Silva não tem doutorado, não empina o nariz, nem usa caixa alta. Dizem que a estrela dele não brilha, porque haja estrela para tanto silva. Silva não tem identidade, não tem referência de elite, entende só do salário que não vem no fim do mês e de risada solta quando bota a carne no fogo. Silva não fala bonito, não escreve bonito, não solta verbos desconhecidos. Silva não ouve bossa nova. Silva não tem primeiro nome, não ganha emprego de gente, não casa com madame. Silva nasceu no morro e para chegar em casa, só mesmo com fé em deus. Silva tem dons que ninguém parou para descobrir. Silva tem humor que ninguém parou para ouvir. Silva tem tom e ritmo que produtor nenhum desvendou. Silva tem sorriso de orelha a orelha, não conhece o ar blasé dos afortunados. Silva aprendeu na rua a manha, a mentira e a conquista. Ninguém ensinou silva, nem escola, nem pai, nem mãe. Da vida, aprendeu só o soco no estômago e o impacto na calçada que deixa traumas. No morro, nem saneamento básico, nem teto pra inibir o solão indecente. A poeira é a constelação de silva, aquele que a estrela não brilha. Do jeito que nasceu há de morrer, prematuro, sem colo. Silva nasceu pra ser mais um. Silva não ganha diploma. Silva não ganha gracejo de gente fina. Silva sonha só para se manter vivo. E quando a noite vem, o ponto luminoso é receptáculo de pedidos que nunca vêm. Mas, nas mãos cravadas de calos, ainda carrega o diploma imaginário com apenas duas palavras: paciência e persistência. Diploma que não se ganha em faculdade nenhuma, a não ser na academia freqüentada por silva, onde nenhum outro pode entrar sem bater.
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