polícia e bandido. Cidadão de bem não pode se defender”, comenta Valmir, cunhado de Zoleide, me oferecendo uma cuia de mate amargo. A esposa Cleonice acredita na recuperação da irmã, já que todas elas fazem parte de uma família de mulheres guerreiras. Nisso, outra irmã chega, ao lado do esposo, trazendo um cano para a nova pia de Zoleide.
- Onde estão seus pais, Zoleide?
- No andar de cima, responde com uma metáfora.
Aos 25 anos, saiu cedo de casa para viver sua própria vida. Trabalha em um grande frigorífico, cuja marca está estampada em sua camiseta. Valmir revela que o salário mal dará para pagar o aluguel de R$ 300 e arcar com as despesas básicas de Zoleide e Gustavo. Na escola, os colegas perguntam: “é mesmo verdade que sua casa pegou fogo?” e ele: “é, é verdade sim.” E o pior: por quem deveria zelar pela vida do menino que, por um deslize alcoólico, botou fim em uma vida construída com tanto esforço.
Mas, a família de mulheres guerreiras demonstra esperança no olhar. Aceitam tirar fotos para registrar esse momento de transição. Sabem que nada é por acaso e que deve haver uma força maior que atua silenciosamente no seu dia-a-dia sofrido e que, no final das contas, tudo ficará bem outra vez.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Elas ficaram no passado. Ou não?
Nostalgia e romantismo. É nesse cenário que as máquinas de escrever sobrevivem. Se outrora elas eram cobiçadas pela utilidade, hoje são cobiçadas pela paixão ao passado
Recentemente, a empresa indiana Godrej and Boyce encerrou as atividades em Mumbai, Índia. A imprensa divulgou que ela era a última fabricante de máquinas de escrever do mundo. Agora, as máquinas, que um dia foram objetos tão cobiçados pela utilidade e tecnologia, ficaram definitivamente no passado?
Não para Maria Zin, que trabalha no atendimento de em um antiquário de Chapecó. Ela diz que as máquinas de escrever se transformaram em objetos de fetiche, sobrevivendo através da nostalgia e do romantismo. Fetiche principalmente entre jovens. “Os jovens aderem às máquinas de escrever e outros objetos antigos para decoração de ambientes. Eles valorizam aquilo que os pais já esqueceram”, afirma Maria, acreditando que a máquina de escrever é um objeto atemporal.
Ela se sente “saindo da era dos dinossauros” quando se depara com um computador. Aos 46 anos, tem mais intimidade com a máquina de escrever do que com o computador. Quando tinha 16 fez curso de datilografia, pois, naquela época, não se entrava no mercado de trabalho sem apresentar o certificado do curso. E que diferença observa após 30 anos!
Adora objetos antigos. Tanto, que o emprego no antiquário surgiu dessa paixão. “O proprietário sabia desse meu apreço por objetos antigos e por isso me chamou para trabalhar aqui”, revela. Apesar de todas as novidades em computadores que surgem dia após dia, Maria entende que as máquinas de escrever ainda são úteis. E com uma vantagem: o preço baixo. Nesse antiquário, uma máquina de escrever custa em torno de R$ 100.
Objetos antigos contam histórias
Rodolfo Dalcin, 23 anos, é um apaixonado por objetos antigos, algo que herdou de sua mãe. Ele chegou ao antiquário e simplesmente ignorou a TV de plasma tela plana que estava em uma das mesas, já que gosta mesmo de máquinas de escrever, TVs, rádios e toca-discos antigos. “É diferente de comprar algo em uma loja comum. Os objetos antigos contam histórias. Os novos, não têm a mesma magia”.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Del Rey
Continuo, meio sem querer, seguindo a linha dos vocais femininos. Minha descoberta da semana foi Lana Del Rey. Há poucas informações sobre a moça por enquanto. Mas, o que se sabe que ela mistura elementos do jazz ao soul com influências do pop contemporâneo. Lançou recentemente um single chamado "Video Games", trazendo colagens de filmes antigos, celebridades, video-games, numa atmosfera fria, retrô e muito poética, segundo Fábio Borges, autor de um pequeno texto sobre Lana Del Rey (ou Lizzy Grant) no Retro Blog. Ainda não tirei nenhuma conclusão sobre a moça e aceito opiniões.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
ADOTE lança concurso cultural
“Dê um nome para o personagem da ADOTE” é a campanha nacional lançada pela Aliança Brasileira Pela Doação de Órgãos e Tecidos. As inscrições seguem até o dia 31 de agosto
A ADOTE (Aliança Brasileira Pela Doação de Órgãos e Tecidos) lança uma campanha nacional através da Nova Multicomunicação de Chapecó que traz o concurso cultural “Dê um nome para o personagem da ADOTE”. O 1º lugar ganha um Notebook Lenovo Think Pad T400 e o 2º e 3º lugar ganham menções honrosas. Para concorrer, basta participar. As inscrições estão abertas até 31 de agosto pelo site da ADOTE: http://www.adote.org.br/personagem-simbolo.
