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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mordidas leves & suspirantes

Este é um texto de agradecimento. Mas não um simples texto de agradecimento. Tenho elaborado ele mentalmente há alguns dias, mas não havia encontrado o tempo certo, as palavras certas. Há pouco mais de 15 dias, eu tinha uma ideia: ir embora, para qualquer lugar. Porto Alegre, São Paulo, ouvir somente a mim, o meu coração. Por mais consciência que eu tivesse, ela não era forte o suficiente para me fazer entender que não era o lugar, era eu.
Bem, eis que há 15 dias apareceu uma daquelas propostas irrecusáveis e eu resolvi ficar por aqui por mais um tempo. Só sei que, pela manhã, quando acordava para pegar o ônibus verde que para apressado na minha esquina, em meio aquela leve neblina de início de outono, eu pensava: “Meu deus, como esta rua é linda. A Jardim Europa é a rua mais linda da cidade.” E então, quando eu parava numa certa altura da Nereu, até chegar à Barão do Rio Branco, no Edifício Porto (ironia), eu pensava: “Não há lugar melhor do que este.”
Todas as ruas pelas quais eu passava, não eram mais as mesmas, os lugares não eram os mesmos, porque eu não era mais a mesma. Ao chegar nos restaurantes já conhecidos ou não, naqueles minutos que dividem a manhã da tarde, eles não eram mais os mesmos; e ao voltar para casa, já cansada, porém feliz, às 18h, eu pensava: “Essa é a casa mais linda da cidade. Um paraíso. E as pessoas que moram aqui, pequenos paraísos, presentes de Deus.”
Alguns dias se passaram e as surpresas continuaram, como um eterno feriado com pitadas de confeitos. Ele surgiu. Sabe ele? Aquele cara que a gente espera por anos e anos e, que de repente, quando a gente resolve amar a si mesma e ponto final, ele aparece? Eu estava muito feliz sozinha com os meus dias preguiçosos. Eu estava muito feliz, mesmo. Mas então ele surgiu e deu ares ainda mais surreais para aquela paisagem toda. Daquele tipo que liga, daquele tipo que se importa. Peça rara que encontrei por acaso, caso o acaso existisse.
Sabe aquela vontade de congelar o tempo? É isso que eu queria poder fazer nestes instantes. Congelar o tempo para não minar os dias com a minha desconfiança, com a minha tristeza crônica. São cicatrizes de um longo período de sofrimento, que me viciaram, pior do que chocolate, cafeína ou tabaco. Bem, eu não tenho um destes aparelhos-congeladores-de-tempo-ou-de-humor. Mas, sabe? Se eu morresse hoje, morreria feliz por ter sentido estes instantes preciosos da alma para fora.
Não sei se foram as rezas da minha mãe, que queimou tantas velas nos últimos dias, ou o que. Pode ter sido, já que as mães são seres de milagres, afinal elas provem a vida, com a ajuda de algum serzão que está em tudo. Não sei se é chamada Lei do Retorno, algum merecimento, algum sonho daqueles que você demora para acordar. Seja o que for, esta dita felicidade é mesmo um tanto doce. Não doce daquele que enjoa; doce daquele jeito, no ponto certo, que dá vontade de experimentar mais um pouquinho, com mordidas leves e suspirantes.

Fabita .
14/04/2011

4 comentários:

Anna Blume disse...

Que texto lindo, que texto de verdade. Que texto que fala - de uma maneira um pouco diferente - coisas que se identificam também com o que tenho vivido ultimamente. Amei.

E essa frase: Alguns dias se passaram e as surpresas continuaram, como um eterno feriado com pitadas de confeitos.

Sim, vontade de congelar o tempo. Eu entendo.

Saulo Popov Zambiasi disse...

Legal, guria! Felicidades... Ganbate kudasai ne! 頑張ってくださいね

Renata Oliveira disse...

Já falei da minha admiração por ti, tens uma fiel seguidora !

Não sei tb se é divino ou o que, essa vontade de sempre mais, mas um mais que não satisfaz, que precisa sempre estar ali. Show show show aqui !
Abração - fabita ;D

Rachel Kleinubing disse...

Que bom fazer parte desse momento de luz!