One for the Shoeshine Man
Se você me vir sorrindo
No meu fusca azul
Caçando uma luz vermelha
Guiando direto pro Sol
Estarei preso nas
Garras de uma
Vida louca.
Charles Bukowski em “Vida e
Loucuras de um Velho Safado”
Se você me vir sorrindo
No meu fusca azul
Caçando uma luz vermelha
Guiando direto pro Sol
Estarei preso nas
Garras de uma
Vida louca.
Charles Bukowski em “Vida e
Loucuras de um Velho Safado”
O que aconteceu nos anos seguintes resume a má fama que Domingos tem no Barro Preto e na cidade. A opinião dos moradores, que ainda aventuram-se a suportar o marasmo desses locais, é de que sua esposa, Amábile, era uma santa mulher, obrigada a agüentar as investidas do esposo, bebedeiras intermináveis e traições.
Os dias de Domingos seguiam uma rotina de bares & mulheres, em tempos em que era comum o meretrício ser o negócio da família, atividade praticada sem o cumprimento das burocracias existentes atualmente. Havia casas construídas em locais conhecidos como zonas de prostituição e outras não. Com sua carroça, seu Município saia vender especiarias como frutas – uva, maçã e caqui –, legumes e geléias variadas e, na sua rota, estavam incluídas as casas de meretrício, localizadas na Zona Azul ou na Zona Velha, onde hoje é o Bairro São Pedro de Xanxerê. A filha Loemí lembra de um episódio que causou certo alvoroço. Conta-se que Domingos fora vender os produtos com o filho mais novo, Antônio Carlos (Chico), e que, na frente dele, seu Município mostrou acentuada intimidade com as moças. Vestida em um tubinho, modelo típico da década de 1960, uma das moças fora despida de uma só vez pelas mãos hábeis do velho, acostumado a lidar com fechos & pernocas de fora. “É, ele gostava mesmo da fruta”, lança Loemí.
Nessa época, mais fotógrafos faziam parte da cena, como um senhor conhecido pelo seu sobrenome, Muscoff, um dos nomes do chamado Grupo dos Onze da cidade – grupo de indivíduos tidos como presos políticos durante a Ditadura Militar, na Revolução de 1964.
Os dias de Domingos seguiam uma rotina de bares & mulheres, em tempos em que era comum o meretrício ser o negócio da família, atividade praticada sem o cumprimento das burocracias existentes atualmente. Havia casas construídas em locais conhecidos como zonas de prostituição e outras não. Com sua carroça, seu Município saia vender especiarias como frutas – uva, maçã e caqui –, legumes e geléias variadas e, na sua rota, estavam incluídas as casas de meretrício, localizadas na Zona Azul ou na Zona Velha, onde hoje é o Bairro São Pedro de Xanxerê. A filha Loemí lembra de um episódio que causou certo alvoroço. Conta-se que Domingos fora vender os produtos com o filho mais novo, Antônio Carlos (Chico), e que, na frente dele, seu Município mostrou acentuada intimidade com as moças. Vestida em um tubinho, modelo típico da década de 1960, uma das moças fora despida de uma só vez pelas mãos hábeis do velho, acostumado a lidar com fechos & pernocas de fora. “É, ele gostava mesmo da fruta”, lança Loemí.
Nessa época, mais fotógrafos faziam parte da cena, como um senhor conhecido pelo seu sobrenome, Muscoff, um dos nomes do chamado Grupo dos Onze da cidade – grupo de indivíduos tidos como presos políticos durante a Ditadura Militar, na Revolução de 1964.
Em casa, o assunto já era diferente: o menor sinal de esmalte nas unhas das filhas era entendido por ele como vulgaridade. Assim, o moralismo aflorava violentamente, e Domingos obrigava as meninas a retirar o esmalte com Gilette, na falta de acetona. No final da década de 1960, começo da década de 1970, os filhos foram fazer suas vidas em cidades próximas, como Chapecó e Xaxim. Doente, com câncer generalizado, a mulher Amábile também o deixara, para tratar de sua doença.
Além da carroça pela qual Domingos era facilmente reconhecido, nos anos 70 ele possuía um Fusca azul-calcinha, usado também nas suas peregrinações dionisíacas. Outras casas de meretrício ficavam no Bairro Nossa Senhora de Fátima, vulgo Bairro da Gruta. Uma delas era a casa das famosas Schneider, lugar em que mãe e as filhas serviam os marmanjos de plantão com seus dotes femininos. “Elas eram as bonecas daquele tempo”, diz o empresário Érico Antônio Giordani, cuja família possuía, entre outros bens, o Açougue Giordani, uma vez que o matadouro dos animais ficava no Bairro da Gruta.