Nascida de uma história real, fundada em 20 de novembro de 1998 em Pelotas (RS), a ADOTE é uma organização não governamental, sem finalidade econômica. Sua missão é atuar no sentido de promover mudanças de atitudes e valores da Sociedade e Estado para preservar e melhorar a vida.
A fundação da ADOTE foi motivada pela experiência de uma família que perdeu um filho, Eduardo, 15 anos, na longa espera por um transplante cardíaco, além de uma sobrinha, Carolina, 16 anos, que após um acidente tornou-se potencial doadora de órgãos. A história de Carolina e Eduardo foi contada no livro “Esperando um Coração – Doação de Órgãos e Transplantes no Brasil”, lançado em 2000 pela Editora Universitária da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), cujos direitos pertencem à ADOTE. Segundo o autor, os personagens centrais do livro foram vítimas da inadequada estrutura de alocação de órgãos para transplante no Brasil.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
vocal feminino
hoje vou postar vídeos de duas bandas que conheci recentemente e curti. uma delas é heavens to betsy e a outra é heart. duas bandas com vocal feminino, mas bem diferentes na sua essência. espero que curtam também.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Fé(zes)
A minha vida inteira tenho notado que as pessoas que se dizem mais religiosas são, na verdade, as mais perversas. Apresentam traços fortes de egoísmo e de preconceito, criam amizades por interesse e possuem forte apego material. Acredito que a religião é usada como um recurso que lhes daria, erroneamente, a possibilidade de serem perversas, como se elas, ao se proclamarem religiosas, tivessem uma espécie de aval para tanto. Frases inacreditáveis são proferidas pelas bocas dos ditos apegados a deus, mostrando desrespeito às diferenças, desrespeito ao ser humano. Afinal, que deus é esse que se agarram? Jamais me disse religiosa. Por um longo tempo, me disse atéia, tamanho era o asco que sentia ao ver religiosos se achando superiores, a ponto de tratarem pessoas como eu como lixo. Superioridade? Quem pode se dizer superior em um mundo tão efêmero, em que todos nós estamos fadados à cova? As melhores pessoas que conheci não eram religiosas. As melhores pessoas que conheci não tinham grandes certezas. As melhores pessoas que conheci não pertenciam aos templos, aos reinos, à alta sociedade. Quantas mortes foram, são e ainda serão justificadas pela religião? Quantos mais serão massacrados por seguidores de uma suposta fé?
terça-feira, 26 de julho de 2011
para onde foge a vida?
para onde vão as pessoas quando morrem? depois de tanto falarem, as gargantas ficam simplesmente mudas. as mãos, que tocavam baquetas, escreviam à exaustão sobre amor e dor, já não se movem mais. para onde vai a energia, a vibração das gargantas e o calor das mãos? o universo do corpo se decompõe, fibra após fibra, célula após célula. mas para onde vai o desejo, o frio na barriga, as borboletas no estômago, o arrepio? para onde vai o perfume capturado no ar, todas as imagens de todos os anos vividos, os sabores inconfundíveis, das manhãs e bebedeiras, os sons fisgados no vento? para onde vai a vida quando o corpo morre? o coração, quando cansado de morrer de amores busca outras paisagens. mas para onde vai o coração cansado e suas batidas em compasso intermináveis? as vozes metamorfoseadas com o passar dos anos, os anos, a infância? para onde vai a infância quando o corpo morre? para onde vai a infância quando o corpo cresce? quando a palavra de ordem é mate ou morra, para onde foge a vida?
aos companheiros de geração mortos pelo vício.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
8ª Maravilha do Mundo
"...Não se conhece bem um homem que nunca deixou a barba crescer. Digo isto sem preconceitos, porque não mais pertenço a confraria dos barbados. Mas estou convencido de que se conhece mal um homem que nunca deixou irromper na floresta de seu rosto, o outro, o selvagem, o agente adormecido, o hirsuto... Há mulheres que, tendo conhecido a sabedoria erótica da barba nos lençois do dia, nunca mais se contentarão com a banalidade barbeada de outros amores... Indizível prazer é esse de confiar a barba. Inconsciente. Ritualisticamente. Enquanto se lê, enquanto se aguarda o outro dizer uma frase estúrdia, enquanto se toma um vinho ou se afaga o cão junto a lareira, e fechando, bem dizia Walmor Chagas outra noite num jantar quando se discutia a metafísica da barba: a barba é uma mascara como no teatro; é outro em nós, um modo de o personagem se experimentar em cena..."
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Os falsos meninos do rock
Nunca imaginei meus amigos do rock cantando e tocando sertanejo universitário. Acredito que meus amigos, que verdadeiramente curtem rock, os roqueiros de verdade, jamais fariam isso, nem se estivessem passando fome.
Do rock ao sertanejo universitário há um longo caminho, um caminho de disparidades ideológicas. Não é possível que alguém que se diga roqueiro mereça esse título se na primeira oportunidade se vende a um modismo comercial. Quem se vende, não ama o rock, não o tem como filosofia de vida, não o conhece, não o respeita. Quem se vende tem apenas o dinheiro como filosofia, o que é lamentável.
A música como mero comércio perde o sentido. É preciso haver amor pela música, não tratá-la como um objeto qualquer. A música é uma entidade que deve ser respeitada e o rock também o é. Se o rock não se revolta contra os que o desrespeitam, que se revoltem os roqueiros!
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quinta-feira, 14 de julho de 2011
“Meu coração brilha muito porque eu amo as pessoas”
Esta frase é da Valentina, minha sobrinha. A professora pediu para uma coleguinha da Valentina que parasse de brigar, pois o coração dela não iria mais brilhar, já que apenas os corações das pessoas boas são brilhantes, segundo ela. Então Valentina lançou esta: “Meu coração brilha muito porque eu amo as pessoas”. A professora chamou a mãe da Vavá e comentou o quanto a menina é inteligente e madura, detalhista, exigente com o seu desempenho na escola. Não sei se sou uma boa pessoa, mas meu coração brilhou neste momento. Mais do que me sentir uma tia orgulhosa, senti ainda mais forte o amor que tenho por ela. É tão forte que chega a doer. Amo tanto que nunca acho as demonstrações suficientes. O mesmo sinto pela minha mãe e pela minha irmã, mãe da Valentina. Entretanto, nunca falei aqui desses amores. Nunca sujei os seus nomes com a minha escrita desordeira. Jamais ousei manchar os seus nomes com café & cigarros. Nunca escrevi aqui que eu as amo. É um amor tão imenso, que não chega a ganhar as palavras. É como se as palavras jamais fossem suficientes. Mais do que isso: é como se não houvesse necessidade de alardear este amor, pois ele é expressado no cotidiano, na convivência. De qualquer forma, faço minhas as palavras de Valentina: Independente da bondade infantil que agora me falta, embora meu toque já não seja puro como o de uma criança que não precisa de muitas palavras para explicar o que sente, hoje meu coração brilha muito, porque eu amo, demais, as pessoas.
Matéria recente da qual fui fonte, escrita para o Jornalismo na Pauta - Jornalismo Unochapecó
LINGUAGEM
MUITO ALÉM DO LEAD
A escrita jornalística envolve elementos
próprios para repassar a informação
Lydiana Rossetti
Concordância, coesão, sintaxe, acentuação, ponto, parágrafo. Regras do bom Português que regem a maneira de qualquer brasileiro escrever. Para os jornalistas, além dessas, há aquelas criadas exclusivamente para esses profissionais. A linguagem jornalística não é restrita apenas nas respostas de : quem, quando, onde, como e porquê.
O jornalista não escreve apenas, ele conta uma história. Por isso sua linguagem deve ser o mais clara possível, para que o receptor da mensagem entenda a informação que se pretende passar.
Para a jornalista Fabiane de Carli Tedesco, que atua na empresa Nova Comunicação, a linguagem do jornalista não precisa ser tão séria e tão chata. Ela acredita que é possível escrever uma matéria pequena, responder o lead e escrever de forma diferente, sem cometer o famoso nariz de cera. “ Dá para ser objetivo e principalmente intenso”, afirma Fabiane.
Via de regra, o texto jornalístico tem que ser objetivo, imparcial, claro, além de respeitar as normas da Língua Portuguesa. A forma de escrever “jornalismo” aprendido hoje nas universidades é o mesmo que o de ontem. Possui, por exemplo, as mesmas referências bibliográficas, de autores como Nilson Lage e Juarez Bahia.
A coordenadora e professora do curso de Jornalismo da Unochapecó, Mariângela Torrescasana, acredita que a forma de escrever no jornalismo de anos atrás comparado com o de hoje, não mudou. O que mudou foram as ferramentas utilizadas para escrever, a forma de redigí-lo talvez tenha mudado, com a inserção de novos vocábulos decorrentes da presença da tecnologia nos meios. “A linguagem básica; o valor notícia; relação com fontes; objetividade; clareza; nitidez continuam valendo independente do meio”, observa Mariângela.
A nova maneira de escrever
A partir da década de 1960 nasce na imprensa um estilo de escrever chamado “Novo Jornalismo”. No Brasil este estilo foi muito usado nas revistas Realidade e O Cruzeiro. Trata-se de uma linguagem mais próxima da literatura, em que o texto é passado de uma forma menos “séria”, em que envolve mais o leitor. Mariângela relembra da época de faculdade em que nas noticias diárias os professores não permitiam escrever de forma literária ou contextualizar o fato. Simplesmente falava o que tinha que ser dito e pronto, apenas nas reportagens a linguagem podia ser diferenciada.