Encontrado em uma tarde quente de fim de março nos fundos de sua imobiliária, instalada debaixo do City Hotel, no centro da cidade, Érico jogava cartas quando cheguei, com seu companheiro de jogatina, Nicolau Rodrigues da Costa. Com o quadro da Casa Giordani ao fundo – maior armazém de secos & molhados da cidade, dos anos dourados, onde a família morava no andar de cima –, pintado pelo artista plástico Oswaldo Sette a partir de uma fotografia; óculos baixo e bom manejo das cartas, Érico e seu amigo, também proprietário de açougue, contaram-me o que sabiam sobre meu avô, e outros fatos interessantes a respeito da cidade. Deixando com certo apego as cartas de lado, eles lembram que antigamente os costumes eram outros: os mais novos não opinavam ou sequer falavam tranquilamente com os mais velhos; os homens eram os líderes absolutos dos lares; e matar e morrer era simples como nascer. Todos armados, com pistolas enfiadas nas cintas, os homens do Velho Oeste catarinense do século XX faziam a sua própria lei, bem explicada num dito popular: “Escreveu e não leu, o pau comeu”.
Nicolau conta que em um bar, que ficava próximo ao Barro Preto, havia homens que tinham costumes hilários, demonstrando a sua imensa vontade de dizer-se machos e abonados. Alguns deles barbarizavam mesmo: se estivessem afim, rasgavam gaitas ao meio com seus facões ou apagavam o lampião com um só tiro, pagando com gosto em seguida pelos estragos. Uma época também lembrada pelo novo visitante do recinto, Filisbino Ferronatto, enquanto remexia no baralho, que pouco falou, pois queria era se atirar logo na jogatina.
No caminho para Faxinal dos Guedes, na Linha Invernada Grande, há uma vila de meretrício, que perdura há várias décadas. Lá, as antigas casas de madeira, pintadas com tintas de tons vibrantes – descascadas pelo efeito dos anos –, com suas luzes coloridas e seus porões usados como bodega, abrigam levas de boêmios, que tocam gaita, bebem cerveja e fumam cigarros “marca-diabo”, enquanto buscam pelo prazer barato das moças (ou não tão moças assim), rusticamente instaladas nos casebres-boate.
Além da carroça pela qual Domingos era facilmente reconhecido, nos anos 70 ele possuía um Fusca azul-calcinha, usado também nas suas peregrinações dionisíacas. Outras casas de meretrício ficavam no Bairro Nossa Senhora de Fátima, vulgo Bairro da Gruta. Uma delas era a casa das famosas Schneider, lugar em que mãe e as filhas serviam os marmanjos de plantão com seus dotes femininos. “Elas eram as bonecas daquele tempo”, diz o empresário Érico Antônio Giordani, cuja família possuía, entre outros bens, o Açougue Giordani, uma vez que o matadouro dos animais ficava no Bairro da Gruta.
Encontrado em uma tarde quente de fim de março nos fundos de sua imobiliária, instalada debaixo do City Hotel, no centro da cidade, Érico jogava cartas quando cheguei, com seu companheiro de jogatina, Nicolau Rodrigues da Costa. Com o quadro da Casa Giordani ao fundo – maior armazém de secos & molhados da cidade, dos anos dourados, onde a família morava no andar de cima –, pintado pelo artista plástico Oswaldo Sette a partir de uma fotografia; óculos baixo e bom manejo das cartas, Érico e seu amigo, também proprietário de açougue, contaram-me o que sabiam sobre meu avô, e outros fatos interessantes a respeito da cidade. Deixando com certo apego as cartas de lado, eles lembram que antigamente os costumes eram outros: os mais novos não opinavam ou sequer falavam tranquilamente com os mais velhos; os homens eram os líderes absolutos dos lares; e matar e morrer era simples como nascer. Todos armados, com pistolas enfiadas nas cintas, os homens do Velho Oeste catarinense do século XX faziam a sua própria lei, bem explicada num dito popular: “Escreveu e não leu, o pau comeu”.
Nicolau conta que em um bar, que ficava próximo ao Barro Preto, havia homens que tinham costumes hilários, demonstrando a sua imensa vontade de dizer-se machos e abonados. Alguns deles barbarizavam mesmo: se estivessem afim, rasgavam gaitas ao meio com seus facões ou apagavam o lampião com um só tiro, pagando com gosto em seguida pelos estragos. Uma época também lembrada pelo novo visitante do recinto, Filisbino Ferronatto, enquanto remexia no baralho, que pouco falou, pois queria era se atirar logo na jogatina.
No caminho para Faxinal dos Guedes, na Linha Invernada Grande, há uma vila de meretrício, que perdura há várias décadas. Lá, as antigas casas de madeira, pintadas com tintas de tons vibrantes – descascadas pelo efeito dos anos –, com suas luzes coloridas e seus porões usados como bodega, abrigam levas de boêmios, que tocam gaita, bebem cerveja e fumam cigarros “marca-diabo”, enquanto buscam pelo prazer barato das moças (ou não tão moças assim), rusticamente instaladas nos casebres-boate.
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