Tanto ela quanto a professora da disciplina de Técnicas de Reportagem da Unochapecó, Angélica Lüersen, acreditam que hoje existe uma abertura maior do uso da linguagem literária nos veículos. A jornalista Fabiane pode comprovar isso, quando trabalhou por algum tempo no jornal Voz do Oeste, de Chapecó, onde teve a oportunidade de colocar o jornalismo literário, que tanto ama, em matérias diárias, corriqueiras.
Para estas jornalistas, o jornalismo e a literatura são parentes próximos. Mariângela afirma que um jornalista que lê, escreve muito melhor. O vocabulário é mais abrangente e consegue “fisgar” o leitor como num livro. Portanto, não é só os meios que começaram a aceitar a escrita diferenciada no jornalismo diário, mas o próprio público. “ Quando leio um texto literário me sinto abraçada. Parece que ele me pega pela mão e me leva junto”, conta Angélica.
Transcrever a informação
Estar rodeados por tecnologias e sem poder perder tempo, virou rotina, não só para os jornalistas. Para o radialista, Edson Florão, hoje em dia “se paga o preço da velocidade”, pelos profissionais se acomodarem na busca pela notícia se tornam meros porta-voz da informação. Também prejudica, segundo ele, a linguagem, que fica menos embasada e mais superficial.
Angélica também acredita que a linguagem jornalística não sofreu alterações no decorrer dos anos, mas a forma de construir o texto, faz com que haja diferentes formas de narrar um mesmo fato. E a construção é a escolha da técnica utilizada para apresentar a informação ao leitor. Isto deriva muitos dos meios. Para a internet é uma técnica, para o impresso, rádio e TV são outras.
De acordo com Mariângela e Edson, só existe uma boa matéria, independente do estilo, técnica ou veículo utilizado, se houver uma boa apuração dos fatos, vivência com as fontes, e um texto que repasse informação de forma clara e objetiva.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
SUPER-NORMAL
O Rivotril é a droga com a cara dos dias de hoje, em que temos sempre que estar bem
Texto por Nina Lemos
Fotos Nicolas Silberfaden
Texto por Nina Lemos
Fotos Nicolas Silberfaden
O Rivotril é a droga com a cara dos dias de hoje, em que todos temos que estar bem o tempo todo. Segundo remédio mais vendido do Brasil, na frente do Tylenol e do Hypoglós, o ansiolítico tarja preta virou moda e atraiu usuários famosos como Selton Mello, Pedro Bial e Zeca Pagodinho
Sim, você já deve ter ouvido falar do Rivotril. Você já deve até conhecer aquela piada, que de tão batida já perdeu a graça, que diz: “Ri melhor quem Rivotril”. Você já deve ter escutado alguém falar que toma o remédio. E também já deve ter lido em algum site de fofocas o nome da droga associado a alguma celebridade. O Rivotril, um ansiolítico indicado para transtornos de ansiedade, bipolaridade e alguns casos de depressão, é, segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Hospital das Clínicas, o remédio da moda. E é fácil perceber isso. Os números mostram. E o hype em cima do medicamento também. O quê? Você acha que remédio não é tendência? Mas claro que é! O fenômeno Rivotril prova isso.
O medicamento, de tão badalado, já foi parar até nos palcos. Ao receber ano passado um prêmio de melhor artista do ano, o ator Selton Mello declarou, diante de um auditório lotado: “Gostaria de agradecer a todos os presentes, à indústria farmacológica e de psicanálise e ao Pramil e ao Rivotril, que fazem a gente ficar assim, bem”. Mais do que cair no clichê de agradecer aos familiares, Selton agradeceu a uma outra espécie de mãe de muitos brasileiros. Em 2008, foram vendidas nas farmácias do país 14 milhões de caixinhas do ansiolítico, que parece servir para quase tudo, de uma tristezazinha a uma noite sem sono. O mais absurdo: o Rivotril é um remédio tarja preta, vendido com aquela receita azul, controlado. O motivo é simples e assustador. Ele causa dependência química, assim como a cocaína e a heroína.
Se você está chocado, não fique. Tudo bem, pode ser que você nunca tenha tomado um Rivotril para domir, segurar um ataque de ansiedade, pegar um avião ou amortecer um pé na bunda. Mas tenha certeza de uma coisa: o colega que senta do seu lado no trabalho já tomou. Ou a sua namorada. Ou vai dizer que a sua mãe não tem uma caixinha na mesa de cabeceira? O remédio está perto de você simplesmente por uma questão matemática. Ele é o segundo medicamento mais vendido no Brasil, só perde para o anticoncepcional Microvlar. E ganha de comprimidos que a gente encontra ao alcance da mão, nas prateleiras das drogarias, como o Tylenol e a Aspirina.
Além de vender muito, o Rivo é cult. Existe banda chamada Rivotril, programas de rádio, blogs, e o remédio tem mais de 900 fãs no Facebook (a comunidade virtual do momento). No mundo dos famosos, bem, Selton não está sozinho nessas. Pedro Bial é outro que contou em uma entrevista à Playboy fazer uso do Rivo (o apelido carinhoso adotado pelos usuários da droga) antes de fazer seus discursos ao vivo no Big Brother. O cantor Zeca Pagodinho também afirmou, em entrevista concedida à Tpm ano passado, que quando está melancólico toma Rivotril.
Gotinhas o dia todo
Mas por que tomamos tanto Rivotril? A editora de moda Erika Palomino, que anda com um frasco do remédio em gotas na bolsa, arrisca alguns palpites. “A vida é muito difícil. Eu sou muito guerreira, trabalho muito e sou perfeccionista. E tem horas em que realmente não dá. É tanta pressão que você sofre que precisa de um cobertorzinho, como se fosse aquela fraldinha a que o bebê dorme agarrado, às vezes você precisa de um conforto.” Erika se esforça para tomar o remédio o mínimo possível. “Sei que vicia e que eu sou compulsiva. Então, meu principal cuidado é esse, não cair nessa de tomar todo dia.” Mas, quando toma, a editora não se culpa. “Sou a favor das drogas lícitas, as que a gente compra na farmácia. E quando tomo é porque sei que preciso. Tem vezes que você não consegue dormir de jeito nenhum de tanta ansiedade, mas no dia seguinte tem que acordar para uma reunião em que terá de estar linda e inteligente. A vida às vezes é dura”, diz a editora, que se trata com um psiquiatra.
A escritora Adriana Falcão é outra que anda sempre com o seu Rivotril por perto. E que também sofre de ansiedade. Ao contrário de Erika, ela prefere os comprimidos. “Não acredito em gotas, acabo achando que é tipo um floral e vou tomando várias gotinhas o dia inteiro achando que não tá fazendo efeito”, diz a escritora, famosa, entre outras coisas, por saber rir de si mesma o tempo inteiro.
“Na primeira vez que tomei Rivotril fiquei até assustada. Eu estava com um início de depressão pós-parto, completamente fóbica, não conseguia sair de casa nem para tirar os pontos da cirurgia. Meu médico me mandou tomar metade de um Rivotril. Eu ainda fiquei desconfiando dele, pensando, “ah, tá, imagina se isso vai fazer efeito”. Mas aconteceu um milagre: eu morava em Salvador. O táxi foi passando pela orla e eu fui vendo tudo ficar lindo, maravilhoso.
Hoje, depressão curada. Adriana recorre ao Rivotril para se sentir “adequada ao mundo”. “Não tem gente que de vez em quando precisa encher a cara? Então, é a mesma coisa.” A escritora é ansiosa diagnosticada e acha que o mundo anda, mesmo, muito complicado. “A gente tem medo de muita coisa, de ser julgada, de ter acontecido alguma coisa com a filha que não chegou da balada, de não ser aceita, de ter que estar sempre bem.”
A mãe da escritora, também ansiosa, morreu por tomar medicamentos demais. “Entendo muito de calmante porque a minha mãe tomava todos. Antes era uma coisa meio chique tomar um Valium. Agora, nunca vi um tão popular quanto o Rivotril. A minha empregada toma, de vez em quando pergunta: “Adriana, você tem um Rivotril para me arrumar?”.
O remédio é mesmo popular. Um dos motivos é o preço. Um frasco ou uma caixa com 20 comprimidos custa cerca de R$ 10, enquanto antidepressivos de ponta podem custar até R$ 300. O Rivotril é vendido em gotas e em comprimidos, que variam de 0,50 mg a 2 mg. Existe também uma versão sublingual, de 0,25 mg, indicada para ataques de pânico ou ansiedade.
“O Rivotril é barato porque é um medicamento antigo. Começou sendo usado como antiepilético e depois as outras funções foram sendo descobertas. Quanto mais tempo um medicamento está no mercado, mais barato ele fica”, diz Saadeh, que acha que a popularidade do Rivotril tem os dias contados. “O Lexotan já esteve muito na moda. E daqui a pouco a indústria lança outro medicamento que desbanca o Rivotril”, diz o médico, que acredita que o consumo exagerado do medicamento acontece por causa da tal obrigação de ser feliz, tão comum aos nossos tempos. “As pessoas acham que precisam ter tudo. O novo iPad, a nova roupa de grife, precisam ser descoladas, conhecer o novo DJ e também precisam ser felizes. A felicidade entra nesse pacote de obrigações.”
O relações públicas Renato Rossoni é um que está sempre ligado em tudo. “Sou assim desde criança.” Consequência: não consegue dormir e por isso apela (e como) para os remédios. “Nunca fui a um psiquiatra e nunca tomei remédio com prescrição médica.” Mesmo assim, Rossoni consegue todos os tarjas pretas que quer. “Existem umas farmácias que vendem sem receita. Chego e compro Rivotril, Frontal [um outro ansiolítico], Stilnox [hipnótico indicado para insônia e ansiedade severas]... Compro para mim e também para amigos.”
Rossoni começou tomando meio Rivotril para dormir. Mas levou um susto quando percebeu que só conseguia dormir depois de tomar dois de 2 mg (uma dose muito alta, que equivale a oito comprimidos da versão de 0,50 do remédio). O remédio, segundo Saadeh, causa tolerância. “Quanto mais você toma, mais precisa de uma dosagem mais alta para ter o efeito.” Rossoni decidiu resolver o problema sozinho. “Aí eu segui a dica de um amigo e troquei de remédio. Passei a tomar Frontal.” A troca foi feita sem supervisão médica. Hoje, ele alterna entre os dois medicamentos e também toma um Stilnox de vez em quando.
“Acho que o mundo sem drogas não existiria, ou pelo menos a gente não existiria”, ele ri. O relações públicas convive em um meio onde falar que toma um desses remédios não é tabu. “Todo mundo toma. E por quê? Estou sempre pensando no ontem, no hoje e no amanhã, tudo ao mesmo tempo.”
Vale lembrar de novo. O Rivotril é indicado por psiquiatras para, por exemplo, síndrome do pânico, mas, como está escrito na bula, ele deve ser tomado sob prescrição médica (de um doutor de confiança) porque o abuso desse remédio pode gerar dependência.
O publicitário Ricardo (nome fictício) que o diga. “Quando eu tinha 20 e poucos anos, fui diagnosticado com ansiedade e depressão. Um médico me receitou doses altíssimas de Rivotril. Hoje, acho que ele me viciou para que eu voltasse sempre para pegar o remédio e pagar a consulta, que era cara.” Ricardo conta que tomava sempre comprimidos de 2 mg (a dosagem mais forte). “Eu pedia para ele me dar comprimidos de 0,50 e ele se recusava, dizia que não ia adiantar.” Um dia Ricardo cansou e decidiu parar de tomar o remédio. Sozinho. “Fiquei trancado no meu quarto por duas semanas tremendo. Parecia que eu tava tomando um choque elétrico. Fui parar duas vezes no pronto socorro, passando mal. Larguei e curei a dependência química. Mas sobrou a psicológica, que curei com terapia. Hoje Ricardo ainda usa o remédio, esporadicamente. “Tomo muito raramente, mas é só um e pronto. Depois vou fazer ginástica e outras coisas.” E como ele consegue o remédio se não vai mais ao psiquiatra?. “Meus amigos me dão. Sempre tem alguém com um sobrando. E, em último caso, apelo para uma amiga que compra de um traficante que vende no Orkut.”
Sim, nas inúmeras comunidades que existem no Orkut dedicadas ao remédio, há vários usuários oferecendo venda do remédio. É só trocar uns e-mails para combinar o pagamento e a entrega.
Mesmo quem toma vê problemas no abuso. “Tomo de vez em quando, de forma recreativa, em casa de amigos. Se aparece, eu falo “ah, me dá umas gotas”, é como fumar um baseado”, diz o videomaker Felipe Dallanese, que, no entanto, evita tomar o remédio quando está mal. “As pessoas acham que a vida é uma montanha-russa só com subida. Não concordo. Hoje sei que você tem que ficar mal também. E conseguir as coisas pelo esforço, não por milagre.”
A metáfora da montanha-russa combina com a teoria do especialista Alexandre Saadeh. “O ser humano nunca gostou de sofrer, nunca gostou de sentir dor. Agora, parece que gostamos disso menos ainda, principalmente porque temos mais aparatos para evitar a dor.”
Faz sentido. Mas vale lembrar, de novo, tem gente que precisa tomar Rivotril. “Quando bem receitado ele é um remédio ótimo”, diz o psiquiatra. O difícil mesmo é ele ser bem receitado. Ou, pelo jeito, ser comprado com receita de um médico que acompanhe o seu histórico. E não pelo Orkut.
Trip 187 Reportagens
Tópico: Corpo
Assuntos:Comportamento
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Esperando as seis
Coloco os meus fones de ouvido e me ponho a sonhar. Há tempos tornei-me quieta, ainda mais após o casamento. Parei de me auto-afirmar, entende? Parei. Noto que a escrita tem como matéria-prima a dor e a dor já não me acompanha. A não ser a física. Ando a pé, debaixo de chuva e no meio de uma paisagem branca. Então imagine. Meu estado físico está deplorável. Inícios são sempre penosos. Estou ouvindo Carla Bruni, não me pergunte o motivo. Tá. Tão calma, tão fácil, tão leve, tão ela. E o inverno está sendo, por outro lado, um bálsamo. Um bálsamo dormir e acordar ao lado dele. Ah, mas levantar. Levantar tem sido uma cruz. Quero ficar, me revolto contra o sistema, desejo trabalhar pro Bill Gates, uma loucura. No mais, há muito não experimento a solidão. Só o silêncio. O silêncio, sim, quando estou longe dele. E quando perto, são aqueles sorrisos soltos, aqueles planos malucos, aquela vontade de ficar. E aí me lanço às mensagens instantâneas – me lanço mesmo, oras. Duvido da humanidade dos que não sentem um aperto no peito quando distantes de seus amores e, quando sentem, não buscam desafogar este aperto. E desconfio da humanidade dos que chegam no horário marcado nos dias frios! Mas, acima de tudo, duvido da minha existência quando longe de ti. Parece que só existo quando estou contigo, naquele espaço de tempo que tenho teu amor como poema concreto. No mais, sou só mais uma na multidão esperando as seis, correndo feito criança para os teus braços, buscar o calor que faz de mim, vida – tua vida.
Para Fábio.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
A resposta
Estou pensando se dou uma resposta para uma criatura infame que lançou uma frase infeliz sobre mim. Infeliz e desinformada, diga-se de passagem. Engraçado como algumas pessoas sentem um tipo de ira tão grande diante da existência, que não conseguem curtir as próprias vidas, viver com pouco, com simplicidade e amor e invejam os que conseguem. Tenho pena de quem acha que vai encontrar a tal felicidade em um pedaço de lata ou em um corpo simétrico; tenho dó dos interesseiros de plantão, dos falsos, dos resumidos, dos atrofiados. Alguém diga para essas criaturas que se o carro bater, ainda haverá felicidade; e se o corpo mudar, também. Alguém diga para estas criaturas que a matéria é efêmera, pois elas, acreditem: AINDA não sabem.
terça-feira, 21 de junho de 2011
minha descoberta
minha descoberta de hoje foi nick drake. calmo, outonal, melancólico, ótimo para dias frios e de chuva.
recomendo.
ouça aqui
recomendo.
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terça-feira, 7 de junho de 2011
|dispersas|
lugares, pessoas & histórias
do meu mundo
Exposição fotográfica de
Fabiane De Carli Tedesco
|fotógrafa e jornalista|
são lugares, pessoas & histórias que trazem a solidão, própria de um café antigo & decadente...
a solidão de uma rua deserta, de uma alma esquecida...
a solidão de uma varanda de sobrado,
a solidão dos pés que descansam...
a multidão de carros nos estacionamentos, capengas, procurando espaço na roda da vida...
e a multidão dos seres do ar que procuram na terra o conforto.
uma multidão que contrasta com a solidão das janelas...
e com a multidão das ruas, que apesar de cheias, são vazias de atenção.
a multidão de seres da mesma raça que se perdem na massa dos homens...
raças que ganham os muros e a eternidade...
as raças que foram cercadas de grades, os pés que ainda ganham o chão, as madeixas que ainda não conhecem a prisão...
as rodas que conduzem a um universo paralelo,
em meio ao bairro mais pobre da cidade...
a simplicidade do doce que ainda encanta em meio à marcha antiquada de sete de setembro...
a fruta madura vendida sem protocolo, ali,
onde as tardes passam sem as neuroses modernas.
luz & sombra em um momento único de fuga,
quando a autoridade
dos adultos já não rege mais.
da sinergia dos olhares negros pegos de surpresa...
ao sorriso inocente & puro com ares dourados.
seres que abandonam as formalidades e ganham autonomia...
semblantes sem ambição,
semblantes sem pretensão...
que se transformam, que se vestem de peles primitivas...
e bocas que jamais falaram e ouvidos que jamais ouviram,
mas que guardam muito mais do que possa julgar o mundo.
“porque se carrega a minha semente, há de ser o meu mundo”.
Fábio Silva
sexta-feira, 3 de junho de 2011
o charme está no enlace
"o charme está no enlace. pão com manteiga (sempre na chapa), nevoeiro, preguiça, sonhos, mar aberto."
quarta-feira, 1 de junho de 2011
E no coração de Manhattan...
Um pedacinho de Chapecó através das obras de Rachel Kleinubing, Marta Spagnol e Silvana Annes
No coração de Manhattan, um pedacinho de Chapecó. Seria possível? Através das obras de três artistas chapecoenses, isto será, sim, possível. A partir do dia 27 de maio, obras de Rachel Kleinubing, Marta Spagnol e Silvana Annes serão expostas em Nova York, disponíveis até o dia 6 de junho.
O convite para as artistas veio através da marchand Mirian Soprana, a partir do contato com o artista plástico Rene Nascimento, que é um dos artistas representados pela Galeria Casa+Arte na região e reside em Nova York. Rene é um dos curadores da BEA Art Galery e integrante da entidade Brazilian Endowment for the Arts, palco da exposição. As três artistas chapecoenses encaminharam seus trabalhos, currículos e websites para a seleção em NY e foram selecionadas, junto com outros sete artistas brasileiros e americanos, para integrar a exposição intitulada BRASILUSA.
Mirian, Silvana e Marta foram à Nova York para acompanhar de perto a realização de um sonho.
Rachel Kleinubing
Em agosto do ano passado, a jornalista e fotógrafa Rachel Kleinubing fazia sua primeira exposição na Casa + Arte com as fotos tiradas no canyon Guartelá; em abril desse ano, seu destino foi São Paulo, onde também expôs as formas naturais que pediam para serem fotografadas com um toque de sensibilidade, bem representada pelo corpo feminino de rosto oculto que preencheu as curvas do canyon com nudez. Agora, Manhattan é a moldura para suas obras em preto e branco, dividindo espaço com os tecidos de infância de Marta e as curvas precisas de Silvana.
Marta Spagnol
A arte de Marta Spagnol carrega aspectos da cultura popular brasileira. A artista buscou a histórica e a trajetória da chita, a sua chegada no Brasil, como se desenvolveu e adquiriu característica própria. Com imagens fragmentadas e gestos de sua infância, o processo criativo representa para ela uma intensificação do viver, onde este viver se solidifica no fazer, dando um sentido primordial e necessário ao ato da criação. “O tecido de chita é parte fundamental da minha obra”, diz Marta.
Silvana Annes
Silvana Annes rabisca, pinta e fotografa. É arquiteta por formação, mas amante da arte por prazer. Ela sempre gostou de desenhar. Ama a pesquisa e a análise. “A criação é um exercício permanente em minha vida”, conta. Trabalha tanto a abstração quanto a figuração, buscando a fusão das cores, habitadas por lembranças enriquecidas por um presente forte em sensações. “Há segredos e poesias neste universo que é a mente do artista. E é isso que quero retratar com a minha arte.”
A BEA
A BEA é uma organização sem fins lucrativos que cumpre sua função por meio da promoção de conferências, palestras, congressos, exposições de arte, aulas de português, recitais de música, mostra de filmes, lançamentos de livros e eventos literários.
Inaugurada em 4 de dezembro de 2006 pela União Brasileira dos Escritores de New York (Ubeny), a BEA também sedia a Biblioteca Machado de Assis, primeira e única Biblioteca Brasileira em New York, que possui atualmente acervo de mais de quatro mil títulos. Os livros são frutos de doações da Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, instituições privadas e colaborações individuais.
Já recebeu a visita de acadêmicos como Nelson Pereira dos Santos, Nelida Piñon, José Sarney, Ana Maria Machado, Marcos Vilaça e Luiz Carlos Lisboa, além do cartunista Maurício de Souza e diversos outros escritores.
Conheça a Biblioteca Brasileira em New York: www.brazilianendowment.org
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Doutor silva
Silva não tem doutorado, não empina o nariz, nem usa caixa alta. Dizem que a estrela dele não brilha, porque haja estrela para tanto silva. Silva não tem identidade, não tem referência de elite, entende só do salário que não vem no fim do mês e de risada solta quando bota a carne no fogo. Silva não fala bonito, não escreve bonito, não solta verbos desconhecidos. Silva não ouve bossa nova. Silva não tem primeiro nome, não ganha emprego de gente, não casa com madame. Silva nasceu no morro e para chegar em casa, só mesmo com fé em deus. Silva tem dons que ninguém parou para descobrir. Silva tem humor que ninguém parou para ouvir. Silva tem tom e ritmo que produtor nenhum desvendou. Silva tem sorriso de orelha a orelha, não conhece o ar blasé dos afortunados. Silva aprendeu na rua a manha, a mentira e a conquista. Ninguém ensinou silva, nem escola, nem pai, nem mãe. Da vida, aprendeu só o soco no estômago e o impacto na calçada que deixa traumas. No morro, nem saneamento básico, nem teto pra inibir o solão indecente. A poeira é a constelação de silva, aquele que a estrela não brilha. Do jeito que nasceu há de morrer, prematuro, sem colo. Silva nasceu pra ser mais um. Silva não ganha diploma. Silva não ganha gracejo de gente fina. Silva sonha só para se manter vivo. E quando a noite vem, o ponto luminoso é receptáculo de pedidos que nunca vêm. Mas, nas mãos cravadas de calos, ainda carrega o diploma imaginário com apenas duas palavras: paciência e persistência. Diploma que não se ganha em faculdade nenhuma, a não ser na academia freqüentada por silva, onde nenhum outro pode entrar sem bater.
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